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domingo, 24 de julho de 2016




Os Feios e os Loucos Também Amam.
J. Norinaldo.



Ele era extremamente feio, mas tinha muitas canetas, e rabiscava o tempo todo até que algo surgia, ele sempre dedicava a Sofia qualquer  figura que sobre o papel nascia; não sabia desenhar, mas seu esforço valia, valia a pena sonhar que era um quadro tão belo e tão raro, que se tornaria tão caro, que ninguém o compraria. Mas ele era muito feio e isto não mudaria, o que pensava Sofia ele também não sabia; aliás, sabia pouco além de suas rasuras, além das suas figuras, mas que muito lhes dizia; justamente porque, eram dedicadas a Sofia. Até que um dia suas canetas sumiram em, uma linda manhã, e diferente do louco de Khalil Gibran, o homem feio enlouqueceu; e com as unhas a parede corroeu, fazendo rabiscos com seu sangue que escorria, sorriu e dedicou a Sofia a mulher que tanto amava, mas que não a conhecia. Pobre homem feio e louco e se tudo isto fosse pouco a maldade para saciar sua sede e aumentar os seus medos, devolveu-lhe as canetas, porém o homem feio e ora louco já não tinha mais os dedos, mas por ser louco não sofria seus dedos ficaram na parede como a pintura de um mestre, ou algo rude rupestre em homenagem a Sofia; e o mais louco em tudo isto...Ele nem a conhecia.

segunda-feira, 18 de julho de 2016




Eu Te Entendo Meu amigo.
J. Norinaldo



Eu não posso te prometer o que me pedes em nome da humanidade, não precisas me dizer que não fazes mal a ninguém; tantas histórias de bondade têm ouvido que até dispenso essa tua ladainha. Só posso falar em meu nome, sou quase tão pequeno quanto és, quiçá não valha a metade do que vales, e nem sirva para lamber os teus pés. Sei que o que pedes é tão pouco, num mundo louco onde o ódio ditas as leis; tuas bondades invejam e queriam ter, por mais forte e mais potente, atacas apenas para te defender. Sei que lambes as feridas de quem segues, sem orgulho, soberba ou fingimento, também sei que não ligas para raça e que o amor é teu único sentimento. Lamento tanto pela minha covardia, de não lutar para que não te façam mal; como dizer para toda humanidade, que cada um de nós é um animal. Sinto-me forte quando estás nos braços, na certeza de que não corres perigo; sei que não finges s vês em mim um grande amigo; Deus existe e ele tem que está aqui, toda vez que um ser insano sem motivo te ferir. Eu ouvi tudo que me pedes, lamento tanto não poder nada fazer, ou  fazer tão pouco, tão pouco por você.

quarta-feira, 13 de julho de 2016




Que Saudade do Mar.
J. Norinaldo



Não me faltam pedaços, mas me sobram lacunas como velhas escunas jogadas num matagal; quem nasceu para navegar deveria no fim afundar e embalar seus destroços, como prêmio por todos os esforços, feridas em pedras, mazelas, retratadas em coloridas telas por quem nunca navegou. Triste servir como lenha a aquecer a quem venha de frio sofrer, a mão que ora treme antes firme no leme e o olhar no horizonte e um vinco na fronte na incerteza do mar. Não faltam arestas, mas me sobram frestas na alma que se finge calma e em fim conformada em ser nada depois de ser tanto, e aguardar a morte depois de ser forte e desdenhar do pranto. Não me falta um abraço, mesmo que falso e interesseiro, não me faltam amigos e nem os conselhos do meu travesseiro; o que será que me falta que sinto e não sei, ou talvez saiba, mas prefira esquecer por um pouco de paz; o que já tive tanto e que se foi com o vento exatamente o tempo que não tenho mais. E o que resta de tempo, antes tão lento, hoje  ligeiro demais e por mais que tento com meus passos curtos estou sempre para trás. Só quem já navegou e se viu longe do mundo, apenas céu e mar, pode imaginar e se colocar no lugar de uma escuna, jogada no mato sem água por perto para se balançar, ou ouvir o estalar da sua madeira em uma fogueira sem nenhum ritual ou algum sentimento e as cinzas ao vento que antes emproava o velame e enfrentava a procela; hoje apenas chamas, que rasgam na noite lacunas e fendas como escarlates escamas de um dragão das lendas.

segunda-feira, 11 de julho de 2016




Como Seria seu Rosto?
J. Norinaldo.




Nossa! Parece que foi ontem quando eu ainda sabia sorrir, quando ainda sonhava com aquela linda menina; tão meiga, ainda lembro o prazer em vê-la de longe, mas vê-la eu ainda sabia sorrir, não para ela, mas pensando nela que na verdade nunca pensou em mim; mas eu tinha o prazer de sonhar e acreditava nos meus sonhos; quiçá se juntos ficássemos não seriamos felizes, mas ela não me quis, nunca o disse por que eu também nunca perguntei; claro sabia a resposta de cor, e o pior sempre preferi a dúvida, por menor que fosse havia, pelo menos na minha cabeça e eu sorria. Hoje ninguém me vê sorrindo por que não sei sorrir, a menina que existia não existe mais eu ainda existo, mas sem saber para que; por que você foi morrer e por que fui esquecer suas feições; lembro-me de tantas coisas que antes de te conhecer aconteceram e não se foram com o tempo, mas seus rostos não consigo me lembrar; talvez seja melhor assim, imagine que hoje já não fosses tão bela para mim, conheci tantas mulheres, tantas meninas e se você estivesse aqui, será que eu voltaria a sorrir? Será? É parece que foi ontem, mas não foi, faz muito que para mim apenas o tempo conta e quando me dou conta o tempo já passou. Vivo tentando lembrar suas feições sem saber por que, será que o direito de sonhar é um privilégio ou para muitos não passa de um castigo, comigo tem sido assim. Sonhar, viver de sonhos, uma vida inteira como vivi e bem antes do meio do caminho parou de sorrir. Hoje, um olhar distante, perdido entre o nunca e o nada, buscando em cada tela, o rosto dela e para que? Para sofrer, mais, bem mais do que já sofri, desde que esqueci as suas feições e nunca mais sorri. Não invejo quem sorri, não sei mentir, não invejo quem não precisa buscar num passado distante, um rosto, um semblante que o tempo fez esquecer; quem sabe por compaixão, o tempo não deixe hoje que me lembre sua feição; por isto choro e não minto, ela é para mim  como o vento, eu não o vejo, mas o sinto. Sabe, uma noite, sonhei e vi teu rosto, refletido num vinho derramado sobre uma toalha púrpura como um belo por do sol, mas como ondas de um mar de aflições, eu não conseguia distinguir tuas feições; acordei e mais uma vez chorei, já que a muito já não é mais sorrir.