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sábado, 14 de outubro de 2017




Já Faz Tempo.
J. Nori


Já faz tempo que em meus invernos tem mais flores que em minhas primaveras, que em meus verões as folhas mortas dançam ao som dos ventos dos meus invernos, que meus infernos estão em cada curva da estrada; em cada sombra, em cada montanha que vejo ao longe, em cada arrebol, como pinturas de fantasmas que bailam a luz do sol. Já faz tempo que não ligo para os rastros que encontro, se vem ou vão ou se no caminho longo existem lobos solitários como eu, cujo rumo não é ida e nem é volta, mas o destino é a solidão. Que me adianta ter o mapa do caminho,  se como um cão me oriento pelo faro, se perdido não sei o que procuro, se no escuro vejo mais do que no claro. Que me adiante declamar o meu poema, cujo tema é a própria solidão do caminho, se quando estou no meio da multidão, não sei a razão, mas me sinto mais sozinho. Já faz tempo que não ouço meu sorriso e nem preciso porque já não sei sorrir, mas continuo assim mesmo no caminho, pedregoso como um talo de espinho e que na ponta já segurou uma flor; que já teve uma esperança num amor, que como as sombras se movem mas,  não têm vida. A única dádiva que imploro, por favor,  é que eu veja em cada curva o cajado do Pastor, que pastoreia as estrelas no infinito e que tornam meu poema mais bonito; já que falo da vida e do amor. Já faz tempo que eu choro aqui sozinho, minhas lágrimas regam as flores dos aceiros, para enfeitar o caminho outros felizes e faceiros; sintam a beleza e o perfume, e eu sigo a frente solitário e sem ciúme e em paz, pensando apenas no quanto tem faz.

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