A ingratidão.
J. Norinaldo.
O chapéu que gira em minhas mãos,
para onde olho enquanto falo com o senhor, não é nem nunca foi o meu mentor,
serve apenas para abrandar o calor e proteger minha caixa de conselhos. As mãos
calejadas que o giram, ungiram a criança que há em vós, a voz que tanto vos
fala em mim, não tem permissão pra dizer nós.
Venho apelar a consciência, que sei existe em Vossa Excelência que bem
sei de mim já não lembra mais, eu também não sei quem foram meus pais, mesmo
assim eu jamais os esqueci.
Confesso sou culpado, pelo senhor
ter estudado e agora ser Juiz, reconheço de que lhe causa vergonha, ver este
velho mal vestido, analfabeto empurrando
um carrinho de pamonha, que sua mãe ainda faz como ninguém. O pouco que
ganhamos pra viver, honestamente nos causa muito prazer e ainda temos um
filhinho adotado, que quero que estude e quem sabe também seja magistrado, E
que quiçá não venha também a ter vergonha, e proíba a venda da pamonha, nos
lugares por onde ele passar. Quiçá.
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