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sábado, 31 de outubro de 2009

Meus Mortos.
J. Norinaldo.

Os meus mortos serão noites de insônia,
São meus dias já passados sem sorrisos,
São meus medos, meus segredos minhas cismas,
São as flores que murcharam em meus altares,
Serão culpas que carrego como fardos...
Os espinhos que me ferem como dardos.

Os meus mortos não necessitam de flores,
Se a saudade é verdadeira dói em mim,
Que lhe neguei um poema ainda em vida,
Agora trago uma guirlanda de jasmim.
Na certeza de que ali ninguém se encontra,
Pois se estivesse iria ri muito de mim.

Ora! Quem diria meu querido poeta,
São para mim estas flores perfumadas?
E que belo poema que exalta a amizade,
Mas não combinam com a pobreza desta casa,
Flores tão lindas e poema deste alcance...
Ao relento sobre a cruz de uma cova rasa.




Fuga.
J. Norinaldo.

Eu tenho medo de amar e de sofrer,
E assim vou vivendo sem amar,
Ou amando sem coragem de dizer,
Ou dizendo que amar não vale a pena;
Difamando a quem amo por prazer,
O que torna minha alma tão pequena.

Minha fuga tem um nome é covardia,
Que irradia uma áurea de terror,
Tênue ponte que constrói a hipocrisia,
Sobre o rio caudaloso do amor,
Na sublime cordilheira montanhosa,
Caprichosa coberta de verde e flor.

Se o meu medo não pesasse como pesa,
Se tão frágil não fosse a minha esperança,
Que se esgarça como nuvem de fumaça,
Cruzaria a ponte da hipocrisia facilmente,
Quando passa a esperança o amor passa...
Mas cai da ponte e se afoga finalmente.





quinta-feira, 29 de outubro de 2009


O Velho da Estação.
J. Norinaldo.

Estou sozinho na plataforma da estação,
Eu e a solidão que há muito vive aqui,
O velho sino sem badalo e sem corda,
Já não acorda os passageiros a dormir,
Sei que o trem não chegará nunca mais,
Mas a loucura não me deixa desistir.

Às vezes ouço o apito lá na curva,
No velho banco corroído por cupim,
Vejo nos trilhos a ferrugem do desprezo,
Mas um dia o meu amor volta pra mim,
Não foi hoje poderá ser amanhã...
Volto pra casa pra regar o seu jardim.

Toda primavera colho as rosas,
Numa guirlanda pra levar a estação,
E o velho banco lá está a minha espera,
Ainda lembro a manhã que partiste,
No beijo quente nessa mesma plataforma...
Hoje uma ruína que abriga outra tapera.

O velho banco, o velho louco a velha gare,
O velho sonho de um amor hoje em sucata,
Já não me importa se o trem chegar ou não,
Mas ninguém pode me tirar essa emoção,
O velho sino, o velho trem o velho louco...
Que pouco a pouco morre com a estação.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Alquimia do Amor.
J. Norinaldo.

O amor é o balsamo da vida,
O poeta o terapeuta do amor,
A poesia é a luz na noite escura,
O calor que aquece o inverno frio,
O linimento para aquele que tem dor.

Assim visto ser poeta é ser feliz,
Alquimista que manipula a razão,
Seduz o amor com a sua alquimia,
No mesmo forno ilusão e fantasia,
A grande obra, no entanto é o coração.

Ninguém nasce feliz ou sofredor,
O amor nasceu pra todos como o sol,
No amor não existe distinção,
O amor é uma fonte gratuita,
Viver á sombra é uma livre opção.

Não busco o amor sim ser amor,
Inesgotável fonte do prazer,
Tento ensinar o que sei de alquimia,
Com os elementos da minha poesia...
O amor é pronto e ninguém pode fazer.







segunda-feira, 26 de outubro de 2009


A Mão.
J. Norinaldo.

As mãos que lapidam e moldam no bronze,
Que plantam as flores e pintam paisagens,
Que ceifam o trigo pra fazer o pão,
Que seguram a pena e escrevem mensagens,
Que acenam com o lenço na despedida,
Que afagam e açoitam com um látego um irmão.

A mão que aponta com o dedo um destino,
A mão estendida a pedir uma esmola,
A mão que aponta o pecado do irmão,
A mão com a cimitarra um ser vivo degola,
A mão que puxa na corda do sino...
Não é mesma erguida a celebrar o sermão.

A mão com destreza nos laboratórios,
Criando os meios de destruir a vida,
A mão que espalha no chão o rastilho,
A mão que atenta contra a humanidade,
É a mão que assina a sentença de morte,
Outra mão está pronta a apertar o gatilho.

A mão que tem calos da lida bruta,
A mão que labuta pra ganhar o pão,
Não aperta a mão sedosa e macia,
Tem menos valor sua calosidade,
Que a suavidade da mão de um ladrão,
É a mão da mentira e a mão da verdade.






sábado, 24 de outubro de 2009


A Água, o Pão e O Sino.
J. Norinaldo.

Depois do trigo colhido,
O pão sobre a mesa,
A terra esquecida,
Depois da sede saciada,
O que não serve pra nada,
Nos rio jogados água poluída.

Depois da criança nascida,
A dor do parto esquecida,
Esquecem a canção de ninar.
Em vez de afeto poupança,
Hoje o amor de criança,
Faz criança a brincar.

Deus só não foi esquecido,
Por que é vendido na feira no altar,
Seus títulos nenhum outro bate,
Assim como a Páscoa é lembrada,
Como a festa da criançada,
A procura de ovos de chocolate.

A cruz de infortúnio e suplício,
Símbolo do maior sacrifício,
Hoje é cunhada em ouro fino.
Que repousa nos seios da moda,
O trigo ceifado e a vida na poda...
A cruz é de ouro e de barro é o sino.



sexta-feira, 23 de outubro de 2009


Ciúmes do Vento.
J. Norinaldo.

Escrevi um lindo poema na areia,
Achei que o vento por ciúmes apagou,
Não escrevi poesia a tempestade,
Que na verdade deve ser o seu amor,
Quando te encontrei declamastes a poesia...
O vento apenas decorou e te levou.

Caminhavas a beira mar pensando em mim,
E as ondas mansas em teus pés a marulhar,
Quando a brisa desmanchou os teus cabelos,
Como querendo chamar tua atenção,
E começastes a ouvir com suavidade,
Os acordes de uma bela canção.

Decorastes a poesia por inteira,
Que escrevi para ti no além mar,
Sinto vergonha de escrever novamente,
Tenho medo de cometer uma heresia,
Uma injustiça ao pensar que o vento...
Não tenha dito que era minha a poesia.





quinta-feira, 22 de outubro de 2009



O Couro e o Velho.
J. Norinaldo.

A espera que o couro esteja curtido,
A mancha da morte no chão estendida,
O velho sentado com a faca afiada,
Com o cenho franzido a pele enrugada,
As cores da vida a faca devasta,
E o velho se arrasta na sua jornada.

Assim que o couro estiver bem curtido,
Será convertido em cordas e laços,
Que prenderão couros ainda com vida,
Mas que um dia estarão no chão estendidos,
E a faca do velho os fazendo em pedaços,
E a pele do velho cada vez mais curtida.

Até que chega o dia e o velho é o couro,
E apele do velho já está muito enrugada,
Não serve pra laços que prendem a vida,
Talvez esquecida ao ser enterrada,
Não será espichada no chão e curtida,
O couro de um velho não serve pra nada.

O couro e o velho, o velho e a vida,
E o couro velho do velho na vida a curtir,
A faca afiada o laço a corda comprida,
No pescoço do velho a corda de couro,
Quem com couro fere com couro é ferido...
E quem só curte couro jamais curte a vida.




terça-feira, 20 de outubro de 2009


Parabéns a Todos os Poetas.
J. Norinaldo

O poeta debocha da dor, de espinhos faz flor,
De lágrimas lagos de cisnes encantados.
O poeta brinca com a nostalgia,
E em pleno dia ver a lua prateada,
E em noites cinzentas de inverno...
O poeta ilumina com a poesia.

Que Deus o Poeta Maior sincopado de grande,
Proteja os poetas do mundo com o manto divino,
Que assine por nós cada verso com o sinete sagrado,
Os poemas escritos no bronze que são para sempre,
Que os poetas não sejam esquecidos mesmo calados,
Que a vida seja um poema, e os poetas imortalizados.

Parabéns a todos poetas, na verdade todos poetas somos,
Alguns usam a pena e a mão, a alma e o coração,
Alguns que nem tem a mão, mas tem inspiração,
Ser poeta é amar e viver é sorrir e querer nada mais,
Poesia, é somente alegria é ver Deus numa flor...
A vida nada mais é... que um poema de amor.


A Criação.
J. Norinaldo.


Enquanto o beijo louco e proibido,
Provoca arrepios de desejos,
O grito represado na garganta,
Concita a explosão do gozo lento,
Enquanto a carne é viva o leite quente,
Da montanha desce a neve com o vento.

Num ritual animal sem regras ou dialeto,
Como num brinde canibal sem preconceito,
Corpos se comem e se bebem por inteiro,
Onde o amor e o afeto geram o feto perfeito,
Sem sofismas sem sombra nem sentimento...
E sem arestas pra aparar depois de feito.

Outra semente que germina e frutifica,
Que justifica o continuar do amor,
Mais um elo na corrente do universo,
Uma estrofe ao poema mais perfeito,
Rima do mais venturoso verso...
A imagem do poeta maior, o Criador.

Deus da Guerra.
J. Norinaldo.

Ornamenta-se o altar de sacrifícios,
Glorifica-se novamente o deus da guerra,
Procurei nos alfarrábios o deus da paz,
Encontrei a paz de Deus, mas não na terra,
O homem cria conflitos nas poéticas estrelas,
Cinge de louro o atirador que nunca erra.

Destrói aquilo que o Pai fez com perfeição,
Choque de idéias entre criador e criatura,
Será que Deus não se arrepende de ter feito,
Do homem seu projeto mais perfeito,
Mas que se acha um deus em miniatura?
Que destrói tudo pra refazer a seu jeito.

Marte o poderoso deus da guerra,
Éolo deus dos ventos Afrodite do amor,
Onde está o deus da paz que o homem não criou?
E esqueceu a paz de Deus que Jesus nos ensinou,
E o altar do deus da guerra continua a enfeitar...
Pra mostrar que é deus aqui, e que o Pai se enganou.

O homem fez o deus da guerra poderoso,
E representa a paz com um frágil passarinho,
Impedido de proliferar em abundancia no mundo,
Pois já não tem nem onde construir seu ninho,
E ganância vai destruindo o que nos resta...
E a pomba cata restos no desprezo mais profundo.


segunda-feira, 19 de outubro de 2009


Meu Cajado.
J. Norinaldo.

Meu cajado conhece bem meus segredos,
Está sempre ao meu lado em seu silencio,
Não procuro as razões do seu mutismo,
Já que não interfere em meus caminhos,
Não me mostra que a estrada tem espinhos,
Se preciso irá comigo para o abismo.

Não me queixo do silencio do cajado,
Tão calado a escutar os meus lamentos,
O que importa é que está sempre por perto,
No passado quando andei tão ereto,
Tinha sempre muitos ouvintes ao meu lado...
Agora sou um pastor sem ovelhas no deserto.

Minha fortuna já não me serve para nada,
A não ser dar-me um novo cajado de ouro,
Mas não as forças para suportar seu peso;
Com a riqueza construí muitas muralhas,
Para agora ver que só tenho migalhas...
No labirinto que construí estou preso.

Plantei árvores escrevi e criei filhos,
Fiz tudo àquilo que haviam me ensinado,
Pelos filhos que criei fui esquecido,
E tudo que escrevi foi apagado,
Das árvores que plantei me resta a sombra...
Delas também o único amigo, o meu cajado.

domingo, 18 de outubro de 2009


Eu, e o Louco de Gibran.
J. Norinaldo.

Minha casca minha máscara,
Não me deixa sentir o sol da manhã,
Minha mágoa é por tão pouco,
Pena que não sou tão louco,
Como o louco de Gibran.

Tendo as máscaras roubadas,
Sentiu o calor do sol na face
E chamou de bendito os ladrões
E agradece com ternura,
Ao louvar sua loucura...
Ah! Esse louco de Gibran.

Por que não me roubam
Essa máscara maldita,
E essa dor tão infinita,
Dessa filosofia vã?
De sonhar em ser tão louco...
Como o louco de Gibran.



Resignação
J. Norinaldo.

Meus serões, minhas vigílias,
Minhas sombras meus medos,
Minha angústia meus temores,
Meus tumores, meus segredos,
Meus devaneios minhas cismas,
Meus abalos meus tremores.

Minha força minha asseveração,
Minha resignação na primavera sem flores,
Meus caminhos ao futuro desenhados no presente,
Os caminhos apagados onde caminhei no passado,
Os retratos amarelados relembram grandes amores,
E não falta de sorrisos o timbre vivo das dores.

Meus sonos, meus pesadelos, meu cansaço,
E as perguntas que faço decerto se perdem ao vento,
Meus serões, minhas vigílias, tantas noites sem dormir,
Já contei todas estrelas que existem no firmamento,
Ah! Como desejo novamente abrir os lábios e sorrir...
Estes não hão de servir somente, pra gemer de sofrimento.

Nos caminhos do futuro além das minhas pegadas,
Deixo as marcas de um cajado que me ajuda a caminhar,
Magra sombra que me segue e persegue a minha sombra,
Que assombra o meu ser com o final da existência,
Como a cruz que alguém carrega por alguma penitencia...
Como se em cada curva a morte esteja a me esperar.



sábado, 17 de outubro de 2009


Canção do Suicida.
J. Norinaldo.

Caí sozinho na poeira da estrada,
Tentei me erguer, mas foi em vão,
Como um verme, preferi me enterrar,
Talvez sirva para adubar uma flor,
Que enfeite uma santa num andor...
Que seja vista em alguma procissão.

Caminhei resignado pela estrada,
Cabisbaixo na certeza do ser nada,
Tendo sempre a solidão por companheira,
Restou-me uma miúda centelha de orgulho,
Em escolher uma cruz num pedregulho...
Ao ver os germes me consumindo na poeira.

Passei pela vida sem ser visto,
Vi apenas as sombras na caverna,
Espreitei de longe a felicidade,
Percebi que só sua busca é eterna,
Assim como as mentiras que aprendi...
No labirinto em busca da verdade.

Busquei uma luz no fim do túnel
E encontrei o brilho da escuridão
Tropecei em tantas pedras no caminho
Curei sempre as minhas chagas sozinho
Nunca encontrei que me estendesse a mão
Agora é tarde pra me oferecer carinho.




Tristeza.
J. Norinaldo.

Ouço a voz do vento e da chuva,
Sei o quanto é belo navegar,
Sinto o frescor da primavera,
Tenta-me a beleza de um olhar,
Encanta-me as cores do arco íris,
Magoa-me não saber amar.

Amar a voz do vento e da chuva,
Sentir amor pelo belo azul do mar,
Ficar feliz quando chega a primavera,
Com tantas flores e não ter a quem ofertar;
Olhar sozinho a beleza do arco íris...
Sem ter ao lado alguém a quem mostrar.

Escrever e recitar belos poemas de amor,
Tendo que esconder a dor por sob um véu,
Ter o inverno por estação preferida,
Quando escondidas ficam as estrelas no céu,
Ou ao findar um poema que acha lindo,
Comemorar com uma taça de fel.

Como fugir desse suplício infindável?
A alma insiste o poeta tem que escrever,
Só a certeza de fazer alguém feliz,
Serve de alento a quem só sabe sofrer.
Cada poema que escrevo em silencio...
É a tristeza quem assina com prazer.


sexta-feira, 16 de outubro de 2009


Perguntas.
J. Norinaldo.

Procuro nos sonhos respostas diversas,
Dúvidas dispersas que minha alma intriga,
Como uma cantiga em que falta um verso,
Como se no universo faltasse um pedaço,
Um fio ou um laço que a vida me liga.

A minha metade já sei é você com certeza,
Pois nos encaixamos como a mão e a luva,
O nosso amor é como o vento e a chuva,
O vinho e a uva a manteiga e o pão.
Como os bois de carro, porta e a maçaneta,
Como a caneta o papel e a mão.

Por que se existe tanto amor na terra,
Então por que a guerra e a destruição?
Por que tenho tanto e construo castelos,
E outros sequer têm um pedaço de pão?
Se o sol não distingue os que nascem belos;
De quem é vitimado pela discriminação?

Em sonhos talvez não encontre a verdade,
A resposta por certo está dentro de nós,
Pois somos o templo habitado por Deus,
Só o que precisamos é ouvir sua voz.
Seguir o caminho por ele indicado...
E jamais nesta vida estaremos sós.




A Flor do Amor.
J. Norinaldo.

Como um pequeno molusco indefeso,
Que se contrai por instinto perante o predador,
Como o primeiro contato entre a espada e a vitima,
A flor que escolhe entre milhões a semente,
E atrai para dentro si a seiva do amor.

Na sublime alquimia da criação da vida,
Em que um colibri deixa prenhe uma flor,
Num simples cortejo com seu voejar,
Num beijo inocente pra se alimentar...
Tão simples e tão belo, assim é o amor.

Ou numa libélula frágil transparente,
Que parece retalho de um sonho de amantes,
Também é fruto de um ato de amor,
Sentimento não raro como os diamantes,
Pena que não compreendido... Cause tanta dor.



quinta-feira, 15 de outubro de 2009


Minha Despedida.
J. Norinaldo.

Recolho-me novamente ao meu casulo,
Postulei a liberdade e consegui,
Tentei mostrar-me ao mundo como sou,
Trilhando os caminhos dos normais,
Um palhaço sem lonas nem pinturas...
Entre as multidões mais me escondi.

Volta ao reino das idéias e do silencio,
Quem a escola do mundo reprovou,
Quem escreveu seus poemas na areia,
E só o vento os leu os declamou,
Alguém que desejava ser amado...
E aprendeu que precisa ser amor.

Obrigado ao vento e a onda mansa,
Que beijaram meus poemas na areia,
Mesmo aqueles que os pisaram,
Delirantes de amor na lua cheia,
Quem sabe um dia um velho marinheiro...
Escute algum no canto de uma sereia.



quarta-feira, 14 de outubro de 2009


Amor em Botão.
J. Norinaldo.

Nem o doce que emana do pólen da flor,
Ou os ternos sussurros de amantes a sós,
A brisa suave que noites nos traz,
A estrela mais linda que brilha no céu,
Compara-se ao amor que existe entre nós.

Tu és a canção do meu doce acalanto,
És a bruxa bondosa do meu sonho encantado,
Quando as pétalas de rosas do teu caldeirão,
Sob minhas cobertas a timidez deflorava,
Em sonhos nascentes do amor em botão.

Mesmo agora a rosa já desabrochada,
Cingida por tufos de ervas daninha,
E minha timidez seja apenas lembrança,
Nosso amor agora não é mais criança,
E o grito acordado pelo prazer de ser minha.






terça-feira, 13 de outubro de 2009


Amor Latente.
J. Norinaldo.

Enlouquecem-me as noites de verão,
Quando a lua me traz o calor do sol,
E em sonho me apareces sempre nua,
Roubando a luz e a beleza da lua,
E teu suor como um sinete no lençol.


Dizem que morremos ao dormir,
Dormindo é que vivo intensamente,
Sobre o teu corpo perfumado,
Um poema com palavras sem sentido,
Rascunho tênue deste amor latente.

Quando acordo vejo marcas nos lençóis,
Lágrimas marcam também o travesseiro,
Ao descobrir que mais um sonho aconteceu,
Talvez estejas deixando marcas verdadeiras,
Noutra cama de alguém que não sou eu.





O Teu Diário.
J. Norinaldo.

Ontem encontrei por acaso o teu diário,
Elucidário que aumenta a minha dor,
Uma página marcada com uma rosa,
Uma prosa que te escrevi com tanto ardor,
Algumas palavras ainda estão manchadas,
Lágrimas que derramastes por amor.

Ah! Como dói descobrir minha estupidez,
Insensatez que pagarei por toda a vida,
Por duvidar de um amor sincero e puro,
Sem ter agora com quem me desculpar,
Só me resta assumir perante o Altíssimo...
Ou diante da cruz onde ela está.

Decerto Deus me indicou o teu diário,
O meu calvário minha cruz a carregar,
Sei que não tenho direito ao perdão,
Terei que trancar meu pobre coração,
Que foi fraco diante do meu ciúme...
O estrume que apodrece as raízes da razão.

Em cada página do diário tem meu nome,
A palavra eu te amo várias vezes rasurada,
Não que tenhas escrito sob o véu da dúvida
Mas por alguma lágrima na hora derramada
Levarei teu diário nesta vida onde for...
Como uma chaga por duvidar do teu amor.


segunda-feira, 12 de outubro de 2009



Depressão.
J. Norinaldo.

Eu não tenho culpa, não tenho herpes,
Eu não tenho dotes, não tenho morada,
Eu não tenho dons, não tenho sons,
Eu não tenho dono, não tenho sono,
Eu não tenho carro para pagar multa,
Ninguém me insulta por que não sou nada.

Eu não tenho bichos de estimação,
Não tenho chaveiros, pois não tenho porta,
Isto disse acima de não ter morada,
Não tenho carteira de identidade,
A porta do mundo está sempre aberta,
Não tenho nome tampouco idade.

Eu não tenho tempo pra pensar na vida,
Nunca tive idéia de lhe causar dano,
Não vejo a beleza minha visão é falha,
Só me resta o lixo e o abandono,
Ainda tenho a vida que não vale nada...
Mas não tenho o pano pra minha mortalha.

Eu sou depressivo frio e corrosivo,
Eu sou agressivo até com minha sombra,
Que não me abandona por mais que lhe peça,
Minha poesia já não tem graça nem sentido,
Que a tristeza assina sem nenhuma pressa,
Toalhas jogadas... num jogo perdido.





O Jogo da Vida.
J. Norinaldo.

Vamos, pode dar as cartas, a mesa está pronta,
Não tema, não pode perder pra quem nunca ganhou,
Mesmo que na minha mão esteja o melhor jogo,
Minto e depois atiro as cartas no fogo,
Não quero mais estas fichas que não valem nada,
Aquelas que valem muito, a mim vida negou.

Se depois por curiosidade contar o baralho,
Vai ver que ganhou um jogo que estava perdido,
Por que um ser excluído, da vida banido sem saber por que,
Um desesperado que seus próprios grilhões prendeu,
Não teve a coragem de pagar um crime que não cometeu,
E mesmo sabendo que ganhava o jogo, não pagou pra ver.

Sai de perto de mim, vai, vai viver a vida,
A beira do abismo sempre foi privilégio meu,
O desprezo dói muito menos que a compaixão,
Preciso apenas dar um passo que ainda não dei,
Não se culpe por ganhar o jogo não conte o baralho...
Ninguém tem culpa por eu ter chegado aonde cheguei.





Disfarce.
J. Norinaldo.

Eu não sei sorrir enquanto minha alma chora,
Eu não sei fingir então me escondo aos prantos,
Para não mentir me encerro em meu silencio,
Eu não sei pedir quando na verdade imploro,
Existe dentro mim um outro eu que se diz poeta,
Que faz você sorrir enquanto eu mesmo choro.

Não sei se um demente ou mesmo uma farsa,
Mas que ainda sente toda a beleza da vida,
Que não vê as pedras que encontra na estrada,
Como uma cilada pra jogá-lo ao chão,
Que ainda tem palavras que servem de consolo,
E a capacidade de dividir um único pão.

Falar de mim, pensei fosse tão fácil,
Mas é bem mais cômodo falar das flores,
Que são felizes quando agradam amantes,
Quando enfeitam santas em belos andores,
Quando são beijadas pelos colibris,
Ou quando enfeitam... os caixões de dores.

Eu disse que não sei mentir, perdão estava mentindo,
Agora falo a verdade, talvez tentando me redimir,
Entre o eu e o mim que falei acima não há diferença,
Nem o que é poeta ou que não é, não sabem sorrir,
O poeta mente, não diz o que sente no seu próprio eu...
O outro, o poema ouve por não pode fugir.




domingo, 11 de outubro de 2009


Punição.
J. Norinaldo.

Na ânsia louca em busca do futuro,
Esqueci do presente e do passado,
Que me volta agora de repente,
Carregado de lembranças tão doidas,
Pedindo que repita novamente,
Os erros que arruinara nossas vidas.

O passado esqueceu que o tempo ensina,
A escolher os atalhos dos caminhos,
A vislumbrar a beleza de uma rosa,
Mas saber que ela murcha e tem espinhos,
A estrada mostra as curvas e os desvios
Que adianta estarmos juntos e sozinhos?

Um amor não vive só de lembranças,
As distancias e o tempo são cruéis,
Os caminhos que se cruzam não têm almas
Nem as pedras que adornam os anéis,
Aquela beleza que há tempos nos uniu...
Nos puniu, por que não fomos fies.

Volta assim como em meus sonhos,
E te prometo o que há de mais profundo,
Seduz o tempo como fizestes comigo,
E te prometo volto ao passado contigo,
E viveremos o maior amor do mundo.
Sem lembranças, sem cobranças ou castigo.

Detalhes Esquecidos.
J. Norinaldo.

Detalhes que não vimos no passado,
Como partes de um quebra cabeça,
Da gincana que a vida nos apronta,
E não aponta a saída da caverna,
Do labirinto num amor de faz de conta...
Que se transforma em uma paixão eterna.

Da imagem gravada a fogo no meu peito,
Do teu jeito de sorrir e de chorar,
Dos abraços carinhosos que me davas,
Não esqueço nem teu jeito de andar,
Dos vestidos de menina que usavas,
Ensina-me a esquecer pra não chorar.

A fogueira da paixão que não se apaga,
Essa dor que do meu peito nunca sai,
Até quando suportarei o sacrifício?
Em cada inverno aumenta o meu frio,
A cada primavera é um suplício,
E as lágrimas, fazem transbordar o rio.

Quando o sol trás fim as noite de insônia,
E os pássaros cantam em homenagem ao dia,
Os primeiros raios lembram teus cabelos loiros,
Que Deus deixou que acariciasse um dia,
Que já vai longe perdido na imensidão...
E nunca mais meu coração teve alegria.

sábado, 10 de outubro de 2009


Ciúmes do Vento.
J. Norinaldo.

Escrevi um lindo poema na areia,
Achei que o vento por ciúmes apagou,
Não escrevi poesia a tempestade,
Que na verdade deve ser o seu amor,
Quando te encontrei declamastes a poesia...
O vento apenas decorou e te levou.

Caminhavas a beira mar pensando em mim,
E as ondas mansas em teus pés a marulhar,
Quando a brisa desmanchou os teus cabelos,
Como querendo chamar tua atenção,
E começastes a ouvir com suavidade,
Os acordes de uma bela canção.

Decorastes a poesia por inteira,
Que escrevi para ti no além mar,
Sinto vergonha de escrever novamente,
Tenho medo de cometer uma heresia,
Uma injustiça ao pensar que o vento...
Não tenha dito que era minha a poesia.





O Velho, o Homem e o Menino.
J. Norinaldo.

O vento a estrada e a porteira,
A poeira, a pegada e o destino,
A curva, o castelo a esplanada,
O homem, um velho e um menino,
A pedra, o cata vento e a capela,
O som do badalar de um sino.


Quem já cruzou pela porteira,
Deixou as pegadas no caminho,
O menino que foi homem hoje é velho,
Já não pode mais caminhar sozinho,
Cansado da porteira e da estrada...
Carregando o seu fardo de espinho.

Por quem será que tange o sino?
Pelo homem o velho ou o menino?
Quem não cruzará mais a porteira?
Nem verá a esplanada ou o castelo?
Por quem será que tange o sino?
Se na corrente agora falta um elo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009


Libido.
J. Norinaldo.

As mãos que deslizam em teu corpo nu,
O frêmito denunciado em teus arrepios,
No descompasso da tua respiração,
Na entrega total sem restrição,
A loucura que toma conta do teu ser,
No grito abafado pelo beijo de paixão.

A tua timidez quando vestida na sala,
Desaparece na rapidez do pensamento,
Quando a noite se oferece alcoviteira,
A paixão abala os alicerces do pudor,
Desmoronam-se as colunas da razão,
Quando o orvalho da libido roreja a flor.

A razão perde a razão do sentido,
E no furor de um animal enfurecido,
E num embate onde corpos se adentram,
Num linguajar por ninguém compreendido;
Na alquimia onde metades se completam...
O verdadeiro amor, pelo amor correspondido.

Numa luta corpo a corpo sem juizes,
Onde o juízo jamais teve voz ativa,
Onde a espada penetra, mas não fere,
Onde a ferida é perfumada uma flor viva,
Que se contrai a dar prazer a quem insere...
Entre seus lábios uma semente de vida.










quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Oásis de Lágrimas.
J. Norinaldo.

Tive um sonho, me encontrava no meio do deserto, com muita sede e calor, o cansaço era terrível e o peito ardia como se respirasse chamas, não sabia para onde ir, pois nada via além de areia. Pensei que seria o fim e lamentei por ter deixado de fazer tantas coisas, por tantas coisas que poderia ter dito e não disse, por orgulho, por soberba ou simplesmente por acreditar que poderia fazer ou dizer quando bem quisesse. Pensei: e agora que o fim está chegando, que a loucura já ronda como ave de rapina, em pouco tempo só restarão trevas, a quem dizer o que guardo no coração? Se escrevo na areia, em segundos o vento apagará, gritar já não posso mais, e gritar para quem? Um rajada de areia quente me fere os olhos, fecho-os apenas por instinto, e quando os abro novamente, vejo diante de mim um lindo oásis com água cristalina e fresca rodeado de tamareiras carregadas de belos frutos. É apenas uma miragem, pensei. Nisto vejo um lindo pássaro que fala a minha língua e diz:: _ Vem, bebe e te alimenta, não é miragem. Na verdade este oásis não existia, se formou de repente, criado pelas lágrimas de alguém que por ti chora em algum lugar, depois te guiarei até a margem do deserto, pois este foi mais um desejo desse ser que mesmo não sabendo onde estás; está sempre pedindo em suas preces o melhor da vida para ti, mesmo que nunca tenhas para ela uma palavra de carinho. Pensas, se sabes quem é, ela estará te esperando de braços abertos. De repente lembrei de Você, e acordei abraçado ao travesseiro gritando: EU TE AMO!
Alguém assustado correu e perguntou: Ama quem? E novamente me calei, acreditando que o deserto fora só mais um sonho.

Coragem e Covardia.
J. Norinaldo.

Enquanto na terra existir alguém,
Capaz de enfrentar as covardias,
Assim como o pequeno Davi,
Que derrotou o gigante Golias,
O amor jamais será esmagado,
E não triunfarão as tiranias.

É preciso saber distinguir,
O que é coragem e covardia,
Aquele que dar a vida por amor,
De quem lhe tira a vida por vilania,
Sou covarde por que abomino a guerra?
Sou covarde por que choro por amor?

Quem enfrenta um exército de tiranos,
Tendo apenas a vida como escudo,
A coragem de lutar por igualdade,
Contra o peso do aço da maldade,
Era preciso coragem para esmagar-te,
Exatamente o que não tem um covarde.

Não citarei aqui teu nome de herói,
Nem do tanque que estancou a tua frente,
Do Golias que dançou, mas não avançou,
Enquanto eu estava escondido novamente,
Enquanto na terra existir alguém assim...
Eu posso me esconder tranquilamente.


A Riqueza e a Beleza.
J. Norinaldo.

Se a beleza não carece de adorno,
Se a feiúra é quadrada sem contorno,
O que dizer da fome e da miséria?
Num universo rico e colorido,
Por apenas um paralelo dividido,
Onde o ser humano é só matéria.

O que é que a ciência nos prova?
Que no Taj Mahal ou numa cova,
Existe de algum modo diferença?
Se entre os germes também há distinção,
Se quem morre é mendigo ou tem brasão,
No banquete servido no final da existência?


Por que o orgulho em não abraçar um irmão?
Se um dia iremos terminar na mesma trilha,
Deixaremos tudo que tínhamos na terra,
Levaremos apenas nossos atos, não mobília,
As lágrimas derramadas por que não tinha tesouro...
Não são as mesmas para quem deixa partilha.

Os castelos assombrados que existem,
Habitados por quem já não existe mais,
Os que pensam em não deixar sua riqueza,
Noutra vida sua alma nunca encontrará a paz,
Só as pedras dos castelos são eternas...
E o amor que não morrerá jamais.











Covardia.
J. Norinaldo.

Não temo a chuva, o relâmpago o trovão,
Não temo o escuro ou a altura da montanha,
Não tenho medo de amar sem ser amado,
Tenho medo de fazer alguém sofrer,
Por me amar no silencio sem saber...
O pavor que sinto por ser desprezado.

Eu tenho medo de enfrentar meu próprio ego,
Tenho receio de não merecer a felicidade,
Tenho pavor de confundir uma amizade,
E transforma-la no mais vil dos sentimentos,
Tenho medo de plantar em mim o ódio...
Onde a mentira vale mais que a verdade.

Tenho medo de te encontrar e te perder,
Sou um covarde que talvez nem te mereça,
Prefiro os sonhos que dirijo ao bel prazer,
Do que ter-te em meus braços finalmente.
Quantas vezes dei os primeiros passos,
Mas tropecei na covardia novamente.

Não, não temo a chuva, o relâmpago o trovão,
Enfrento a espada com o escudo deste amor,
Não tenho medo nem mesmo da solidão,
Sinto pena por ela nunca ter alguém,
A não ser pra machucar e causar dor,
Sempre calada, mal falada e sem ninguém.



terça-feira, 6 de outubro de 2009

Minha Homenagem a Florbela Espanca.
J. Norinaldo.

Do Alentejo para o mundo nas asas da poesia,
Prenhe de felicidade como uma Charneca em Flor,
Trocando Olhares com Deus nosso poeta maior.
Porém no Livro das Mágoas deixou sua assinatura,
Nem as Máscaras do Destino conseguiram esconder...
Toda beleza da vida dessa bela criatura.

A vida é um Dominó Preto, joga quem sabe jogar,
Pois no final todos perdem quando uma pedra faltar,
É a pedra do caminho que ninguém dá importância,
Florbela escrita junto não por minha ignorância,
Como Espanca não agride na hora de poetar...
Tu és a Sóror Saudade poeta da minha infância.

Florbela Espanca ou Flor d’Alma da Conceição,
Rosa púrpura que nasceu num jardim que é Portugal,
A Vida e a Morte não passam de um triste dueto,
Enquanto o Dominó Preto continua a ser jogado;
E no fim do jogo, a pedra que está faltando...
Tanto pode ser o bem, como pode ser o mal.

Salve, salve Portuga, parabens Vila Viçosa,
Por ter parido ao mundo uma jóia tão preciosa,
Que falava do amor de uma maneira tão franca,
Como uma bandeira branca que ao planeta agitava;
Receba a minha homenagem poeta Florbela Espanca...
Por me ensinar o valor que tem uma bela prosa.

Em maiúsculo no meio da fráse: Obras da Poeta.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009


Saber Subir e Descer.
J. Norinaldo.

Na volta grande da vida onde começa a descida,
Os passos são bem mais lentos e o cansaço maior,
Quem caminhou sozinho o regresso é bem mais triste,
Só a solidão existe, plantada e cheia de espinhos,
E as pedras dos caminhos ferem os pés do caminhante,
Que às vezes encontra uma sombra e da descida desiste.

Quem desce às vezes esquece dos excessos da subida,
Da água mal dividida dos frutos que não colheu,
Não viu beleza nas flores pensando em ver na descida,
Mas a primavera florida já passou ora é verão.
Ou folhas mortas do outono sem sombras para o descanso...
Amoras murchas e secas espalhadas pelo chão.

Em cada passo a incerteza a cada curva a imensidão,
As nuvens fogem do céu como aves de migração,
Em cada pedra um abutre ou outra ave de rapina,
Em cada sombra um lobo a comandar a matilha,
E o caminhante seguindo como um castelo em ruína...
Aves e lobos atentos à espera do momento da partilha.

Quem completa todo ciclo e chega à reta final,
Cujo peso do cajado deixa seu ser estafante,
Não tem nada pra contar de outros itinerantes,
E aquele que na ida primou vestir-se com esmero...
Sem a lucidez da subida tampouco com desespero,
No final sem exagero retorna as fraldas de antes.




Demagogia.
J. Norinaldo.

Não consigo ver beleza onde falta liberdade,
Não consigo ter certeza onde há desigualdade,
Não consigo encontrar Deus no interior do Templo,
Vendo na entrada o exemplo um irmão a esmolar,
Enquanto a multidão aplaude quem esbraveja...
Falando em nome do Deus que eu queria encontrar.

A decência corrompida por imagens distorcidas,
Palavras que ganham vida em terceira dimensão,
E quem consegue um jargão endeusa o consumismo,
E ensina com cinismo a seguir na contra mão,
Dá o bote esconde as unhas de predador indecente...
Levando o povo inocente ao olho do furacão.

A multidão força sega, necessita um sinuelo,
E ai mora o perigo na hora de escolhê-lo,
Até cursos que ensinam como se tornar perito,
E assim em vez do melhor, vai o que fala bonito,
Que deixa a frente da tropa quando chegar ao abismo...
E o mundo se acostuma ao escândalo e ao cinismo.

A nau da corrupção no mar da impunidade,
Com velas cheias de cores e bandeiras atraentes,
Enquanto a sensatez em algum canto boceja,
Os arquitetos do mal planejam mais uma ação,
Para angariar os votos daqueles que acreditam,
Que fazem a escolha certa ao entregar o timão.






domingo, 4 de outubro de 2009


Meu Grito.
J. Norinaldo.

O meu grito se perdeu na imensidão,
Mas a montanha escutou e devolveu,
E o eco fez com que as flores se abrissem,
E os pássaros revoaram alegremente,
O grito foi: eu te amo com loucura...
E o eco disse: eu te amo eternamente.

Se loucura que mal faz acreditar?
Qual o motivo pra montanha me mentir?
Quem ama é louco e pouco importa se o delírio,
Faz as flores se abrirem ao seu redor,
Eu prefiro a loucura ao martírio,
Tendo a loucura eu jamais me sinto só.

Converso com a montanha e as flores,
Falo das dores que pela vida passei,
Escuto atento todas mensagens do vento,
Quando a noite o sol dá lugar a lua,
Vejo-te nua nas nuvens do firmamento,
Que te desenham conforme o meu pensamento.

Meu amor é bem maior que a montanha,
Que o meu grito não consegue ultrapassar,
Que me volta pelo vento mensageiro,
Que também é o pintor da minha tela,
Quando desenha no céu teu corpo inteiro...
E a loucura é quem empresta a aquarela.

Detalhes Esquecidos.
J. Norinaldo.

Detalhes que não vimos no passado,
Como partes de um quebra cabeça,
Da gincana que a vida nos apronta,
E não aponta a saída da caverna,
Do labirinto num amor de faz de conta...
E se transforma em uma paixão eterna.

Da imagem gravada a fogo no meu peito,
Do teu jeito de sorrir e de chorar,
Dos abraços carinhosos que me davas,
Não esqueço nem teu jeito de andar,
Dos vestidos de menina que usavas,
Ensina-me a esquecer pra não chorar.

A fogueira da paixão que não se apaga,
Essa dor que do meu peito nunca sai,
Até quando suportarei o sacrifício?
Em cada inverno aumenta o meu frio,
A cada primavera é um suplício,
E as lágrimas, fazem transbordar o rio.

Quando o sol traz fim as noites de insônia,
E os pássaros cantam em homenagem ao dia,
Os primeiros raios lembram teus cabelos loiros,
Que Deus deixou que acariciasse um dia,
Que já vai longe perdido na imensidão...
E nunca mais meu coração teve alegria.

A Sinceridade do Espelho..
J. Norinaldo

Oh! Como odeio o espelho e sua sinceridade,
Que mostra a realidade do estrago que o tempo fez,
Daquela tez tão macia como um pêssego maduro,
Lembrava uma bela rosa ao se abrir pela manhã,
Teu olhar lembrava o sol irradiando a primavera,
E do teu beijo que emanava o perfume da maçã.

O tempo rabiscou a tela com o cabo do pincel,
Já não tem por fundo o céu e sim brumas desbotadas,
As nuvens não lembram nada e o sol apenas um facho,
Que mostra opaco riacho leito de lágrimas de dor,
De uma tela radiante que no passado brilhava...
Que a vida ensinou sorrir, hoje o sorriso murchou.

O espelho envelheceu, porém em nada mudou,
Devolve o que lhe é mostrado sem nenhuma compaixão,
Quantos espelhos quebrei, a quantos virei as costas,
Esperando outras respostas que eles teimam em dizer não,
E os riachos não secam seja em qual for à estação...
Lágrimas que brotam com força do poço da desilusão.

Como sonhei com o futuro, mas sem nunca refletir,
Que não se vive o futuro e do presente esqueci,
Encantado com a tela dos espelhos cativantes,
Sem os rabiscos futuros dos quais nem me lembrava,
Não se lembra do futuro só do que ficou pra traz...
E o quadro nunca mais será como era antes.

Ó! Espelho que maldade mostrar a realidade,
Mesmo sabendo que fere e magoa alguém,
Quem é que nunca mentiu ou omitiu um defeito?
Uma mentira com jeito para agradar seu bem,
Mesmo sem nenhum valor uma mentira de amor...
Pode ser considerado aquele crime perfeito.





sexta-feira, 2 de outubro de 2009


Lembranças de menino.
J. Norinaldo.

Nas ondas douradas de um trigal,
Corríamos em meninos a brincar,
Sonhando talvez com o mar azul,
Que conhecíamos só por ouvir falar,
Com um mundo maior que nosso campo,
Com montanhas que teríamos que escalar.

Hoje o trigal é só lembrança do passado,
De um menino tão feliz por ser menino,
Da criança que cresceu e se fez homem,
E aprendeu que não se brinca no trigal,
Que brincadeira de homem é buscar o pão...
Brincar agora só com o bem ou o mal.

Conheci o mar azul e por ele naveguei,
Conheci portos de bandeiras diferentes,
A sua fúria enfrentei nas vagas altas,
Muitas montanhas também tive que escalar,
O mundo é grande e também dar muitas voltas...
Mas o meu campo hoje me faz muitas faltas.

Como queria ser menino novamente,
Correr alegre pelo meio do trigal,
Ouvir falar no joio sem conhecê-lo,
Ter a certeza que o amanhã seria igual,
Nossa corrida era pra chegarmos juntos...
Hoje quem corre ao meu lado é um rival.








Rita de Que?
J. Norinaldo

Por mais de mil e uma noites,
Busquei em sonhos essa imagem,
Por desertos e oásis por masmorras e haréns,
Porém a sensatez me dizia que ela não existia,
A não ser na minha louca miragem.

Nunca, porém, desisti da minha busca,
Nenhuma beleza ofusca este sonho que acalento,
Até sei seu nome, é Rita, Rita que rima com fita,
Fita que enfeita com um laço os teus cabelos,
Que fita meus olhos e ao vê-los emana perfume ao vento.

Odalisca do deserto dos meus sonhos,
Que em delírio levanta a espada do bravo,
Teu sorriso torna a razão incerteza,
Teu olhar faz de mim o teu escravo...
Humilde servo a zelar tua beleza.

Rita, Rita de que? Não interessa ninguém precisa saber,
Para que? Se isto só fará outro sofrer? Então esquece,
Sou o único que merece seu nome todo saber,
Pois, o pronuncio toda noite em minha prece...
Só que: não a conheço e nem ela me conhece.