Translate

sábado, 28 de fevereiro de 2009



Minha Singela homenagem a Patativa do Assaré.
Meu Ídolo.
J. Norinaldo.

Cada poesia que faço é como uma filha querida,
Quando agradam fico feliz, mas quando erro não nego,
Gosto da crítica sincera que engloba a realidade,
Pois um milhão de mentiras não vale uma verdade.
Não diga que elas são lindas e depois tem pai que é cego.
Por aqui o que mais prego é a pura sinceridade.

Não nego minhas origens a poesia de cordel,
Versejar é minha praia poetar é o meu céu.
Cada poeta um estilo e cada estilo uma escola.
Tem o poeta que embola o martelo agalopado,
Como também é poeta o cantador de viola,
A poesia não controla o que mais estudado.

Cada um canta o amor ou dilema que conhece.
Cada poema é uma prece para o poeta maior.
Só o poeta conhece os segredos da maré,
A canção que canta a brisa conhece o compositor.
Aquele que nunca estudou foi o que foi e o que é.
Patativa do Assaré o mestre que Deus diplomou.

Conhecido no Brasil e aclamado na Europa,
Foi como em imbú na copa e a cajarana em flor.
Nos legou tanta beleza no seu poema, seu fruto,
Quando nos deixou de luto e o nordeste a chorar.
Mas nos deixou seu recado como se fosse um estatuto,
Aquele que não gostar do nosso poema matuto:
“Cante lá que eu Canto Cá”.


Outro Mundo.
J. Norinaldo.


Por que serão envidados tantos esforços
Em busca de um planeta igual ao nosso?
Será que este que nos foi legado por Deus
Por nossa causa da nossa ganância agoniza,
E o homem agora precisa um outro pra destruir,
Ou quem sabe construir aquele do qual precisa?

Passar um e-mail a Deus dizendo que este é fraco,
Tão novo e já está um caco, até o mar virou um lixo,
Nas matas já não tem bicho, vai sobrar o bicho homem,
Que entre si se consomem em guerras sem fundamentos.
Cultuando pensamentos e tradições desconexas como:
Se correr os bichos pegam, se ficar os bichos comem.

Em nome do lucro e da intolerância humana
Ser humano já foi caça vendido na feira ou na praça,
Justificavam a besteira que escravos não eram gente.
Quase destruíram a terra tentando melhorar a raça,
Criando um tal ariano corrigindo o que Deus fez,
E Este é por sua vez é onisciente, onipresente e onipotente.

Para mostrar a fúria de um deus vingativo e cruel,
Criou-se a inquisição que transformou em carvão,
Os filhos do mesmo deus aquele que criou o céu.
O próprio filho de Deus que veio em missão divina,
Foi humilhado e condenado crucificado numa colina.
Quando teve sede e pediu água, lhe deram uma taça de fel.


O Corredor da Vida.
J. Norinaldo

O corredor da vida tem vários sentidos,
O corredor da morte um sentido só.
Os dois corredores são bem distinguidos,
O corredor da vida corre pra viver,
No corredor da morte está quem vai morrer.
São tão diferentes, porém os destinos são bem parecidos.

O corredor da vida corre sempre pra chegar à frente,
No outro corredor já esta corrida é bem diferente.
Quem está correndo bem que gostaria de correr pra trás,
Não querendo nunca alcançar a quem estiver na frente,
Se possível não cruzar nunca a linha de chegada,
Pois nessa corrida quem ganha perde e sem novamente.

Um corredor é estreito escuro e coberto,
O outro é aberto amplo e sem portões.
Nenhum homem nasceu no corredor estreito,
Nem com o corpo feito para usar grilhões,
A escolha dos corredores às vezes depende da sorte
Mas o destino final de todos é um dia o corredor da morte.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009



Eu Fantasma na Chuva.
J. Norinaldo.

A rua, a madrugada, a chuva fria. Caminho até frente daquela casa, aquela casa tão minha conhecida, por fora. Rodeada de altos muros, portões de ferro já gastos pelo tempo, centenárias arvores que dão sombras no verão. O jardim tão bem cuidado, mas minha atenção se volta mesmo para o segundo piso, no lado esquerdo, aquela janela, agora cerrada, luzes apagadas, ali sei que repousas, e sonhas. Como seria eu feliz sabendo fazer parte desse sonho, não importando o papel nele desempenhado, desde que dele fizesse parte, e ao acordar lembrar-te de mim.
A chuva fria continua, continuo ali parado olhar fixo naquela janela, sequer sinto o frio que me gela até a alma, Abro os braços e olho o céu cinzento, como se ali estivesse a resposta que tanto busco. Quando de repente vejo que nasce o dia, e como um vampiro, um espectro que me assusta, não posso ser visto ali, vestido daquela maneira, faminto e com frio. Com passos trôpegos sigo aquela rua também tão minha conhecida, não que vá dá em algum lugar, onde possa tirar uma chave, abrir a porta e entrar, procurar me aquecer, fugir daquele frio que me faz doer os ossos. Não, Apenas por que faço esse itinerário há muito tempo, sempre nas madrugadas, apenas a chuva não é minha constante companheira.
A chuva, o frio e nem a dor já não me assustam, interessante, somente algo me apavora: que de repente aquela janela se abra e me vejas.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009



Meu Carnaval
J. Norinaldo

Fiz um carnaval bem diferente este ano,
Também desfilei numa avenida.
Oferecendo o que de melhor ainda me resta,
Minha vontade de lutar pela terra e pela vida.
Defendendo os rios, o mar e a floresta,
E seus habitantes, que enfeitam esta festa.

As baleias que infestavam nossos mares,
A beleza do mico leão dourado nas matas,
A ararinha azul que nordeste desapareceu,
Até o pantanal o jardim do éden aqui na terra,
Não é o mesmo que este poeta conheceu.
E o canto do uirapuru, é abafado pelo grito da serra.

Um futuro embaçado, imprevisível a espreita,
Que nossos filhos a quem temos tanto amor.
Por causa de tanta omissão e irresponsabilidade,
Tenham a infelicidade de conhecer o que restou,
Através de museus ou da história mal contada,
Ou mesmo na tela de algum computador.

Quem sabe nos carnavais do futuro que virá,
As escolas mostrem como eram os rios e o mar,
Os animais que existiam e viviam na floresta,
O samba enredo fazendo a platéia chorar.
Enquanto os aviões despejam bombas,
Em guerra pela água que na terra ainda resta.

Minha escola não foi muito aplaudida,
Meu samba enredo taxado de irreverente,
A minha bateria só o surdo solitário a frente,
A fantasia verde descontentou muita gente.
Criticaram a escola do poeta e da poesia,
Dizendo que trazia a morte na comissão de frente.



Diga Não.
J. Norinaldo.

Plantei cuidei, colhi o trigo e fiz o pão,
Amei o meu irmão como a mim mesmo.
Cumpri quase todos os mandamentos,
De seguir todos infelizmente não fui capaz.
Não invoquei o Seu Santo nome a esmo,
Sei que poderia ter feito muito mais.

Mas, ainda tenho tempo e vou seguir,
Fazendo tudo pelo bem da humanidade.
Sem nada pedir em troca por enquanto,
Depois quem sabe possa até ser um santo,
E ter o céu para toda a eternidade,
Ficar para sempre protegido por Teu manto.

Eu agora eleições uso uns santinhos,
Será pecado eu colocar meu retrato?
Sorrindo pra mostrar como sou bom de coração,
Peço perdão por que talvez não seja o certo.
Quando eleito sempre esqueço do meu trato,
Como o povo esquece já na próxima eleição.

Adoro abraçar, descamisados e famintos,
Visitar sem teto e pegar crianças no colo,
Levar comida para aqueles que tem fome,
E em Teu nome jurar dividir o solo,
E dizer que em muros de burgueses,
O meu santinho ali jamais eu colo.

Está convencido de que sou seu candidato?
O mais puro e cândido que poderia conhecer?
Venha, tire um retrato aqui sorrindo do meu lado,
Mostre aos vizinhos como nós somos amigos,
Não esqueça de lhe dar alguns santinhos,
Diga com orgulho, este é meu deputado.


Luciana
J. Norinaldo

Minha terra tem campinas
Onde canta o cardeal,
Também tem mulheres lindas
Como você Luciana,
Dignas de um pedestal.

Se a felicidade soubesse pintar,
Não iria sair pintando por ai,
Pediria permissão à natureza,
Para pintar to a beleza,
Da mulher que nasce ali.

Logo ali em Cachoeirinha,
Pequenina, porém minha,
Fostes nascer Luciana.
Oh! Bela como a nirvana,
Com este olhar de rainha.

Conheci tantas terras,
Depois que sai daí.
Belas mulheres, atrizes...
Porém nenhuma igual a ti.
Por isto amo as minhas raízes.


Verbo Amar.
J. Norinaldo.

Amar talvez seja o verbo mais conjugado.
Particípio está lá bem no fim como amado.
Por que sofrer, se conjuga no futuro,
Quem já sofreu o conjuga no passado.
Desprezar é infinitivo pessoal e muito frio,
Este verbo deveria ser desprezado.

Amo é verbo conjugado no presente.
Não sou amado não é verbo é oração.
Eu amo, tu amas ele ama, nós amamos,
Todos amam ser amado é a questão,
Amor não é verbo é sentimento
E quem disse: Eu sou o verbo nós matamos.


O verbo amar é tão fácil ser conjugado.
No presente, no futuro ou no passado.
Amar também não tem nenhum mistério.
Difícil mesmo é saber quando é sonhado.
Que estou amando isto não nunca foi segredo,
Agora posso conjugar e gritar: eu sou amado.
.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009



O Vira Lata do Samba.
J. Norinaldo.

Este vira lata na avenida Sapucaí,
Sou eu querendo apenas aparecer,
Fui visto por milhões de pessoas,
Não deram nem um osso pra roer.
E os meus amiguinhos lá do beco,
Sequer tinham televisão pra ver.

Depois atiraram muitas bombas,
Quase louco de medo me escondi,
Debaixo da saia de uma baiana,
Não adianta que não conto o que vi.
A Viradouro é minha escola querida,
Me assustei, mas também me diverti.

A avenida foi pra mim muita emoção,
Mesmo enquanto de medo eu tremia,
Ninguém entendeu meu samba enredo,
E minhas pulgas fazendo a harmonia.
Agora sou um vira lata de muita sorte,
Da Viradouros agora sou a mascote.


Eu vim aqui somente pra conferir,
Tanta escola falando em meio ambiente,
Mas vi tanta pena e tanta pluma,
Já não fiquei assim muito contente.
Eu também faço parte dele não esquece,
Então por favor, cuidem mais da gente.


O ano que vem estou de volta pode crer,
E ai vou até ser bem mais categórico,
Não vou mais querer desfilar no chão,
Vou exigir por que não um carro alegórico.
Quero até ser parte do enredo sim senhor,
Pra me tornar um cachorinho histórico.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009



Quarta Feira de Cinzas
J. Norinaldo


Quarta feira de cinzas não devia chegar nunca,
Para nos mostrar que a vida é pura realidade.
Quando somos obrigados despir a fantasia,
E quem durante quatro dias foi majestade,
Volta à vida real como simples bóia fria.

Para onde foi toda aquela felicidade?
Que eu derramei sorrindo pela avenida.
Onde está àquela gente que vibrava a me aplaudir?
Mesmo assim creio que valeu a pena ser vivida.
Agora vou passar o ano inteiro sem sorrir.

Mesmo a vida não sendo um eterno carnaval,
E eu não passe a vida inteira sorrindo a toa.
Mesmo que o ano inteiro faça outro festival,
Sendo porta bandeira com uma vassoura,
E a avenida sendo a cozinha da patroa.

Por tudo isto agradeço ao Criador.
Poder voltar com vida pra minha favela.
E pra completar ainda mais a minha felicidade,
Vejo por todos cantos desta linda cidade,
Gritos de é campeã! Para a minha Portela.

domingo, 22 de fevereiro de 2009



O Índio Quer chorar.
J. Norinaldo.

Venham brincar no meu bloco os amigos da tristeza,
Vamos chorar na avenida em nome da natureza.
Pelos rios poluídos pelas matas devastadas,
Pela extinção de espécies antes com tanta beleza.
Vamos regar o que resta com nossa mágoa tristonha,
Pra mostrar aos nossos netos como era a Amazonia.

Olha o bloco da tristeza ai gente presta atenção no enredo,
Para quem acha que é cedo para se preocupar.
Tem rio que já se pode caminha por cima como uma estrada,
E se ninguém fizer nada este também é o destino do mar.
A camada de ozônio está virando peneira, amigo dessa maneira...
Vou ter que guardar madeira para poder me enterrar.

Meu bloco não para na quarta feira de cinzas,
Por que de cinzas não posso nem ouvir falar.
De tanta que vejo pelas matas que também são suas,
Cinzas de guerras pelos montes pelos vales pelas ruas.
Fogo que apenas um colibri solitário tenta apagar.
Para o bloco do índio descansar, faltam ainda muitas luas.

sábado, 21 de fevereiro de 2009



Porta Bandeira
J. Norinaldo
(Samba)

Cartola voltou ao jardim para chorar.
Enquanto eu chorei na passarela.
Ao ver minha escola desfilar,
A Porta Bandeira brilhar,
Mas, não era ela.

Não se é porta bandeira para sempre,
O tempo não dá mole pra ninguém.
Eu que já fui mestre sala, hoje a minha ala,
E´ a velha guarda também.

O tempo passou que nem senti,
Não voltei ao jardim como Cartola,
Imaginem o susto quando vi,
Minha mulata de baiana na escola.

Chorei, confesso que chorei.
Não consegui me segurar.
Lavei com meu pranto a avenida,
Por amor não faz vergonha chorar.


Não Posso Fazer Nada
J. Norinaldo

Eu vi crianças de colo sendo prostituídas,
Vi a vida da janela totalmente alienado.
Vi Jesus como moeda de troca nos mercados,
O som da serra na floresta quase arrasada,
Vi meu irmão comendo lixo na sarjeta,
E eu só dizendo que não posso fazer nada.

Eu vi a guerra e até fiz parte dela,
Condecorado voltei a minha janela,
Dali vi muita criança morrer drogada,
Pessoas velhas por criança assaltada,
O portal da janela está bem gasto,
Assisto tudo, mas não posso fazer nada.

Vi meu vizinho ser levado no escuro,
Não mais voltar pra sua família amada.
Vi aquele que ceifou milhões de vidas,
Desfilar em carro aberto na esplanada.
Passar diante da minha janela e me sorrir...
Também sorri por que não pude fazer nada.

Minha poesia está totalmente mudada,
Já não fala de amor de beleza ou lirismo,
Quem é poeta também já foi subversivo,
Ainda bem que já morreu o comunismo.
Ninguém sabe se a idéia era certa ou errada,
Mas, todos sabem dizer que não podem fazer nada.

Será que vamos ver a terra ser assolada?
E pra não ver manter a janela fechada.
Como avestruz, ou uma minhoca enterrada,
E em vez de lutar por nossos filhos queridos,
Por nossa terra pela a nossa pátria amada?
Gritar em coro: não podemos fazer nada!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009



Escravidão
J. Norinaldo

Às vezes eu me pergunto se é verdade ou ficção,
Se é fruto de delírio ou simplesmente invenção,
Isto que a história conta sobre a tal escravidão.
É difícil acreditar que sendo seres humanos,
Cometam atos insanos de acorrentar um irmão,
Por diferença de cor submete-lo a servidão.


Por que a história mente tanto
Quando trata desta questão?
E por que a Igreja não desmente?
Essa história que todo mundo é irmão?
Que irmão é este que acorrenta outro irmão?
E na chibata lhe arranca o couro no tronco,
De alguém que nem pediu pra vir ao mundo,
E nem fez nada pra não ter nascido branco?

Nossa Senhora Aparecida,
Santa negra padroeira do Brasil.
Oh! Mãe onde estavas quando estive na senzala?
Esqueceu de mim ou simplesmente não me viu?


Amantes.
J. Norinaldo.


A escuridão da noite as sombras,
O temor das trevas o ladrar do cão.
Há quem busque por uma luz,
Outro corre em busca de vinho,
Há alguém que busca um pedaço pão.
E muitos outros que a noite seduz.

A lua às vezes é mal compreendida,
Quando atrás de uma nuvem fica escondida,
Amantes que pensam em cumplicidade,
Quando na verdade está enrubescida.
Por pratear de luz cenas tão sensuais,
Entre amantes na mais tão tenra idade.

Confundindo amor com libertinagem,
Degustando o fruto antes da colheita.
Às vezes sem fome, só por vaidade,
Curiosidade que o mundo aceita.
É a dita máquina da vida moderna,
Que a mão direita da luxúria azeita.

Ainda existe hoje a lei do transformismo,
De quem nasceu varão, mas quer ser mulher.
Como se o sol pudesse transformar-se em lua,
Quem transmudou um dia a água em bom vinho,
O fez por carinho com simplicidade e bondade sua,
O homem insiste em mudar tudo pelo seu caminho.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009



O Pessimista
J. Norinaldo


Perdi no jogo, perdi o rumo e a auto-estima,
Perdi a inspiração minha poesia perdeu a rima.
Perdi amigos, perdi tesouros e a vontade de viver,
Perdi a chance de ter na vida o que mais quis ter.
Perdi quase tudo, Só não perdi mesmo a esperança,
De te ter um dia, nem que seja para logo depois perder.

De que me adianta ganhar no jogo e saber meu rumo,
Construir castelos conhecer o mundo sempre sozinho?
O que me interessa ter tantos amigos pelo meu poder?
Ter chance na vida de comprar aquilo que sempre sonhei?
Tendo a certeza de jamais perder por que não ganhei.
E as últimas fichas, que são minha vida também vou perder.

Não sou pessimista como alguém pode até pensar.
Sou tão realista que já sei até o numero que vai dar,
Não quero enganar mais este meu pobre coração,
Que bate forte no peito chamando a minha atenção,
Mentindo que ainda tenho alguma chance a felicidade.
Apontando o treze quando não tenho fichas mais na mão.

Perdi até o fio da meada nesta minha louca poesia,
Também esperar o que de quem na vida sempre perdeu,
Porém ainda tenho umas poucas fichas de baixo valor,
Aceitas entre jogadores que o mundo esqueceu.
Senta ai meu amigo e joga comigo a ultima partida,
É fácil ganhar de alguém, que não quer mais nem a própria vida.

domingo, 15 de fevereiro de 2009



A Poesia
J. Norinaldo.


Os sonhos e os salmos poemas perfeitos,
Mal interpretados não são benfazejos.
Os salmos são sonhos da alma acordada,
Os sonhos são salmos do corpo em repouso.
Sonhando com salmos a alma liberta,
Decifrando teus sonhos serás um poeta.

O homem não tem o controle dos sonhos,
Sonha todos os dias, mas às vezes esquece.
O poeta que um dia escreveu um salmo,
Oração poética com poder de uma prece,
Todo homem tem dentro si um poeta,
Mas a alma revela só a quem merece.

Fazer poesia nunca foi privilégio.
O poeta é um ser sempre atormentado.
Tentando mostrar as belezas do mundo,
Aqueles que pensam que o mundo é malvado.
Consegue beleza em lágrimas soluços de dor,
Um salmo não é mais que um poema de amor.

Já se foi o tempo em que à poesia era só lirismo,
Que falava do mar, primavera luar e das flores.
De reinos de fadas de princesas em eterno sono,
De príncipes encantados e de grandes amores.
Hoje representados em grandes teatros,
Por poetas da vida que chamam de atores.

Seguindo as premissas citadas acima,
Deixando de lado a métrica à rima,
De muito antigamente até hoje em dia,
Daqueles poetas que escreveram os salmos,
O poema do pão e do vinho da eucaristia.
O que seria do mundo sem a poesia?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009



Para a Poetisa Sara Lima.
J. Norinaldo.

O barco a bruma o velho assoalho,
Lembra o cascalho do fundo do rio.
O quadro pintado com tanto primor,
Nas linhas retas às vezes tremidas,
No céu cinzento sem brilho, opaco,
Quem sabe o momento que vive o pintor.

Tem muito talento quem pinta a beleza,
Mesmo com a tristeza em seu interior.
Trazer felicidade a quem não cabe o problema,
Mas a alma ferida é quem lhe dita o tema.
Um barco a deriva, a floresta a montanha,
A poetisa que ama suscita ao poema.

Mesmo que o quadro fossem apenas rabiscos,
De uma mão sem controle pelos calos da vida.
De quem já esqueceu os contornos da arte,
E já não mais distingue as tintas na sua aquarela,
O amor segurando o pincel a fazer sua parte,
E novamente o seu céu terá a cor mais bela.

A poetisa o pintor, o quadro a ilusão perdida,
E o postergar da partida não serão as cenas finais.
Partirá a poetisa e também o pintor com certeza,
Restará a beleza do poema e do quadro aos anais.
Os seus nomes citados em velhos alfarrábios,
A poetisa e o pintor, que serão para sempre imortais.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009



A Felicidade
J. Norinaldo.

Livre, tão livre como a própria liberdade.
Sem asas voar, sobre o mar, voar e voar.
Mergulhar profundo respirar sob o mar,
Dançar entre corais coloridos dançar e dançar.
Arraias gigantes em volta valsas a bailar,
Um coro de baleias Jubartes alegre a cantar.

Delfins azuis se contorcem em sorriso,
Linguados em leque como a me abanar.
Tubarões perfilados a me ver passar,
Águas vivas brilhantes a me iluminar,
Cavalos marinhos montados por estrelas do mar,
Livre, voando, nadando voar e nadar.

A felicidade tão desconhecida e sonhada,
Que o homem buscas nas coisas terrenas,
Procura sozinho sem saber o que quer,
Valoriza tesouros e outras coisas pequenas.
Esquece o pode que tem de sonhar,
Com os sonhos aprender sem asas voar.

De que me adianta viver este sonho tão lindo?
Sem ninguém pra me ver, me aplaudir me invejar.
Dizer para o mundo o quanto me viu ser feliz.
Volta-me a tristeza, ao ter a certeza que dessa maneira,
Depois destes versos de um sonhador, um poeta aprendiz,
A humanidade jamais conhecerá a felicidade total, por inteira.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009



O Velho.
J. Norinaldo.

Um homem velho, muito velho, muito velho,
Barba longa, fios brancos cabelos ralos,
Sentado em uma pedra muito velha, muito velha.
Suas vestes uma velha túnica desbotada e rota,
Que ganhara de um diácono muito velho.
Seria ela bem mais velha que o velho.

O velho pensa em quando ainda não era velho.
Mas, que velho ficava a cada segundo passado.
Muito tempo se passara desde então e agora...
Muito tempo para trás e pouco tempo a sua frente.
Tempo curto para colher o que plantou,
Muito tempo para pensar no que restou.

Tanto tempo aprendendo a ficar velho,
Agora velho sem lembrar o que fazer.
Quando menino morria de medo dos velhos,
Agora velho se escondendo dos meninos.
Já correu, já amou, já foi amado e desprezado,
Despreza agora o tempo que ainda lhe resta.

Logo agora que acreditava saber quase tudo,
Não tem mais tempo pra ensinar o que aprendeu.
Ninguém para e senta nessa pedra pra escutar,
E se alguém senta, não adianta já esqueceu.
E essa túnica ridícula ensebada e tão antiga...
Na verdade já não lembra quem lhe deu.

O fogo e a pedra são mais velhos que o velho,
E o chão onde os pés descalços repousam.
Terá sido feliz antes de ficar velho este velho?
Ou será feliz agora por que pressente que é hora,
De deixar a pedra e o fogo para outros que virão,
Pisar o chão, sentar na pedra onde senta o velho agora?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009



A Ágora
J. Norinaldo


Ágora agora é passado e tão distante,
Já não é mais um local para assembléias,
Mesmo assim ainda serve de mercado,
Para os vendilhões da fé e de idéias.
Para aqueles que dizem que encontraram a verdade,
E a transformaram em panacéia.

O filósofo que na Ágora buscava a verdade,
Brindou a sabedoria com uma taça de cicuta.
Na Ágora talvez nasceu a democracia,
A cicuta foi trocada por tortura e covardia,
Agora a inverdade em vez da filosofia,
É o que a humanidade aprecia e escuta.

O tempo da Ágora vai longe, muito longe,
Porém, alguma verdade ainda permanece.
Outro homem veio para mudar o mundo,
Além de filosofia nos ensinou a prece,
Agora apenas por ganância e poder,
O homem finge que não o esquece.

Promessa são feitas com dedos cruzados,
Quem fez esqueceu o juramento de Hipocrates.
Os que pregaram Jesus numa cruz justificam,
Não darão novamente cicuta para Sócrates,
Se o Filho de Deus voltar novamente,
Trazendo a verdade eles não o crucificam.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009



A Colheita.
J. Norinaldo


A vaga medonha que agita a procela
O fio tecido que esconde a nudez.
O corte profundo que deixa seqüela,
O grito da terra que acorda a surdez.
A estrela que morre, mas a luz não finda.
A poesia que luta contra a insensatez.

A menina que luta desesperada para se tornar mulher,
Como um fruto ainda verde grudado no galho.
Numa luta sem trégua para chegar à colheita,
Fugindo de quem lhe oferece um atalho,
Para cair bem mais cedo na vereda da vida,
Em teias urdidas com fios de orvalho.

O brilho do ouro que cega e domina,
Devasta as muralhas que protegem o moral.
Corrói as correntes que prendem o nefasto,
Tornando mais plana a estrada do limbo.
Levando o homem direto ao umbral,
Que alimenta a lasciva com o mais tenro pasto.

O manto criado para cobrir a nudez,
Hoje reinventado provoca e suscita.
O anjo alado de pernas perfeitas,
Antes venerado no presente excita.
A mulher comedida que anda na rua,
Hoje é preterida por quem sai quase nua.

O ouro e a moda ditando os costumes,
E o mundo seguindo sem reclamar jamais.
Reinscrevendo a história apagando o passando,
Esquecendo da glória dos seus ancestrais.
Um dia tudo isto será passado a limpo,
E neste garimpo muitos, ficarão para trás.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009



Devaneios
J. Norinaldo.


Em meus devaneios sonhando acordado,
Sozinho num deserto com rios e mares,
Com torres e templos e centenas de lares,
Milhões de pessoas a me sufocar.
Que sinto tão perto ao alcance da mão,
Distantes, no entanto do meu coração.

Não sinto o cansaço ou o sol abrasante,
Não vejo miragens de um oásis distante,
Minha sede é na alma e no meu coração,
Num deserto de sombra sem sol ou areia,
Onde sobra conforto, porém falta razão.
Na violência e discórdia que o homem semeia.

Nas dunas das esquinas prostituem-se meninas
Para quem a vida negou-se estender a mão,
Antes mesmo de dar-lhes uma chance mais justa.
São as mariposas mirins da vida noturna,
Que deviam ter medo da noite e da escuridão.
Nefasto poema que a vida dedica a quem lama degusta.

Velhas precoces que morrem amiúde,
Em cada atitude que vida lhes impõe.
Um futuro que aponta sempre a sarjeta,
A parede de barro num pobre ataúde,
Um pequeno pária que o mundo rejeita.
Inocência comprada pelo cobre que ilude.



Rio Uruguai
J. Norinaldo


Este rio é muito velho contava meu bisavô
Histórias do Rio Uruguai contadas por seu avô.
Causos de assombração, tempestade afogamento.
Histórias de contrabando de valentia e de medo,
Mistérios de algum segredo por este rio guardado.
A beira de uma fogueira jogando conversa ao vento.

Histórias de muito sangue que já tingiu esse rio.
Histórias de noites longas a espera do Sapucaí.
Lendas de barcos com navegantes fantasmas,
Que singram em noites escuras as águas do Uruguai.
Histórias de homens a quem deu muita fortuna
Mas que levou muita gente, deixando filhos sem pai.

Contava meu bisavô que este rio era estreito,
E que com água pelo peito se ia até a metade.
Que tinha peixe em quantias era limpo barbaridade.
Uruguai onde eu menino pescava o lambari,
Banhava-me em praia rasa vigiado bem de perto,
Hoje é quase um deserto e só me resta à saudade.

Agora me vem um Piá que mal saído dos cueiros,
Com livros anéis e diplomas dizendo ser importante.
Ignorando o que disse o velho avô do meu pai,
Acho que foi pra cidade se tornar ignorante.
Prefiro morrer agora a acreditar nessa verdade,
Que o meu Rio Uruguai é um rio agonizante.

Porém isto não é tudo, mas vou lhe contar direito.
Falou com voz de arauto o moço estufando o peito.
Que o rio é responsável por toda chuva que cai,
Que quando é represado modificando seu leito,
O que o grande arquiteto fez o homem ora desfaz,
Mas depois não é capaz de modificar o efeito.

O que mais me entristeceu na conversa desse moço,
Mesmo depois de saber o que disse o avô do meu pai.
Quem ainda não cruzou o rio sem se molhar, um dia vai.
E me disse certa coisa que me causou calafrio,
Saber histórias do rio não me tornaria um herói,
Sabe o que mais me dói? É que sou um dos assassinos do rio.