Translate

sábado, 31 de outubro de 2009

Meus Mortos.
J. Norinaldo.

Os meus mortos serão noites de insônia,
São meus dias já passados sem sorrisos,
São meus medos, meus segredos minhas cismas,
São as flores que murcharam em meus altares,
Serão culpas que carrego como fardos...
Os espinhos que me ferem como dardos.

Os meus mortos não necessitam de flores,
Se a saudade é verdadeira dói em mim,
Que lhe neguei um poema ainda em vida,
Agora trago uma guirlanda de jasmim.
Na certeza de que ali ninguém se encontra,
Pois se estivesse iria ri muito de mim.

Ora! Quem diria meu querido poeta,
São para mim estas flores perfumadas?
E que belo poema que exalta a amizade,
Mas não combinam com a pobreza desta casa,
Flores tão lindas e poema deste alcance...
Ao relento sobre a cruz de uma cova rasa.




Fuga.
J. Norinaldo.

Eu tenho medo de amar e de sofrer,
E assim vou vivendo sem amar,
Ou amando sem coragem de dizer,
Ou dizendo que amar não vale a pena;
Difamando a quem amo por prazer,
O que torna minha alma tão pequena.

Minha fuga tem um nome é covardia,
Que irradia uma áurea de terror,
Tênue ponte que constrói a hipocrisia,
Sobre o rio caudaloso do amor,
Na sublime cordilheira montanhosa,
Caprichosa coberta de verde e flor.

Se o meu medo não pesasse como pesa,
Se tão frágil não fosse a minha esperança,
Que se esgarça como nuvem de fumaça,
Cruzaria a ponte da hipocrisia facilmente,
Quando passa a esperança o amor passa...
Mas cai da ponte e se afoga finalmente.





quinta-feira, 29 de outubro de 2009


O Velho da Estação.
J. Norinaldo.

Estou sozinho na plataforma da estação,
Eu e a solidão que há muito vive aqui,
O velho sino sem badalo e sem corda,
Já não acorda os passageiros a dormir,
Sei que o trem não chegará nunca mais,
Mas a loucura não me deixa desistir.

Às vezes ouço o apito lá na curva,
No velho banco corroído por cupim,
Vejo nos trilhos a ferrugem do desprezo,
Mas um dia o meu amor volta pra mim,
Não foi hoje poderá ser amanhã...
Volto pra casa pra regar o seu jardim.

Toda primavera colho as rosas,
Numa guirlanda pra levar a estação,
E o velho banco lá está a minha espera,
Ainda lembro a manhã que partiste,
No beijo quente nessa mesma plataforma...
Hoje uma ruína que abriga outra tapera.

O velho banco, o velho louco a velha gare,
O velho sonho de um amor hoje em sucata,
Já não me importa se o trem chegar ou não,
Mas ninguém pode me tirar essa emoção,
O velho sino, o velho trem o velho louco...
Que pouco a pouco morre com a estação.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Alquimia do Amor.
J. Norinaldo.

O amor é o balsamo da vida,
O poeta o terapeuta do amor,
A poesia é a luz na noite escura,
O calor que aquece o inverno frio,
O linimento para aquele que tem dor.

Assim visto ser poeta é ser feliz,
Alquimista que manipula a razão,
Seduz o amor com a sua alquimia,
No mesmo forno ilusão e fantasia,
A grande obra, no entanto é o coração.

Ninguém nasce feliz ou sofredor,
O amor nasceu pra todos como o sol,
No amor não existe distinção,
O amor é uma fonte gratuita,
Viver á sombra é uma livre opção.

Não busco o amor sim ser amor,
Inesgotável fonte do prazer,
Tento ensinar o que sei de alquimia,
Com os elementos da minha poesia...
O amor é pronto e ninguém pode fazer.







segunda-feira, 26 de outubro de 2009


A Mão.
J. Norinaldo.

As mãos que lapidam e moldam no bronze,
Que plantam as flores e pintam paisagens,
Que ceifam o trigo pra fazer o pão,
Que seguram a pena e escrevem mensagens,
Que acenam com o lenço na despedida,
Que afagam e açoitam com um látego um irmão.

A mão que aponta com o dedo um destino,
A mão estendida a pedir uma esmola,
A mão que aponta o pecado do irmão,
A mão com a cimitarra um ser vivo degola,
A mão que puxa na corda do sino...
Não é mesma erguida a celebrar o sermão.

A mão com destreza nos laboratórios,
Criando os meios de destruir a vida,
A mão que espalha no chão o rastilho,
A mão que atenta contra a humanidade,
É a mão que assina a sentença de morte,
Outra mão está pronta a apertar o gatilho.

A mão que tem calos da lida bruta,
A mão que labuta pra ganhar o pão,
Não aperta a mão sedosa e macia,
Tem menos valor sua calosidade,
Que a suavidade da mão de um ladrão,
É a mão da mentira e a mão da verdade.






sábado, 24 de outubro de 2009


A Água, o Pão e O Sino.
J. Norinaldo.

Depois do trigo colhido,
O pão sobre a mesa,
A terra esquecida,
Depois da sede saciada,
O que não serve pra nada,
Nos rio jogados água poluída.

Depois da criança nascida,
A dor do parto esquecida,
Esquecem a canção de ninar.
Em vez de afeto poupança,
Hoje o amor de criança,
Faz criança a brincar.

Deus só não foi esquecido,
Por que é vendido na feira no altar,
Seus títulos nenhum outro bate,
Assim como a Páscoa é lembrada,
Como a festa da criançada,
A procura de ovos de chocolate.

A cruz de infortúnio e suplício,
Símbolo do maior sacrifício,
Hoje é cunhada em ouro fino.
Que repousa nos seios da moda,
O trigo ceifado e a vida na poda...
A cruz é de ouro e de barro é o sino.



sexta-feira, 23 de outubro de 2009


Ciúmes do Vento.
J. Norinaldo.

Escrevi um lindo poema na areia,
Achei que o vento por ciúmes apagou,
Não escrevi poesia a tempestade,
Que na verdade deve ser o seu amor,
Quando te encontrei declamastes a poesia...
O vento apenas decorou e te levou.

Caminhavas a beira mar pensando em mim,
E as ondas mansas em teus pés a marulhar,
Quando a brisa desmanchou os teus cabelos,
Como querendo chamar tua atenção,
E começastes a ouvir com suavidade,
Os acordes de uma bela canção.

Decorastes a poesia por inteira,
Que escrevi para ti no além mar,
Sinto vergonha de escrever novamente,
Tenho medo de cometer uma heresia,
Uma injustiça ao pensar que o vento...
Não tenha dito que era minha a poesia.