Poema do Escravo.
J. Norinaldo.
Meu Senhor me concedeu uma carta
de alforria, me deu pena e papel para escrever poesia; no entanto se esqueceu
de me dar inspirações, só as marcas das correntes e o peso dos grilhões. Se
engana quem pensar que todo poeta é
feliz, a maioria não conhece o amor que em versos diz, nunca viu a flor de lótus nem tampouco a flor de Liz, mas fala de tudo
isto como um poema que fiz. O meu primeiro poema depois da libertação ofereci
ao senhor que agora é meu patrão, sua filha declamou no salão da fortaleza e
todo mundo chorou de tanta dor e tristeza. Meu senhor me concedeu, uma carta de
alforria, isto não lhe dar certeza, que devolveu minha alegria; o meu segundo
poema eu fiz como desagravo pelo tempo
de escravo na senzala da agonia. Hoje eu tenho liberdade e a minha voz não cala
lembrando que na senzala a minha voz só gemia, e o senhor que me açoitava não
me açoita hoje em dia, se não freqüento seu salão, mas é freqüente, lá a minha
poesia; que adianta ser senhor e viver gritando a esmo, quem não ama a poesia
será sempre... Um escravo de si mesmo.