O Brilho do meu Sapato.
J. Norinaldo.
Ofuscado pelo brilho do sapato,
sigo o trilho pontilhado do absurdo, nenhum mago nessa terra sabe tudo e nem
tudo já lhe foi perguntado, quem se atira num rio duas vezes e pensa que é o
mesmo está errado. Sigo o trilho pontilhado do absurdo, caminhando somente por
caminhar, orgulhoso pelo brilho do sapato, que me ofusca a tristeza do olhar,
num discurso de silencio fecho os olhos, no intuito de não me ouvir falar. Ouço
ao longe a canção que traz o vento e o tropel do senhor que vem da guerra,
conto as pedras que encontro no caminho refletidas no brilho do meu sapato.
Voejam a minha volta borboletas coloridas, cantam pássaros as canções que
alegram a vida, sinto o cheiro da terra e da montanha, vejo vultos de cisnes
sobre o lago, tudo, muito vago e sem sentido, entretido com o brilho do meu
sapato. E o trilho pontilhado continua a girar no brilho do meu sapato, como um
rato a perseguir um grande queijo, com a intenção de fartar-se até a morte. Se
não vejo a beleza dos aceiros do caminho, chegarei a algum lugar sozinho, sem
ter visto o cenário por inteiro; e quando as cortinas se fecharem por completo
e se apagar o pontilhado dessa trilha; quando olhando para um teto baixo de
cetim, já não poderei mais ver a beleza que me cerca... E nem mesmo se o
sapato ainda brilha.
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