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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010



Perguntas.
J. Norinaldo.

Purgam as chagas dos leprosos,
Concitam as moscas ao festim,
Pergunta-se ao alto o porquê,
A resposta: por que tem que ser assim.
Assertiva que é aceita aqui em baixo,
Jamais será aceita por mim.

Busco tais respostas no silencio,
Debato com o vento por dever,
Divergir talvez me faça um herege,
Tornando minha vivenda num frege;
Se do mesmo barro somos feito...
Por que alguns são feitos pra sofrer?

No caminho dessas dúvidas encontrei,
Um sábio no deserto do nirvana,
Perguntei-lhe por que tanta diferença,
Se somos criação do mesmo pai,
Ele mostrou-me apenas sua tigela...
Que era de barro, e não de porcelana.

Continua a purgar a lepra imunda,
Ai daquele que um leproso tocar,
E Lázaro que o Cristo ressuscitou,
Que mensagem para o mundo quis deixar;
Se a lepra até hoje não tem cura...
Então Lázaro leproso continuou?
O Último Gole.

J. Norinaldo.


O último gole no segundo final,
O franzir da testa a mordida no lábio,
O olhar para o céu de estrelas tão baixas,
A leitura nas faixas do ano que vem,
Promessas que não iludem o sábio...
Que vê no alfarrábio a riqueza que tem.

No brilho do branco a paz esperada,
Na ponta da espada a balança da lei,
E a esperança vestida de trapos,
Recolhe cavacos para aquecer a vida;
No branco caminho no vidro da mesa...
A pobreza do sonho que eu mesmo criei.

E a pomba da paz coberta de óleo,
Do negro petróleo que move a ganância,
O mais novo tanque que roda na terra,
Fomentando a guerra esmagando a vida,
E o ouro branco no tampo da mesa...
Um dia foi verde a cor da esperança.

Feliz Ano Novo e um novo horizonte,
Que sob a ponte corra água potável,
Que se cheire somente o perfume das flores,
Que cheirar os caminhos seja um ato execrável;
Que as esquinas não sejam lugar de meninas...
Que o mundo não seja mais tão miserável.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010


UM FELIZ ANO NOVO
J. Norinaldo
Desejo a todos os amigos o que rogo a Deus para mim,
Que a paz invada seus lares a felicidade seja constante,
Não falte o pão sobre a mesa, nem o agradecimento,
Em cada esquina um sorriso e um abraço sincero;
E cada dia do ano uma estrofe de um poema...
E em cada coração o mais nobre sentimento.

Que cada filho veja no pai o maior super herói,
E mais virtude na mãe além das que ela já tem,
Que os caminhos sejam largos sem atalhos da malícia,
Que se ensinem as crianças fazerem apenas o bem;
Para que o meu poema não seja nunca esquecido...
Sem esquecer do passado vivamos o ano que vem.

Vamos lembrar o John Lennon neste ano que chega,
Ou da filosofia grega tirarmos algum proveito,
Imaginando um mundo se abraçando o ano inteiro,
Dois corações bem juntinhos batendo dentro do peito,
Difícil até pode ser, impossível não será...
Estou de braços abertos pra quem quiser me abraçar.

O que se escreve na areia, o vento vem e carrega,
Se quiser escrever para sempre que seja escrito no bronze,
Escrevo na madrugada vendo uma estrela brilhante,
Que peguei por testemunha desse momento importante;
O que a minha alma ditou e com as tintas da emoção...
Desejo de coração a todos um feliz Dois Mil e Onze.

Tardio Perdão.
J. Norinaldo.


Inflama-me a alma angústia incontida,
Saber-te perdida nos braços de alguém,
Inocência iludida pela beleza do mal,
Como a rosa colhida com tanto carinho...
Que enfeita a tristeza de um funeral.

Enquanto carrego este fardo de dor,
Tu falas de amor a quem não te ama,
Enquanto eu sofro a insônia cruel;
Brindando a dor com uma taça de fel,
Tu falas no céu, mas em outra cama.

E o vento me traz os gemidos da noite,
Como um açoite deste amor bandido,
Não correspondido do lado de lá;
Quem sabe mais tarde tu te arrependas,
E aprendas com o amor não mais brincar,
Sofrendo te dando, sem ninguém te dar.

O triste na vida é voltar ao começo,
Sem ter endereço a quem procurar,
Pedindo de joelhos, implorando perdão,
A quem tanto sofreu só por te amar;
E de tanto chorar se afogou na solidão...
E só o Homem da cruz para te perdoar.






terça-feira, 28 de dezembro de 2010


UM FELIZ ANO NOVO
O Rosário do Vinho.
J. Norinaldo.


O feitiço da taça o rosário do vinho,
Enfastiam a alma enfatuam a matéria,
Sem soberba o cristal seu brilho efetua,
O rosário do vinho que a vida cultua...
Talvegue que aparta o fausto da miséria.

O caminho a estrada, a picada a viela,
Que o artista pincela com rara destreza,
A alcova a esteira o catre ou a rede;
Valorizam a tela não por sua beleza,
Mas sim o castelo e o lugar na parede.

O perfume tão raro com o vento se vai,
A beleza se esvai como a chuva na poeira,
Como a neve tão alva depois vira lama,
O brilho da taça, a alcova, o catre a rede...
Um copo de barro sem brilho sacia a sede.

Na hora do brinde saúda-se a vida,
Em contrapartida se quebram cristais,
A beleza efêmera com o tempo vai,
O rosário do vinho não conta orações...
Cacos da taça no lixo brilham ainda mais.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Pensar para não Usar.
J. Norinado.


Denúncias vazias em fóruns desertos,
Apelos discretos que ao amor renuncia,
Decotes que mostram o colo da morte,
Afiando a foice na fumaça da noite,
Na pedra do crack da cruel fantasia.

No caminho da vida uma pedra sinistra,
Sem prévio aviso ou um desvio qualquer,
Na sombra da pedra a morte se esconde,
E oferece o cachimbo sem fumo ou rapé,
E o fim da estrada, mas só fuma quem quer.

A terra oferece o sustento da vida,
Em contrapartida o veneno a quem quer,
Um retorno precoce ao pó de onde veio,
E o decote que mostra o colo da morte...
Também oferece o leite do seio.

A ciência procura preservar a vida,
Curando a ferida a saúde prorroga,
Não existe nenhuma felicidade em pó,
Decotes são muitos, mas o colo é um só...
Para quem garimpar a mentira na droga.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010


Um Conto de Natal
j. Norinaldo.

Um casal do interior do Rio Grande do sul, tem um casal de filhos, Jéssica de 10 anos e Thiago de 8, no Natal a família ganhou de um fazendeiro amigo, dois carneirinhos para a ceia, este deixou-os na residência dos amigos dois dias antes da festa. D. Marinalva, mãe das crianças pretendia mandá-las passar o dia na casa de uma tia para que não assistissem o sacrifício dos pequenos animais. No dia 24 bem cedo, chegou acompanhada de um homem a quem contratara para carnear os carneirinhos. Quando avisou que levaria as crianças para a casa da irmã, teve uma surpresa: ambos relutaram dizendo: mãe, sei que não quer que vejamos matar os carneirinhos, vê-los mortos e esquartejados depois doerá da mesma forma; não se preocupe que vamos buscá-los. O dito homem já afiava sua faca, quando tiveram mais uma grande surpresa, aparecia a sua frente, cada uma das crianças puxando um dos carneirinhos, banhados, escovados e cada um com uma toquinha vermelha na cabeça.
Pronto mamãe!, Nós os preparamos para morrer e para que possamos comer a sua carne na ceia de Natal. D. Marinalva quase cai para trás ao ver a doçura e a beleza daquelas pequenas criaturas, que pareciam ter sido criadas pelos seus filhos. Com os olhos marejados, olhou para o homem e disse: tome! Aqui está o que lhe prometi para matá-los, muito obrigado, mas não vai ser preciso. O homem rude, que também tentava esconder uma lágrima teimosa, recusou o dinheiro dizendo: _ Obrigado minha senhora, nunca pensei que ficaria feliz em não realizar algo que faço com freqüência, a partir de agora, tenho certeza que toda vez que pendurar um carneiro para sangrá-lo, me lembrarei deste gesto, e com certeza não vou fazê-lo.
Quando a noitinha o pai das crianças chegou em casa, sua esposa lhe reportou o acontecido, muito feliz pela atitude dos filhos apenas disse: não esqueça de dizer-lhes que serão responsáveis a partir de agora pelo recolhimento dessas esperinhas pretas que já vi lá na sala próximo a lareira.
Criei esta historinha pensando numa senhora que conheço, hoje com mais de 60 anos, que por nada do mundo come carne de ovelha, criou uma ovelhinha guaxa e no Natal seus pais a mataram. Um Feliz Natal a Todos, inclusive o s carneirinhos que escaparem da morte.

Mona Lisa.
J. Norinaldo.


A obra do mestre retrata na tela,
A moça tão bela de sorriso triste,
O enigma do olhar não há outro que pinte,
A mão que pintou já não mais existe...
Em que pensava ao pintá-la Leonardo da Vince?

Quem tanto encantava La Gioconda?
Seria eu um louco perguntando a esmo?
A cada pergunta me fogem as respostas,
Qual o teu mistério bela Mona Lisa,
Leonardo da Vince pintando a si mesmo?

Quantas vezes me fiz esta mesma pergunta,
A maneira que olham estes olhos teus,
Será que da Vince era tão orgulhoso,
Que num gesto tão pretensioso...
Quis ser adorado como o filho de Deus?

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Senhor do Castelo.
J. Norinaldo.


O senhor do castelo não é sábio,
Os dedos da mão não são iguais,
Todos os caminhos levam a Roma,
Não há chama nos brasões pessoais,
Os ditos loucos na verdade são normais.

Os caminhos que levam ao castelo,
Levam a Roma e também ao fim da linha,
O castelo é uma casa de passagem,
Tão inútil durante a estiagem,
Como um canteiro de erva daninha.

A chuva cai da nuvem cristalina,
Mas rola na sarjeta como lama,
O sábio sem castelo nem brasão;
Conhece de cor todos os caminhos,
E sabe bem aonde todos chegarão.

Quando cessam as pegadas no caminho,
E o portão do castelo está fechado,
O seu senhor do outro lado sozinho,
Nem a sombra a segui-lo como antes...
Tendo somente por companhia seu cajado.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010



Sinos de Belém.
J. Norinaldo.

As notas que emitem o bronze dos sinos,
Dedos que harpejam estrofes de hinos,
Vozes que gritam amores perdidos,
Campos floridos ventos que cantam,
Mãos que catam os frutos caídos.

A fome que assola o mundo perdido,
A luxúria degola a antiga inocência,
A coerência se esconde na torre do sino,
As flores do campo perfumam o vento...
Em cada monumento a estrofe de um hino.

A cada dezembro se cultua um menino,
E se ouve no mundo o badalar do sino,
E o galo é lembrado não por Esculápio,
E no coro de vozes sempre o mesmo hino,
Que foi decorado sem fé e sem tino.

O tropel das renas alerta os miúdos,
Sortudos que aguardam o presente sonhado,
O aniversariante, portanto esquecido,
Na hora dos abraços, não é abraçado...
Por Papai Noel já foi preterido.

sábado, 18 de dezembro de 2010



Promessas Vãs.
J. Norinaldo.

FELIZ NATAL A TODOS.

As estrelas brilharão no firmamento,
O nosso amor para sempre viverá,
Se a beleza for embora não me importo,
Só não suporto é que um dia você se vá;
Todos os sonhos um dia serão verdade,
E a felicidade no mundo prevalecerá.

Todos os homens um dia serão amigos,
Se abraçando a cada encontro todos os dias,
E nós, será a palavra mais dita em cada boca,
E as guerras serão sempre de alegrias;
A fome será lenda dos tempos idos,
Os bandidos dos contos de fantasias.

A inocência voltará para as crianças,
As más lembranças o tempo apagará,
Toda noite em cada lar será Natal...
Quando um pai seu filho abençoar,
E as estrelas brilharão no firmamento
A Árvore de Natal que jamais se apagará.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010



Travesseiro Úmido.
J. Norinaldo.


Quando a noite se despede das estrelas,
E o sol vem chegando de mansinho,
O cansaço da insônia me domina,
O travesseiro úmido do meu pranto;
Conclama ao poeta a triste rima,
Mais uma noite que se foi sem acalanto.

Mais triste é saber que outra noite,
Virá tão serena e enluarada,
Que a estrela Dalva na madrugada,
Que apontavas dizendo que era tua,
Enquanto me beijavas com desejo,
E me chamavas divinamente nua.

Vem o sol, vem à chuva e vem a lua,
A primavera, o inverno e o verão,
A estação que mais sofro é o outono,
Quando vejo as folhas mortas pelo chão;
Quantas vezes visitamos o paraíso,
Tendo essas folhas mortas por colchão.

Lembras do riacho cristalino lá no bosque?
E as borboletas voejando ao teu redor,
O riacho já não corre mais, secou,
E com ele se foram as borboletas;
Não tem graça procurá-las assim tão só...
A solidão e a saudade é o que me restou.

Na primavera as flores não tem perfume,
Nem ciúme sinto mais, não tem por que,
A macieira que plantei não dá mais fruto,
Mesmo de luto, luto pra não te esquecer;
Sei que morri no dia em que te fostes...
Portanto, medo já não tenho de morrer.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Minha Taça de Cicuta.
J. Norinaldo.

Minha alegria hoje ficou bem menor,
Já era pouca e parte dela se esfacelou,
O que mais dói é saber que não há volta,
E este grito que a garganta não solta,
Por medo de uma lei que alguém criou.

Mas eu grito para dentro de mim mesmo,
Se a esmo eu gritarei mesmo assim,
Alguém há de escutar meu grito louco,
Já me disseram que Deus está dentro de mim,
Porém meu grito esmaece pouco a pouco.

Se gritar ao mundo quiçá seja ouvido,
Talvez punido por violar um tratado,
Que sentencia a morte a quem me escuta,
Que me ofereçam uma taça de cicuta...
E tenha o grito para sempre abafado.

Existem poetas que falam sempre de flores,
Grandes amores, fortes desejos paixões,
Mas é na dor que o poeta encontra a fonte,
Que cruza a ponte sobre as desilusões,
Que queima a alma com a lava dos vulcões.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Assim Caminha.
J. Norinaldo.

Besuntar o corpo com a alma seca,
Abraçar o vento com uma velha rede,
Regar o jardim aos olhos alheios,
Comer os recheios em nome da gula,
Defecar na água que lhe mata a sede;
É usar os arreios no lugar da mula.

Freqüentar o templo por temer a dor,
Falar num senhor com intimidade,
Renegando a besta com um nome qualquer;
Afiando a espada da insanidade,
Que degola e mata em nome da fé,
É assim que caminha a humanidade.

Levantando muro que esconde o tesouro,
Avança ligeiro a buscar o futuro,
Com unhas de ferro destruindo a terra,
E o grito de guerra que fala em caveira,
O sorriso triste nos dentes da serra...
Cultivando a planta que não dá madeira.

A moeda fácil que sustenta o vício,
De quem já tem tudo, mas quer muito mais,
A divulgação do que está na moda;
Cheirar numa roda que gira pra trás,
E os cascos da besta vão calando fundo...
Esmagando o mundo e seus ideais.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Flor em Botão.
J. Norinaldo.


Doeu-me tanto perder-te não posso negar,
Meu amor, no entanto no tempo resiste,
Deixaste-me ainda uma flor em botão,
Com o perfume inocente que a alma cultiva,
Reencontrar-te despetalada e triste...
A dor tornou minha triste alma cativa.

Mesmo que a vida me mostre o caminho certo,
Procuro o deserto o mentir da miragem,
Não serei feliz ao saber que não és,
Não tenho o direito tampouco coragem,
Para te implorar que voltes para mim,
Mesmo despetalada enfeitar meu jardim.

Seguirei te amando enquanto existir,
Na árvore dos sonhos tenho um ninho vazio,
Quem sabe um dia você me procure,
Tuas chagas eu cure e te aqueça do frio,
E o vento cante para nós a canção...
A versão verdadeira de amantes no cio.

A tua lembrança que cala minha alma,
Na noite tão calma de estrelas no céu,
Perdido sem rumo como louco divago,
Nos meus devaneios o teu corpo sem véu,
E que és o corcel que eu ginete cavalgo...
Enquanto me embriago com uma taça de fel.


sábado, 4 de dezembro de 2010



Marca no Cabo da Adaga.
J. Norinaldo.



Na marca do cabo da adaga,
O olhar do velho inquisidor,
A porta que range com o vento,
A estrela morta não se apagou,
A resina no troco já sem galhos;
Um castelo que fica sem senhor.

O vento que sopra da montanha,
Endurece a resina em sua chaga,
A cruz que é polida por bondade,
A luz da estrela que morreu ainda brilha,
Nem a mão que fez a marca na adaga...
Escreveu o poema da maldade.

Quem serviu como marca na espada,
Só perdeu o duelo para a vida,
Seu castelo já tem novo senhor;
A resina do troco já sem galhos,
Com o vento e o tempo petrificou,
Em fim a estrela morta se apagou.

Quando a chuva molha o tronco já sem vida,
Enquanto as portas do castelo rangem ao vento,
As estrelas brilham lá no firmamento,
E os troncos crescem vivos nos salões,
Ratos brincam e defecam nos brasões...
E a Adaga sobre o mofo dos porões.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010



O Sangue da Terra.
J. Norialdo.


No olhar de cobiça do corvo,
E a premissa no vôo do falcão,
Como a flecha lançado do céu,
Como a sonda que perfura o chão,
Em busca do sangue da terra...
Que traz guerra e poluição.

Como o bote da serpente,
É o dente da serra na mata,
É o ferro que cava na terra,
A procura do ouro e da prata,
E o homem arquiteta seu fim...
Em nome da ganância insensata.

Mas a chuva continua a cair,
E o rio está sempre a correr,
Não sei se fugindo de alguém,
Se pudesse eu fugia também,
Mas não tenho onde me esconder,
Sem saber se me escondo de quem.

Pois o sangue negro da terra,
No fundo do mar se escondeu,
Nem assim escapou da sangria;
Ninguém vê que desta transfusão,
Sobra a guerra e a poluição;
E a terra uma grave anemia.

terça-feira, 30 de novembro de 2010



Minha Sombra.
J. Norinaldo.

Caminho cansado com o fardo do tempo,
Só a sombra a seguir-me por todo caminho,
Sem desviar as pedras assim como faço,
Como o laço que une a rosa ao espinho,
As vezes se esconde como o sol numa nuvem,
Mas guarda os segredos que resmungo sozinho.

O caminho é tão longo e o cansaço tão forte,
Meu rumo é o norte que alguém apontou,
O peso do fardo diminui o meu passo,
Meus pensamentos caminham a frente;
Minha sombra calada como um fantasma,
Que segue seu dono mesmo no fracasso.

Minha sombra se veste assim como eu,
Com retalhos que restam da mortalha da vida,
A cada remendo que a agulha coseu...
É uma ferida uma chaga de espinho,
Mas a sombra não sofre a dor é só minha,
E o fardo do tempo carrego sozinho.

Minha sombra não segue depois que eu cair,
Cairá comigo na poeira da estrada,
Até que poeira eu seja pra sempre,
Terei como amiga uma sombra sisuda,
Seguindo-me sempre por todo caminho...
Ou eu fui a sombra que falava sozinho?




sexta-feira, 26 de novembro de 2010


A Águia e o Abutre.
J. Norinaldo.


Não percebes que a soberba é tão mesquinha,
Como a beleza que nos prende é tão fugaz,
Veja a rosa de passagem tão efêmera...
E sem soberba quanta beleza nos trás.

Uma águia no seu vôo majestoso,
Não desvia de um abutre por orgulho,
A flor de Lótus só nasce onde houver lodo...
E um diamante é achado em pedregulho.

O colibri não escolhe a flor que beija,
Alguém já ouviu falar num beija rosa?
Quando um poeta escreve algum poema,
É a alma brincando de fazer prosa.

Jamais use a sua beleza como arma,
Não critique o autor da obra inteira,
Não desdenhe dos dotes que são meus...
Você pode ser belo, mas não Deus.


quinta-feira, 25 de novembro de 2010



Tua Ausencia.
J. Norinaldo.


Assim como o arado rasga a terra,
Tua ausência dilacera minha alma,
Da terra brotam a vida e as flores,
Em mim restam as chagas e as dores,
Enquanto a chuva molha a terra com ternura...
Minhas lágrimas regam canteiros de amargura.

Minha alma é uma colcha de retalhos,
Minha vida o jardim dos desmazelos,
Nos meus sonhos, delírios, devaneios,
Quando beijo os teus lábios os teus seios;
Desperto e mergulho em pesadelos,
Tendo sempre ao meu lado o vazio.

Lá fora o vento canta uma triste canção,
E a chuva chora na vidraça do meu quarto,
Fecho os olhos e até sinto teu perfume,
Esqueço o mofo que envolve o meu ser,
Penso na morte e até sinto ciúme...
De quem se foi e eu fiquei não sei por que.

Ah! E lá se vai o arado seguindo o boi,
Deixando atrás o rastro fundo que trás vida,
Ouço sempre a canção que canta o vento,
Triste seresta que entristece meus caminhos,
Nem a beleza da primavera me fascina...
O meu jardim é um canteiro de espinhos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Rito da Cruz.
J. Norinaldo.

Sobre a água não ficam pegadas,
Palavras faladas o vento carrega,
Escritos antigos de seres humanos,
Que fazem gritar exércitos de insanos,
Mantendo de pé o rito da cruz.

Sermões se perderam além da montanha,
Como flechas de gelo atiradas a esmo,
Como o canto do corvo diante da morte;
E o vinho servido na mesa do nobre,
Embriaga o pobre na roda da sorte.

Os punhos cerrados gritando em louvor,
Palavras de ordem que alguém ensinou,
Pela roda cunhada com a face do rei,
No alto da nave a palavra é vendida,
Como mercadoria de muito valor.

Se foi o sermão, mas ficou a montanha,
Como se vão os dedos e ficam os anéis,
Ruínas que mostram que tudo é finito,
E que a cruz foi nosso erro maior...
Quem O crucificou não ouviu nenhum grito.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Rei Mandou.
J. Norinaldo.

Ataviar com ouro a falsidade,
Entronizar o tirano por idéia,
Cultivar o veneno por engano,
Censurar a beleza da plebéia,
Escolher por capricho a abelha,
Que virá será a rainha da colméia.

Girar o timão no rumo certo,
O certo que você mesmo escolheu,
Indicar a estrela mais brilhante por farol,
Separar quem terá direito ao sol;
Que os aplausos cessem a um sinal,
Recomendar os livros que escreveu.

Espionar do alto do castelo que não é seu,
Quem não segue o que o rei determinou,
Quem não leu o tal livro indicado;
Quem parou de aplaudir sem ser mandado,
Ou a plebéia que se enfeita com capricho...
Seu jardim foi esquecido, abandonado.

Se um dilúvio se abater sobre o deserto,
E por acaso o vento apagar sua candeia,
Depois se ajoelhe e agradeça pela graça,
Pois quando a chuva cessa e tudo passa,
O oásis está como uma taça cheia,
Não haverá tempestade de areia.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Voz do Vento.
J. Norinaldo.

A voz da discórdia e da vindita,
Ecoa como um grito de loucura,
O zumbido de uma vespa que perdura,
No ouvido de quem não se diz louco,
Que tão pouco conhece de ternura.

Não busques no rugir do furacão,
Nenhuma lição que a vida ensina,
E sim no cochichar da brisa mansa,
No olhar de uma ave de rapina...
Não verás a ponta afiada de uma lança.

Não escutes a voz que vem do lodo,
O vento mensageiro tudo espalha,
Tanto faz o grito louco da discórdia,
Como alvísssaras felizes da concórdia...
Como o corte profundo da navalha.

Não sou poeta e sim um pobre louco,
Que consegue navegar o pensamento,
Que juntando palavras vai dizendo,
Que o zumbido da vespa vai crescendo...
Para quem não entende a voz do vento.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010


Fogo Frio.
J. Norinaldo.


Por periféricos e sombrios becos,
Úmidos leitos de tísicos terminais,
Pisando sobre escarros escarlates,
O zumbido das moscas infernais,
Como um fétido véu de sangues secos,
Sobre vísceras penduradas em varais.

Vejo feras mastigando corações,
Que ainda batem em peitos dilacerados,
Sinto o ódio no olhar dos meus carrascos,
Vou sereno em direção ao cadafalso;
Invejo as moscas no seu banquete de pus...
Olho os meus pés e orgulhoso vejo cascos.

Ah! Bukowski por que fostes morrer?
Quem te deu o direto de fugir?
Desenhavas tão bem o que é sofrer,
E ser feliz simplesmente por saber,
Aceitar esses becos como abrigo,
Que ser feliz é só questão de querer.

Ah! Como é nobre essa minha depressão,
Que me mostra quão pequeno ainda sou,
Como a mosca que voa num corredor vazio,
A donzela dorme sobre um colchão macio,
A espera do seu tísico, seu senhor,
Depressiva assim como um fogo frio.

domingo, 14 de novembro de 2010

Pedras para Construir, não Destruir.
J. Norinaldo.

Apedrejar a Maria por cometer adultério,
É só mais um despautério cometido pelo homem,
Adultero confesso em nome da vaidade,
E se fossem lapidados por um crime tão comum,
Faltariam pedras ao mundo para lapidar cada um,
Aqueles que julgam em nome do dever e da verdade.

Atire a primeira pedra aquele que não cobiçou,
A bela mulher do próximo e que nem sequer pensou,
Em levá-la para a cama num belo sonho de amor.
Quem sou eu para julgar os pecados de alguém,
Que não cumpriu os mandamentos que eu não cumpro também,
Que atire a primeira pedra aquele que nunca pecou.

Adúlteras mal amadas, mas com o dever a cumprir,
Como objetos de luxo alcovas enfeitam em vão,
Mercadoria vendida no mercado do cinismo,
Que apedrejem o mutismo sufocado em assembléias,
De onde surgem as idéias que apedrejam a razão,
Diga não a panacéia dos tribunais do machismo.

Não vamos atirar flores em adulteras confessas,
E sim cumprir as promessas feitas diante do altar,
Amor não só na beleza, mas na dor e na tristeza,
Até que a morte nos separe de verdade,
Que as pedras sejam atiradas nas serpentes...
Que atentam contra o amor e a lealdade.


sábado, 13 de novembro de 2010

O Tempo.
J. Norinaldo.

O tempo é o tempo que o vento não tange
Que vem de tão longe de um tempo qualquer
Não usa coroas e nem vive em palácios
Mas nos faz de palhaços desdenha da fé
Podemos até nos ampará do vento
Mas só pelo tempo que o tempo quiser.

O tempo é tão velho não sei se tão sábio,
Nenhum alfarrábio escreveu nesse tempo,
Rabisca direto no rosto da gente,
Letra diferente que ninguém decifra.
Se o barco a deriva precisa do vento...
Qualquer ser que viva deriva com o tempo.

Há tempo pra tudo, mas não temos tempo,
De buscar um jeito do tempo escapar,
Quanto mais tentamos mais tempo perdemos,
E o tempo não pára para nos ensinar,
Como o eco do grito que o vento devolve,
O tempo resolve que é tempo de parar.

Lembram do tempo em que tudo era assim?
Em que a família era o maior tesouro,
Não havia ouro que comprasse esse bem,
O tempo é o mesmo em nada mudou,
O ouro hoje compra tudo que se tem...
Em algum museu talvez haja, um baú de amor.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010


Escada de espinhos.
J. Norinaldo.


No vago das horas que preencho,
Com o vazio escuro do meu interior,
O doce perfume que a vida anestesia,
Na poesia tento amenizar a dor;
Como se o espinho no talo da roseira,
Fosse a escada para se alcançar a flor.

Palhaço sem circo ou picadeiro,
Cuja máscara a vida bem pintou,
No sorriso o simbolismo de um dilema,
Como a escada de espinho sem a flor.
Como uma estrofe de um triste poema...
Que a vida escreveu, mas não cantou.

Dói-me na alma as gargalhadas,
Para essas não existe anestesia,
Quando sou na verdade a palhaçada,
A própria dor me vestindo a fantasia,
Os espinhos da escada me ferindo...
Na existência de uma triste poesia.

Só me resta o direito a sonhar,
Pena que os sonhos chegam ao fim,
Sonho sempre com um rosto sem pintura,
E esqueço os sorrisos de amargura,
E a escada me leva a mais bela rosa...
Que transformo na mais linda criatura.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010


IMAGINE.

J. NORINALDO.

Imagine um mundo onde sempre é carnaval,

E John Lennon com seu bloco na avenida,

Onde a maldade seja apenas fantasia,

E o amor o combustível da vida,

Imagine todo planeta se abraçando,

Cantando junto um enredo de amor,

Numa guerra de confete e serpentina,

E em cada esquina um jardim cheio de flor.

Imagine um mundo sem preconceito,

Quase perfeito governado pelo amor,

Como uma fonte que jorra felicidade,

E os gemidos de prazer e não de dor.

Imagine os seus dragões de criança,

Brincando livres a correr com querubins,

Super Heróis sem o mal pra perseguir,

Plantando rosas e cravos em seus jardins.

Imagine, só imagine e me responda,

Se seria perfeito o mundo em fim,

E por que alguém assassinou...

Quem primeiro cantou um mundo assim?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Respostas e Perguntas.
J. Norinaldo

Respostas eu tenho tantas, tantas.
Até para as perguntas que não fiz,
Dúvidas, ainda as tenho, e quantas,
Coube a vida a missão de escolher,
Se devo perguntar ou responder...
Será que algum dia fui feliz.

Dúvidas, perguntas e respostas,
Todas postas em um prato da balança,
No outro, sonhos, perdas e encontros,
Desencontros, sofrimento e esperança,
A alma ensina, mas a vida não entende...
Aquele prato para onde o fiel pende.

Os caminhos são tantos a escolher,
Percorrer o escolhido cabe a mim,
Sem esquecer a resposta que procuro,
Se felicidade está naquilo que não fiz,
Terei vivido num labirinto sem luz,
Se descobrir que fui feliz só lá no fim.

Onde? Em que parte do caminho?
Se sozinho caminhei a vida inteira,
Deixando apenas as pegadas na poeira,
Assim como a água ao azeite não se junta,
Toda pergunta teria sua resposta...
Se fosse posta na balança verdadeira.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010


Tortura Nunca Mais.
J. Norinaldo.

Um nome escrito nas paredes do inferno,
Da tortura, do degredo e da humilhação,
Ressurge agora para ser bordado a ouro,
Pra comandar o Brasil e o seu tesouro,
Para constar nos destinos da nação.

E quem levou este nome pra caverna,
Quem usou a tortura por vingança,
Quem escreveu na parede aquele nome,
Tinha fome de justiça e liberdade...
Hoje é para o Brasil a esperança.

Uma estrela que tentou ser apagada,
Ofuscada por estrelas de metal,
Hoje volta a brilhar no nosso céu,
A liberdade tão sonhada e sem véu,
Ostentando a faixa presidencial.

Não foi em vão tua luta, teu sofrer,
A parede está lá pra quem quer ver,
Nem por isto deverá ser esquecida,
Pois quem esquece o passado está fadado...
A conhecer a história repetida.

domingo, 31 de outubro de 2010


Somente um Soneto.
J. Norinaldo.

Por que sonetos me soam tristes?
Por que insisto em assim pensar,
Que quase sempre falam de saudade,
Seqüelas da alma que não quer calar.

Sonetos nem sempre lamentos,
Como alguns acentos deixam de existir,
Exemplo: o trema da seqüela acima,
E que falta dela ninguém vai sentir.

Não faço sonetos, pois não sei fazer,
Gosto de um poema por ser mais intenso,
Escrevi este e nem sei por que,
Dando liberdade ao que quero e penso.

Pelo menos não me quedo triste,
Se nem soneto este escrito for.
Seria só algo que fala de um soneto,
Que soneto fala de saudade e dor.

Quem sabe um escreva um soneto,
Homenageando um beija flor,
Que ama uma rosa que não bate pétalas...
Mas lhes doa o doce do seu amor.

terça-feira, 26 de outubro de 2010


A Vida e a Felicidade.
J. Norinaldo.


Eu não aceito esta vida assim como ela é,
Por que tem que ser assim, por que assim alguem quer,
Seguir caminhos traçados sem procurar por desvios,
Beber da águas dos rios onde também lavo o pé;
Ser despejado da terra que não pertence a ninguém...
Curvar-me a elmos vazios em nome de alguma fé.

Buscar a felicidade num rosto cunhado em bronze,
Desencalhar a baleia num esforço de gigante,
Me adornar de medalhas gritar ao mundo quem sou,
Fechar os olhos ao arpão que a baleia encontra adiante,
Saborear o banquete que o patrão me ofertou,
Sem pensar que por vontade foi que a baleia encalhou.

Eu não aceito esta vida sem procurar meu caminho,
Mesmo que siga sozinho com um camelo a me seguir,
Se Deus é mesmo meu pai e acredito que seja,
Um pai que seu filho beija e lhe dedica seu amor,
Busco o amparo de um pai sem que precise pedir...
Eu quero falar com Deus sem precisar tradutor.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010


Estrada da Vida.
J. Norinaldo.

Certeza, só uma, incertezas tantas,
Quantas, não sei e nem quero pensar,
Amores, paixões e desilusões,
Flores que às vezes esqueci-me de dar,
Dores, afagos, estragos noutros corações,
Quantos lábios por medo, deixei de beijar.

A vida, vivida sofrida por vezes,
As mentiras, mentidas talvez por amor,
As mágoas, choradas mantidas na alma,
A felicidade buscada na estrada da dor;
As nódoas lavadas com a água da fonte...
A ponte, é por onde essa água passou.

Certeza só uma, incerteza ainda tantas,
Nas flores, nas plantas que alguém plantou,
Nas rosas colhidas com tanto carinho,
No voejar lindo de um beija flor;
No caminho findo nas pedras da estrada...
No nada escrito no lugar do amor.

A certeza da chuva e do rio que corre,
Da árvore que morre, mas que frutifica,
Da existência de Deus, do rubor no arrebol,
É incerta certeza que não justifica.
Com tanta grandeza que existe no sol...
No fim da estrada, só a estrada fica.





quinta-feira, 21 de outubro de 2010


Teu Corpo.
J. Norinaldo.


Deslizo o olhar pelo teu corpo,
Percorrendo cada monte cada vale,
Em sonho sou capaz de navegar-te,
Sem porto até chegar àquela parte,
Onde a paixão faz com que a razão cale.

A guiar-me o perfume desta fonte,
Como a flor que se abre para o amor
Uma cascata que derrama sedução,
Rosa púrpura quatro petálas perfeitas,
No jardim do prazer e da paixão.


Na carícia do olhar que te percorre,
A malícia do veneno que estrangula,
No macio monte do teu seio,
O ferrão que o prazer estimula,
A visão do desejo o devaneio.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010



Ver Deus.
J. Norinaldo.

Eu vejo Deus no olhar da criança,
Na ponta da lança na baba do boi,
Eu vejo Deus sem olhar para o céu,
No canto do xexéu, no irmão que se foi,
Eu vejo Deus onde o queira ver...
Eu O vejo ao olhar pra você.

Eu vejo Deus ao me olhar no espelho,
Ao repreendê-lo pelo modo como me fez.
Vejo Deus quando peço que alguém seja feliz,
Vejo Deus me sorrir a cada poema que faço,
Vejo Deus no abraço por algo que fiz;
Mas só lembro de Deus, quando estou infeliz.

Não tenho a beleza que o espelho mostra,
Nunca vi o rosto da felicidade, será tão bonito?
Se não for, muda todo o conceito da vida,
Se o deus que vejo é o que acredito,
Se O vejo em você e você não o vê em mim...
Um dos nossos deuses tem preconceito querida.


domingo, 17 de outubro de 2010



Serra, Serra, Serrador.
J. Norinaldo.

Lapidar as pedras acender as velas,
Devolver a luz a chama e o brilho,
Esconder as fichas esquecer o jogo,
Por a mão no fogo em favor do filho;
Caminhar na corda sem perder o passo...
No mesmo compasso sem sair do trilho.

Ter a mente aberta ao avanço da moda,
Por a mão na roda pra girar a terra,
Gritar pela paz e pela vida calma,
Preparando a alma pra mais uma guerra.
Defender com a vida o meio ambiente,
Afiando o dente de mais uma serra.

Prometer ao povo a felicidade,
Quando na verdade não sabe onde está,
Quando a caixa fecha e o pleito encerra,
Quem abomina o erro é o que mais erra,
E o povo sofre com o arrependimento...
Foi o instrumento que afiou a serra.

Protestar aos gritos dentro do cercado,
Brados do mercado contra o mercador,
Sem esquecer que o pássaro do bico comprido,
Canta na gaiola para o seu senhor,
Quem sabe um refrão já tão conhecido...
Serra, Serra ,Serra a dor





quarta-feira, 13 de outubro de 2010



Aprendiz.
J. Norinaldo.

Perdoa-me pelo beijo insosso, eu não sei beijar,
Sempre beijei fantasmas, miragens ou ilusões,
Meus amores, sempre dizem o que quero ouvir,
Falo por mim e por eles quando em meus delírios,
Sempre recebo elogios por meus beijos loucos,
Aos poucos, vai te acostumando, eu não sei beijar.

Perdoa-me esse amor sem graça, eu não sei amar,
O amor, que conheço bem tem um lado só,
As vezes quando em silencio, estou distante muito feliz,
Sou um grande mestre do amor ilusório
Ao contrário no amor de fato, sou um aprendiz;
Por isto te peço perdoa-me, eu não sei amar.

Aao ver-te tão viva aqui na minha frente,
De repente querendo dar-me um beijo quente,
É tão natural que fique perdido sem nada entender,
Espero que entendas a falta de tato de um ser carente,
Cansado dos beijos com um só par de lábios...
Os sábios, dizem que não sabem, mas eu quero aprender.




segunda-feira, 11 de outubro de 2010


Imagem de Portugal.
J. Norinaldo.

Deixei que o meu pensamento,
Segurando a crina do vento
No cavalgar mais insano,
Fosse até uma branca aldeia,
Clara como a fina areia,
Lavada pelo o oceano.

E bem longe além do mar,
O céu e o luar por fundo,
Num belo cartão postal;
A imagem de Portugal,
Pequeno portal do mundo,
Para o poema universal.

Portugal das brancas velas,
Da cruz de Malta, da glória,
Pérola rara da Europa;
Como a copa da figueira,
Tu és no contar da história...
A história mais verdadeira.


Pássaro Cego.
J. Norinaldo.

Peneirar os sonhos destilar as lágrimas,
Decifrar palavras diluídas em dor,
Retirar o sal que traz sede a alma,
Transformar em mel do pólen do amor,
No engenho vivo sem roda vento...
No mais belo invento que o Pai criou.

Cegar os olhos do pássaro negro,
Para que seu canto fique bem mais triste,
Declamar os versos de um poeta louco,
Falando de um mundo que já não existe;
E assim o mundo também fica cego...
E o poeta escreve por que a alma insiste.

Peneirar os sonhos e coar as lágrimas
E matar a sede na ausência do sal,
Destilar o óleo que acende a candeia
Que mostra na vida a sombra do mal,
Da antiga caverna que Platão citou...
Ou do pássaro negro que o homem cegou.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010




Apenas Saudade.
J. Norinaldo.


Se a vida depende da sorte
A morte depende da vida,
Com sorte a morte demora
O destino da via é a sina,
Que a morte sisuda namora...
Enquanto o tempo constrói a ruína.

O velho que chora ante a morte,
Também chorou na maternidade,
Ao chegar ao mundo pra vida,
Sem saber que haveria partida,
Um dia para a eternidade,
Se tornando apenas saudade.

Sem conhecer a dor da ferida,
Chorando por formalidade,
Quando acha que conhece a vida,
Chega a dor da realidade,
E a hora da dor da partida...
Se tornando apenas saudade

Talvez saiba disto na chegada,
E por isto o choro primeiro,
Não se chega a uma festa chorando,
Quando se conhece a verdade,
Normal seria o choro derradeiro...
No último aceno pra virar saudade.


segunda-feira, 4 de outubro de 2010




Gestação.
J. Norinaldo.


O vento que agita o espelho do lago,
E sopra a vela do barco sem rumo,
A lágrima que molha o lenço na partida,
O fruto que acolhe no âmago o sumo;
O orvalho roreja a flor na manhã...
A água presente a gestar a vida.

A cascata canta ao descer o monte,
Por baixo da ponte mais água a correr,
A fonte borbulha ao nascer o rio,
E em cada riacho artérias da vida,
Que a terra precisa pra sobreviver;
E a chuva que faz tanta vida crescer.

A terra sem água estéril seria,
Será que um dia ainda vai ser?
Se a mãe da vida secar de uma vez
Por insensatez de um descuido qualquer,
Se o homem esquece a origem da vida...
Poluindo a água e maltratando a mulher.

domingo, 3 de outubro de 2010



A Torre e a Vida.
J. Norinaldo.

Deito o olhar à imensidão,
Vejo um mundo construído,
O campo plantado e bem florido,
Vejo, e vejo e nada fiz;
Espero o campo ser colhido...
Espero o momento a ser feliz.

Da torre do castelo do vizinho,
Vejo a vida ser vivida lá embaixo,
Vejo a roda do moinho trabalhando,
Ouço os gritos de triunfo de alguém,
Vejo o caminho que vai seguindo o riacho...
E eu, parado nesta torre só olhando.

Fiquei tanto tempo nessa torre,
Olhando e lamentando minha sina,
Não tive tempo de plantar e de colher,
Vi a vida, mas esqueci de viver,
Hoje volto o olhar para mim mesmo...
E como a torre, não passo de uma ruína.

sábado, 2 de outubro de 2010

O Fardo do Feudo.
J. Norinaldo.

O sol para todos e a terra para alguns,
Que perdem de vista a terra por bem,
E o feudo por fardo da corrente e do nó,
Da prisão sem grades marcada a grampo,
Do homem do campo que terra não tem;
Que reza olhando para o teto maior.

Quem enterra a semente e faz a colheita,
Alimenta o planeta se alimenta mal,
E aos que esperam a semente colhida,
São donos da terra e também da vida;
E aos do teto maior só as pedras de sal.
E a terra tão grande não oferece saída.

O destino do homem que trabalha a terra,
E que luta na guerra na linha de frente,
Enfeitando o peito de alguém com medalhas,
Recebendo as migalhas, como presente
Para carregar os fardos dos feudos...
E viver como escravo sorrindo contente.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pérolas e Ostras.
J. Norinaldo.


Sublimam-se as perolas coruscantes,
Que cintilam na vida e esquecem origem,
Um grão de areia que aleija um molusco,
Para adornar o colo da vaidade,
Contas de um rosário que derrama vertigem,
Como o véu da mentira empalha a verdade.

Cortinas que vedam as janelas da alma,
São as nódoas que cegam os olhos da vida,
E o colo enfeitado de verdes safiras,
Por vezes esconde na moldura a perfídia...
Em cores berrantes de vagas mentiras.
E o beco louva Baco com vinho barato.

Da pérola o brilho a ostra ao lixo,
Da uva o vinho a videira ao relento,
Da mãe o rebento e o fértil canteiro,
Ao colo o colar que adorna e seduz;
As janelas da alma pesadas cortinas...
Aos olhos da vida a falta de luz.





domingo, 26 de setembro de 2010


O Homem e o Passarinho.
J. Norinaldo.

Pela vida juntando os gravetos,
Levantando as paredes do ninho,
E cantando em agradecimento
Assim vive o passarinho,
Que na árvore cria o filhotinho,
Que é seu palco e lhe dá o alimento.

A terra é a árvore do homem,
Dela o pão e o barro pra parede,
Brota a árvore que lhes dá o fruto,
E a água que lhe mata a sede;
O homem faz o seu ninho da árvore...
Deixando o passarinho de luto.

A água suja que a nuvem recebe,
Destila e devolve brilhante,
O homem polui novamente,
Como se a nuvem fosse sua escrava
Como a lavadeira que sua roupa lava,
Sem ter medo que seque a vertente.

O passarinho continua cantando,
Não se cansa da mesma canção,
Nunca muda o formato do ninho,
Não compôs a canção pra vender
Viver como os passarinhos...
É tão simples, tão fácil, é só querer.

sábado, 25 de setembro de 2010


Caminho e Solidão.
J. Norinaldo.

Exorta-me a montanha e o beija flor,
Exorciza-me a vida o sol e a lua,
Busco no perfume das flores,
No pólen minimizar os amargores,
Vestindo de estrelas a alma nua.

Na procura da estrada mais comprida,
Seguindo as pegadas do destino,
Sem atalhos que encurtem o caminho.
Com a sombra que o sol deixa ao meu lado,
E a solidão que não me deixa sozinho.

Iniciei o caminho engatinhando,
Hoje os meus passos são tão largos,
O caminho vai ficando mais estreito,
Os pensamentos vão ficando mais amargos,
Talvez chegue engatinhando de outro jeito.

A saudade vai ferindo a minha alma,
Dos amores que deixei pelo caminho,
Meu cajado vai ficando bem mais curto,
Cada vez menos a voz do vento escuto...
Vai ser tão triste chegar ao fim sozinho

terça-feira, 21 de setembro de 2010


Sonhar ou Viver.
J. Norinaldo.

Quem me deu o direito de sonhar,
Esqueceu de me dar a escolha do sonho,
Eu não quero, nunca quis um pesadelo,
esquecê-lo, é o que sempre me proponho;
Em cada novo acordar apavorado,
Desço um degrau do pedestal em que me ponho.

Ah! Existem sonhos tão bonitos,
Que acordar passa a ser um sacrilégio,
Sinal que viver nem é preciso,
Pois sonhando quando estou no paraíso...
Sinto que talvez morrer seja um privilégio.
Eis o motivo deste poema indeciso.

Viver e morrer, eis a questão,
E se morrer for viver eternamente?
E se eternamente for tempo demais?
E descobrirmos que viver é só sonhar,
Que sou a imagem de um sonho de alguém...
Que é apenas parte de um sonho também.

Tantas perguntas sem respostas,
Tantos sonhos sem explicação,
Como um labirinto sem saída,
Como saber se estou vivendo?
Se quando sonho que estou morrendo,
Alguém diz que isto é sinal de vida?

Rios de Lágrimas.
J. Norinaldo.

Pelos sulcos da face tão curtida,
O mapa que a vida desenhou,
São rios enredados de afluentes,
Leitos secos inundados de repente,
Pelas lágrimas de decepção e dor.

Rios que nunca chegam ao oceano,
Ao mar de lágrimas de que fala a poesia,
Cuja nascente está na alma de quem sofre,
Enquanto gritos abafados pelas ondas...
Da corrente ao sabor da ventania.

Só o espelho é sincero e verdadeiro,
E o abismo tão soturno e traiçoeiro,
E as enchentes desses rios de que falo,
Não traz vida como um rio de verdade,
Ao contrário leva a vida o valo.

Por que chorar se a vida é tão bonita,
Se a beleza da flor é passageira,
Como o rio na vida tudo passa,
Assim como é belo o vôo da garça...
E nem por isto ela voa a vida inteira.

domingo, 19 de setembro de 2010


O Caminho e as Pedras.
J. Norinaldo.

Caminho sempre a olhar em frente, com medo dos fantasmas que me seguem, me perseguem desde o meu engatinhar, dos dragões que povoam minha mente, que pululam em meus sonhos com freqüência, que dançam nas miragens do deserto. Não sei aonde vou chegar, meu cajado apenas me apóia, não me diz se estou no caminho certo, deixa apenas ao lado dos meus rastros, o seu rastro solitário. O limo das pedras do caminho indica que nunca caminharam. o medo dos fantasmas e do limo, me mostram que a vida é um caminho e o limo gruda naquele que parar. Sufoca-me a incerteza do caminho, cada curva, cada pedra é uma prova, que a vida se renova a cada susto. Tenho tempo, tenho vento e posso ver a beleza nos aceiros do caminho, nas flores que anunciam a primavera e nos frutos que alimentam o passarinho, me aliviam a tristeza do final. Pelo visto cada um tem seu caminho, mesmo juntos caminhando lado a lado, de algum modo o caminho é separado, mesmo que o destino seja o mesmo e para sempre. Eu preciso caminhar, até quando? Não sei. O que se encontra no final... eu sei.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O Mendigo e o Rei.
J. Norinaldo.

Os bordados do manto da rainha,
Que realçam as vestes da nobreza,
Os enfeites da fachada de um castelo,
Nunca mostram a sua real beleza,
Os remendos da roupa do mendigo...
Mostram apenas parte da sua pobreza.

Mendigos talvez que em outras vidas,
Tenham vestido paramenta bem bordada,
Se for mesmo que existem outras vidas.
Vestem hoje trapos com remendos,
Enquanto a alma paga suas dívidas,
Sem direito ao amor ou referendo.

Enquanto a vida passa como um sonho,
A montanha vai ficando bem mais alta,
Outra agulha vai bordando mais um manto,
E as sobras da tesoura eu bem sei,
São retalhos que a vida vai juntando,
Para os trapos do mendigo que foi rei.