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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Saudade do Luar.
J. Norinaldo.

O homem caminha a passos gigantes,
O simples de antes é mero passado,
Deixando pra trás antigos valores,
Exceto das bolsas de gritos frenéticos;
Brasões e sinetes que ditam as regras...
Escravos agora os antigos senhores.

O homem da roça antigo caipira,
Da velha cantiga inocente já foi,
Que falava do pássaro que canta na mata,
Do cantar das rodas do carro de boi.
Hoje já não tem graça falar diferente...
Cantar o riacho, o estradão a cascata.

A teia do mundo já chegou a roça,
A botina de ontem já está no monturo,
A velha carroça agora é enfeite,
E antena alta aponta o futuro,
A tranqüilidade que havia antes...
Hoje é lembrada na altura do muro.

Se sou saudosista? é claro que não,
Hoje tenho o mundo na palma da mão,
Meu filho viaja sem sair de casa,
Não falamos a língua que eu aprendi.
Viva o futuro com suas mudanças,
Que se cale esse velho com suas lembranças.




segunda-feira, 30 de agosto de 2010



Samba Enredo do enredo.
Coloque a melodia e cante a vontade.

Enfim nós vamos para o paraíso,
Só é preciso ter um titulo de eleitor,
Quem antes achava que eu fedia,
Hoje em dia me abraça com calor;
No meu nordeste onde o voto vale ouro...
Até a montanha colocou o chapéu de couro.

É tanta promessa e eu nem desconfio,
Que o meu navio é sempre o negreiro
Que sou passageiro da desilusão.
O mundo gira sobre o mesmo eixo,
E já nem me queixo da corrupção.
É só mais um ano que tem eleição.

Nas pesquisas é um tal de sobe e desce,
Só minha vida permanece na estagnação.
Ainda não sei para quem vou votar,
Estou quieto aqui no meu cantinho,
Esperando um santinho
De Ali Bá Bá, é nesse que vou confiar.

Eu nunca fui tão abraçado,
Tão festejado em momento algum,
Aposentado e sem ter o que fazer,
Se for pra praça jogar dominó
Vou ser fichado como um sete um,
Minha gente tenha dó.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010


Cheiro das Palavras.
J. Norinaldo.

Palavras traquinas bailam a mente,
Como peixes coloridos em água rasa,
Borboletas voejando verde bosque,
Que o poeta incansável vai juntando;
E desenha o que a alma vai ditando...
E no fim dar o nome de poema.

Usando por tinteiro o coração,
Fazendo de aquarela a própria alma,
Dando asas a imaginação.
Sem orgulho apego ou vaidade,
Depois doa sua obra como o vento...
Levando a alguém felicidade.

O sinestésico poder da poesia,
Onde as palavras têm perfume,
Quando o orvalho beijas os lábios...
Da manhã que nasce para o dia;
Ou um poema tem gosto de saudade...
Um simples olhar tem o cheiro da magia.


Caminho da Vida.
J. Norinaldo.


Chegarei rastejando aos pés da morte,
E de certo sentirei o seu fedor,
O orgulho, a vaidade no meu rastro,
O caminho percorrido e lembrado,
Mas para deter a sua foice...
Não erguerei o meu cajado.

Só ai, então descobrirei,
O desenho do final da existência,
Que a vida não passou de caminhar,
Numa escola de sorrir e de chorar,
No pagar por alguma metanóia;
Mendigando por alguma moratória.

Nascer, viver, crescer e morrer,
Aprender por que tem que ser assim,
Nem todos rastejam no final,
O caminho, no entanto é o mesmo,
O homem insiste em buscar na panacéia...
O atalho que burla, mas a esmo.

Por isto se festeja o nascimento,
E cada festa lembra um fim inevitável,
O choro na chegada a luz que vem da vida,
O rastejar do início num caminho protegido,
E as lágrimas finais, moribundas da partida.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Lado a Lado.
J. Norinaldo.

Dois túmulos lado a lado,
Um de mármore azul
Outro de tijolo enegrecido,
Um parece tão lembrado...
O outro há muito já esquecido.

Um tem a forma de uma casa,
O outro de um palácio encantado,
Um é coberto de flores,
O outro por anjo alado;
Que olha sempre para a frente.

Olhando aqueles dois túmulos,
Me senti inconformado,
Da casinha de tijolos
Roubei um buquê de flores,
Pus nos pés do anjo alado.

Quem sabe aquele coitado
Não foi assim como eu,
Em vida nenhuma rosa,
Recebe agora essas flores...
Sem sequer saber quem deu.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010



A Pena que não tem Pena.
J. Norinaldo.
Toma, usa a pena e escreves a sentença que condena, não tenhas pena, a compaixão dói muito mais que o desprezo, quando preso sentirei pela janela, que o sol livre adentrará pelas grades a aquecer a minha cela. Resignado ouvirei tua sentença, o meu crime foi amar-te com loucura, não te punas atendendo a consciência, sem beleza, sem fortuna e sem futuro crio o muro que separa nossas almas. Quando um dia nos braços de quem amas, aquele que merece o teu amor, num beijo, num abraço ou num sorriso, quando estiveres ao entrar no paraíso, jamais te lembres como pesam meus grilhões. Vai, escreves com belas letras a mão segura, poucas linhas a traçar o meu destino, logo esquecerás o texto triste, só não esqueças esquecer-me para sempre, será tão fácil esquecer, o que para ti já não existe.
Nada temas, pois ninguém te acusará, por condenar mais um ao esquecimento, afinal, não poderás pertencer a todos que te amam, e com certeza haverá muitos grilhões, com o teu nome num coração mal desenhado na ferrugem. Mas de nada poderás ser acusada.

domingo, 22 de agosto de 2010



Dança da Morte.
J. Norinaldo

Dançarás diante da tua morte, ao som da flauta dionisíaca, insurgindo-te contra tua morte física, que liberta tua alma em fim será, aos olhos do sol e de todos elementos, os brandos ventos varrerão todas as dores, lembrarão das batalhas e das feridas, mostrarão recibos de outras vidas e as feridas como flores sem perfume, enquanto uma lua branca de paz e fala mansa, canta e dança tua volta. Como folhas secas que bailam no outono, sorrirás para o eterno sono quando a morte imortaliza as paixões. E como um velho templo abandonado quando o sol desbota seus vitrais, teus amores já não te pertencerão, quando o teu coração não pulsa mais, quando véus não terão mais importância, a cobrir a beleza agora nua. Lembranças, alegrias e sorrisos, que se dissipam numa nuvem colorida, do pó voltas ao pó, ou para a verdadeira vida. O universo pulsará ainda mais forte, a flauta soará em outra morte e Dionísio jamais será calado, no pulsar ou no cessar como o vento sua flauta é imortal, só as cores do som não serão vistas enquanto existir algum pulsar.

sábado, 21 de agosto de 2010





A Escolha.
J. Norinaldo.

Se num apanágio de culpas,
Desculpas tivessem valor,
Como um inventário de bens
Não um calvário de dor.
Tivesse eu o poder da escolha,
Entre a indiferença e o amor.

Direito? Que direito tenho?
A não ser o dom de sonhar.
Na inglória batalha vencida,
Na tortuosa estrada da vida,
Da ferida que não quer sarar;
O saber da esperança perdida.

Ah! Se tivesse o direito à escolha,
Mas o que é que posso escolher?
Escalar a montanha de frente
Ou assumir o viver indigente?
A dormir e sonhar com você.
É somente sonhar em viver.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010


Deuses do Prazer.
J. Norinaldo.

Rufam os tambores da loucura
Afunilam-se as chances de viver,
Sorrisos cretinos em murchos lábios
Desdenham o dizer de velhos sábios,
Das flores não se busca mais perfume,
Nem o lume do saber nos alfarrábios.

Os deuses de outrora voltam à vida,
Na corrida do vinho e do lazer,
A decência veste roupas coloridas,
Inocentes hoje raras são vendidas,
Nas praças em feiras do prazer;
E as palavras de Deus são esquecidas.

E o bezerro de ouro é polido,
Com o manto do deus já esquecido,
Alimenta-se a fera a pão de Ló,
E o homem na loucura do prazer,
Cego, já não consegue ver...
Que busca no pó, voltar ao pó.

terça-feira, 10 de agosto de 2010



Desigualdade.
J. Norinaldo

Existe o norte e o sul,
Como o vermelho e o azul,
Por linhas bem separados.
De um lado reclama-se do caviar,
Do outro já não tem Sá,
Pra temperá o fejão.

Do lado azul há a fartura a bonança,
E o velório da esperança
Fica do lado de cá.
Cruza a linha o lixo da faixa azul
Dejetos da zona sul,
Para a pobreza catar.

O sol nasce para todos
A sombra pra quem merece,
Pra quem decorou a prece
E tem o dom de falar.
Ao pobre, cabe estender o chapéu,
E espera as migalhas...
Do Big Brother do céu.

Vem a alvorada e nada tem pro café,
Mas se alimenta da fé,
Para ir em busca do pão.
Pão que alimenta a falsa beleza
Único bem que o pobre tem pra vender.
Uma linda menina por ser da linha de cá
Serve de pasto aos de lá...
Sem ter direito a defesa.

domingo, 8 de agosto de 2010


Feliz Dia dos Pais.
J. Norinaldo.
Outro dia, peguei um livro e me dirigi à beira do rio que corta minha cidade, em busca de uma sombra de um velho angico onde costumo ler. Sentei-me comecei minha leitura, logo vi chegar um senhor numa moto acompanhado de um menino aparentando 10 anos que presumi ser seu filho, desceram, pegaram linhas e atiraram na água, parei com a leitura e comecei a pensar: claro que aquele homem não esperava pescar nada ali, na verdade deveria ter chegado em casa, cansado do trabalho e recebera o convite para uma pescaria, e para não decepcionar o filho, e até gozar da sua companhia o teria trazido aquele local. Continuei matutando com meus botões: quantos pais são capazes de tais proezas? Alguns que possuem posses preferem dar dinheiro, carros, motos, viagens, que ter a desagradável companhia de um filho.
De repente, vejo o senhor pegar o seu filho, como se pressentisse um tsunami naquelas águas calmas do rio, saiu apressadamente, com o corpo tapava a visão do menino para a direção em que me encontrava, até tomei um grande susto, será que o homem vira alguma onça? Não fora uma onça que o cidadão acabara de descobrir; ali, bem próximo a uma touceira de bambu, um casal de jovens, lindos, parecendo bem nascidos, pois havia estacionado perto uma caminhonete nova, a moça loira de olhos verdes e o rapaz também loiro, fumavam uma espécie de cachimbo, e se acariciando despudoradamente parecendo querer que vissem,pareciam sentir muito prazer com isto, fiquei ali mais um tempo, até que a garota caiu, parecendo desmaiar, o rapaz simplesmente sentou-se ao seu lado, parecendo está no mundo da lua. Sai dali, e mudei o meu recanto de leitura.
Continuei pensando sobre o caso: estavam ali três filhos e um pai, sim por que com certeza aquele casal também tinha os seus pais. Onde estariam neste momento? E o que teria dito aquele pai que pescava ou fingia pescar para agradar o seu filho por interromper tão bruscamente seu prazer? O que você diria?
Hoje é o dia dos pais, dia de presentes. Gravatas, cachimbos, alguns nada ganharão além de um abraço, outros nem isto. Que tal esquecermos os presentes materiais e darmos aos nossos pais um presente diferente? Motivos para que ele vá conosco mesmo cansado, a beira de um rio, onde não existem peixes apenas para gozar o prazer da nossa companhia?

terça-feira, 3 de agosto de 2010



Um Sonho de Poeta.
J. Norinaldo.

Anjos embalam meu sono
Como a valsa do vento,
Com as folhas secas do outono.
O cantos das andorinhas
Anunciando o verão,
E a neve linda do inverno...
Vestindo de noiva o chão.

Anjos arpejam Nabuco,
Cantam os escravos hebreus,
Valquírias cavalgam cavalos marinhos
Para o deleite de Deus.
E eu agradeço ao pai,
A primavera dos sonhos meus.

Baleias desfilam em cardumes,
Com botos azuis na platéia,
Entre os atóis de corais.
As estrelas iluminam a ribalta,
E na poltrona mais alta...
Eu vejo o maior dos Pais.

Que pena foi só um sonho,
É tão difícil acordar,
Ver um mundo tão diferente
Do qual nos permitem almejar.
Fecho os olhos novamente
Quem sabe volte a sonhar.