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terça-feira, 25 de novembro de 2008

O TEMPO

Confesso que somente agora comecei a me preocupar com o “tempo”. Tive uma infância pobre, porém divertida, uma juventude também pobre da mesma forma divertida, ou seja, ao meu modo me diverti. Tive um bom emprego, cheio de aventuras e sonhos sem nunca me preocupar com o fator tempo. Fiz muitas viagens, conheci novas culturas, formei uma família, sempre sem me preocupar com o tempo. Há não ser o tempo que faltava para me aposentar e poder aproveitar melhor o tempo.
Em fim chegou aquele dia sonhado. Alguém te bate nas costas e diz: _ Muito bem. Podes descansar agora, chegou o grande dia. Cruzei um portão com o mesmo formato do Arco do Triunfo guarnecido por dois imponentes Fuzileiros Navais que me prestavam continência pela última vez, tentei não olhar para trás. Foi a partir dali, que comecei pensar no tempo. Aquele portão monumental e belo era bem velho, tinha uma história a contar, porém pelo menos nos últimos 31 anos eu fazia parte dela. Chegara com 18 anos de idade, a cabeça cheia de sonhos e um corpo cheio de energias, jurei defender minha Pátria com o sacrifício da própria vida, e nesse momento, lembro que os dedos ficaram roxos de tanto apertar a coronha de um fuzil, sinal que não estava blefando. Saia agora sem tanta certeza.
Agora sem navios, sem capacete ou fuzil, teria que trilhar uma nova estrada, e como antes falava na vida militar, por conseguinte agora uma nova vida. Tentar esquecer o oceano e suas vagas, enfrentar as tempestades em terra firme, sendo meu próprio Almirante, a frente de um exército de um homem só.. Pensei que seria fácil, agora sem tanta responsabilidade, sem tantos chefes e sem ser chefe de nada e com todos os oceanos a minha disposição. Porém surgia a minha frente uma batalha terrível: o Tempo. Agora que tinha tempo de sobra, teria tempo também para pensar no tempo.
Descobri que a única coisa que tinha era tempo, porém não descobri como fazer para preencher meu tempo, a energia da chegada, ficara para trás no dia em que cruzei pela última vez aquele portal do qual me orgulhara de cruzar em outra época, e no final de cada dia de ócio, uma noite cheia de pesadelos, todos voltados para o interior daquele portão que antes significava felicidade, talvez.
Outro dia, conheci uma moça. Ela se aproximou de mim, começamos uma conversa, e no final ela pegou meu telefone e colocou o numero do dela, disse-me que me ligaria para marcarmos uma nova entrevista, sempre me tratando por você. Novamente esqueci do tempo e fiquei novamente empolgado como naquele dia em que não sentia os dedos segurando meu fuzil. Encontramos-nos mais algumas vezes, tivemos conversas de adolescentes, ela na dela e eu simplesmente ridiculamente esquecido do tempo, até que em uma noite em que me sentia realmente no paraíso, pois aquela menina também demonstrava que não se preocupava com o tempo. Jantávamos e conversávamos esquecidos de quase tudo, quando de repente surge um amigo meu e pergunta se ela é minha neta.
Essa moça tem minha idade ao contrário, ela tem 16 anos. Por que não prestei a devida atenção ao tempo, se assim tivesse feito, não sentiria o que senti naquela noite. O mesmo que estivesse perdidamente apaixonada por ela, e de repente parada em uma esquina de grande movimento, ela pegasse a minha mão e dissesse: _ Vamos, vou ajudá-lo a atravessar, pode vir que dá tempo. E bem no meio da avenida, eu parar e dizer: Vá você, vá viver viva cada momento como se fosse o último, o tempo é muito importante, pena que só descobri isto tardiamente, vá está perdendo seu tempo. O sinal está verde novamente. Uma hora ficará vermelho, e não muda mais, não esqueça. Pra você ainda há tempo.

1 comentário:

Anónimo disse...

O TEMPO...

É O TEMPO QUE TUDO CURA E TUDO CORRÓI!

FIQUEI EMOCIONADA COM ESTE TEXTO...
TROUXE EM MIM UMA REFLEXÃO SOBRE O QUE É REALMENTE VELHO E NOVO...

CONHEÇO PESSOAS VELHAS AOS 16 ANOS. E NOVINHAS AOS 80...

UM ABRAÇO, POETA!