INGRATIDÃO.
J. Norinaldo.
Doei-me sem usura e sem ganancia, apenas pelo ato de
aceitação, sem soberba ou egoísmo, para ser apenas a tampa do abismo, ser o
piso ser o chão, a ser pisado ou cuspido
para quem fez a vida ter sentido pelo amor e a razão. Doou-me pelas simples
razão, para evitar a depressão de um
terreno que em fim, ao invés de abismo
se transforme num jardim ou num bosque onde cantem os passarinhos, donde suja
aos poucos os caminhos que levem e tragam esperança, onde soem os sorrisos de
criança, onde a vida possa brotar do chão, onde antes poderia ser o nada, sem
que se saiba que a tampa foi doada, sequer o nome da salvação. Em troca de que
me perguntais, quero ser pisado e cuspido, sem nenhuma usura ou ganancia, sem sequer
ouvir os sorrisos das crianças e os murmúrios de amor entre os amantes, tapando o abismo, que antes como a porta de uma tumba que
espreita; apenas para ter a vida a aceita, por quem talvez nem a mereça. Não
vês que não falo de mim, mas de alguém que agiu assim e por seu feito, sequer
por todos foi aceito e nem seu nome certo eu sei; eu num me doei nem o farei;
usarei o quanto puder meu egoísmo, pisarei o cuspirei na tampa do abismo,
abusarei da luxúria e da paixão, desdenhando de quem se doou de alma e coração,
usarei o seu nobre nome em vão, como quem chuta o cocho em que come, mesmo sem
saber seu nome, e sabendo que nada mereço se me perguntam se o agradeço a minha
resposta será não. Afinal quem fez tão grande ato, de certo conhecia de fato, o
significa... INGRATIDÃO.