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terça-feira, 30 de novembro de 2010



Minha Sombra.
J. Norinaldo.

Caminho cansado com o fardo do tempo,
Só a sombra a seguir-me por todo caminho,
Sem desviar as pedras assim como faço,
Como o laço que une a rosa ao espinho,
As vezes se esconde como o sol numa nuvem,
Mas guarda os segredos que resmungo sozinho.

O caminho é tão longo e o cansaço tão forte,
Meu rumo é o norte que alguém apontou,
O peso do fardo diminui o meu passo,
Meus pensamentos caminham a frente;
Minha sombra calada como um fantasma,
Que segue seu dono mesmo no fracasso.

Minha sombra se veste assim como eu,
Com retalhos que restam da mortalha da vida,
A cada remendo que a agulha coseu...
É uma ferida uma chaga de espinho,
Mas a sombra não sofre a dor é só minha,
E o fardo do tempo carrego sozinho.

Minha sombra não segue depois que eu cair,
Cairá comigo na poeira da estrada,
Até que poeira eu seja pra sempre,
Terei como amiga uma sombra sisuda,
Seguindo-me sempre por todo caminho...
Ou eu fui a sombra que falava sozinho?




sexta-feira, 26 de novembro de 2010


A Águia e o Abutre.
J. Norinaldo.


Não percebes que a soberba é tão mesquinha,
Como a beleza que nos prende é tão fugaz,
Veja a rosa de passagem tão efêmera...
E sem soberba quanta beleza nos trás.

Uma águia no seu vôo majestoso,
Não desvia de um abutre por orgulho,
A flor de Lótus só nasce onde houver lodo...
E um diamante é achado em pedregulho.

O colibri não escolhe a flor que beija,
Alguém já ouviu falar num beija rosa?
Quando um poeta escreve algum poema,
É a alma brincando de fazer prosa.

Jamais use a sua beleza como arma,
Não critique o autor da obra inteira,
Não desdenhe dos dotes que são meus...
Você pode ser belo, mas não Deus.


quinta-feira, 25 de novembro de 2010



Tua Ausencia.
J. Norinaldo.


Assim como o arado rasga a terra,
Tua ausência dilacera minha alma,
Da terra brotam a vida e as flores,
Em mim restam as chagas e as dores,
Enquanto a chuva molha a terra com ternura...
Minhas lágrimas regam canteiros de amargura.

Minha alma é uma colcha de retalhos,
Minha vida o jardim dos desmazelos,
Nos meus sonhos, delírios, devaneios,
Quando beijo os teus lábios os teus seios;
Desperto e mergulho em pesadelos,
Tendo sempre ao meu lado o vazio.

Lá fora o vento canta uma triste canção,
E a chuva chora na vidraça do meu quarto,
Fecho os olhos e até sinto teu perfume,
Esqueço o mofo que envolve o meu ser,
Penso na morte e até sinto ciúme...
De quem se foi e eu fiquei não sei por que.

Ah! E lá se vai o arado seguindo o boi,
Deixando atrás o rastro fundo que trás vida,
Ouço sempre a canção que canta o vento,
Triste seresta que entristece meus caminhos,
Nem a beleza da primavera me fascina...
O meu jardim é um canteiro de espinhos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Rito da Cruz.
J. Norinaldo.

Sobre a água não ficam pegadas,
Palavras faladas o vento carrega,
Escritos antigos de seres humanos,
Que fazem gritar exércitos de insanos,
Mantendo de pé o rito da cruz.

Sermões se perderam além da montanha,
Como flechas de gelo atiradas a esmo,
Como o canto do corvo diante da morte;
E o vinho servido na mesa do nobre,
Embriaga o pobre na roda da sorte.

Os punhos cerrados gritando em louvor,
Palavras de ordem que alguém ensinou,
Pela roda cunhada com a face do rei,
No alto da nave a palavra é vendida,
Como mercadoria de muito valor.

Se foi o sermão, mas ficou a montanha,
Como se vão os dedos e ficam os anéis,
Ruínas que mostram que tudo é finito,
E que a cruz foi nosso erro maior...
Quem O crucificou não ouviu nenhum grito.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Rei Mandou.
J. Norinaldo.

Ataviar com ouro a falsidade,
Entronizar o tirano por idéia,
Cultivar o veneno por engano,
Censurar a beleza da plebéia,
Escolher por capricho a abelha,
Que virá será a rainha da colméia.

Girar o timão no rumo certo,
O certo que você mesmo escolheu,
Indicar a estrela mais brilhante por farol,
Separar quem terá direito ao sol;
Que os aplausos cessem a um sinal,
Recomendar os livros que escreveu.

Espionar do alto do castelo que não é seu,
Quem não segue o que o rei determinou,
Quem não leu o tal livro indicado;
Quem parou de aplaudir sem ser mandado,
Ou a plebéia que se enfeita com capricho...
Seu jardim foi esquecido, abandonado.

Se um dilúvio se abater sobre o deserto,
E por acaso o vento apagar sua candeia,
Depois se ajoelhe e agradeça pela graça,
Pois quando a chuva cessa e tudo passa,
O oásis está como uma taça cheia,
Não haverá tempestade de areia.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Voz do Vento.
J. Norinaldo.

A voz da discórdia e da vindita,
Ecoa como um grito de loucura,
O zumbido de uma vespa que perdura,
No ouvido de quem não se diz louco,
Que tão pouco conhece de ternura.

Não busques no rugir do furacão,
Nenhuma lição que a vida ensina,
E sim no cochichar da brisa mansa,
No olhar de uma ave de rapina...
Não verás a ponta afiada de uma lança.

Não escutes a voz que vem do lodo,
O vento mensageiro tudo espalha,
Tanto faz o grito louco da discórdia,
Como alvísssaras felizes da concórdia...
Como o corte profundo da navalha.

Não sou poeta e sim um pobre louco,
Que consegue navegar o pensamento,
Que juntando palavras vai dizendo,
Que o zumbido da vespa vai crescendo...
Para quem não entende a voz do vento.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010


Fogo Frio.
J. Norinaldo.


Por periféricos e sombrios becos,
Úmidos leitos de tísicos terminais,
Pisando sobre escarros escarlates,
O zumbido das moscas infernais,
Como um fétido véu de sangues secos,
Sobre vísceras penduradas em varais.

Vejo feras mastigando corações,
Que ainda batem em peitos dilacerados,
Sinto o ódio no olhar dos meus carrascos,
Vou sereno em direção ao cadafalso;
Invejo as moscas no seu banquete de pus...
Olho os meus pés e orgulhoso vejo cascos.

Ah! Bukowski por que fostes morrer?
Quem te deu o direto de fugir?
Desenhavas tão bem o que é sofrer,
E ser feliz simplesmente por saber,
Aceitar esses becos como abrigo,
Que ser feliz é só questão de querer.

Ah! Como é nobre essa minha depressão,
Que me mostra quão pequeno ainda sou,
Como a mosca que voa num corredor vazio,
A donzela dorme sobre um colchão macio,
A espera do seu tísico, seu senhor,
Depressiva assim como um fogo frio.

domingo, 14 de novembro de 2010

Pedras para Construir, não Destruir.
J. Norinaldo.

Apedrejar a Maria por cometer adultério,
É só mais um despautério cometido pelo homem,
Adultero confesso em nome da vaidade,
E se fossem lapidados por um crime tão comum,
Faltariam pedras ao mundo para lapidar cada um,
Aqueles que julgam em nome do dever e da verdade.

Atire a primeira pedra aquele que não cobiçou,
A bela mulher do próximo e que nem sequer pensou,
Em levá-la para a cama num belo sonho de amor.
Quem sou eu para julgar os pecados de alguém,
Que não cumpriu os mandamentos que eu não cumpro também,
Que atire a primeira pedra aquele que nunca pecou.

Adúlteras mal amadas, mas com o dever a cumprir,
Como objetos de luxo alcovas enfeitam em vão,
Mercadoria vendida no mercado do cinismo,
Que apedrejem o mutismo sufocado em assembléias,
De onde surgem as idéias que apedrejam a razão,
Diga não a panacéia dos tribunais do machismo.

Não vamos atirar flores em adulteras confessas,
E sim cumprir as promessas feitas diante do altar,
Amor não só na beleza, mas na dor e na tristeza,
Até que a morte nos separe de verdade,
Que as pedras sejam atiradas nas serpentes...
Que atentam contra o amor e a lealdade.


sábado, 13 de novembro de 2010

O Tempo.
J. Norinaldo.

O tempo é o tempo que o vento não tange
Que vem de tão longe de um tempo qualquer
Não usa coroas e nem vive em palácios
Mas nos faz de palhaços desdenha da fé
Podemos até nos ampará do vento
Mas só pelo tempo que o tempo quiser.

O tempo é tão velho não sei se tão sábio,
Nenhum alfarrábio escreveu nesse tempo,
Rabisca direto no rosto da gente,
Letra diferente que ninguém decifra.
Se o barco a deriva precisa do vento...
Qualquer ser que viva deriva com o tempo.

Há tempo pra tudo, mas não temos tempo,
De buscar um jeito do tempo escapar,
Quanto mais tentamos mais tempo perdemos,
E o tempo não pára para nos ensinar,
Como o eco do grito que o vento devolve,
O tempo resolve que é tempo de parar.

Lembram do tempo em que tudo era assim?
Em que a família era o maior tesouro,
Não havia ouro que comprasse esse bem,
O tempo é o mesmo em nada mudou,
O ouro hoje compra tudo que se tem...
Em algum museu talvez haja, um baú de amor.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010


Escada de espinhos.
J. Norinaldo.


No vago das horas que preencho,
Com o vazio escuro do meu interior,
O doce perfume que a vida anestesia,
Na poesia tento amenizar a dor;
Como se o espinho no talo da roseira,
Fosse a escada para se alcançar a flor.

Palhaço sem circo ou picadeiro,
Cuja máscara a vida bem pintou,
No sorriso o simbolismo de um dilema,
Como a escada de espinho sem a flor.
Como uma estrofe de um triste poema...
Que a vida escreveu, mas não cantou.

Dói-me na alma as gargalhadas,
Para essas não existe anestesia,
Quando sou na verdade a palhaçada,
A própria dor me vestindo a fantasia,
Os espinhos da escada me ferindo...
Na existência de uma triste poesia.

Só me resta o direito a sonhar,
Pena que os sonhos chegam ao fim,
Sonho sempre com um rosto sem pintura,
E esqueço os sorrisos de amargura,
E a escada me leva a mais bela rosa...
Que transformo na mais linda criatura.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010


IMAGINE.

J. NORINALDO.

Imagine um mundo onde sempre é carnaval,

E John Lennon com seu bloco na avenida,

Onde a maldade seja apenas fantasia,

E o amor o combustível da vida,

Imagine todo planeta se abraçando,

Cantando junto um enredo de amor,

Numa guerra de confete e serpentina,

E em cada esquina um jardim cheio de flor.

Imagine um mundo sem preconceito,

Quase perfeito governado pelo amor,

Como uma fonte que jorra felicidade,

E os gemidos de prazer e não de dor.

Imagine os seus dragões de criança,

Brincando livres a correr com querubins,

Super Heróis sem o mal pra perseguir,

Plantando rosas e cravos em seus jardins.

Imagine, só imagine e me responda,

Se seria perfeito o mundo em fim,

E por que alguém assassinou...

Quem primeiro cantou um mundo assim?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Respostas e Perguntas.
J. Norinaldo

Respostas eu tenho tantas, tantas.
Até para as perguntas que não fiz,
Dúvidas, ainda as tenho, e quantas,
Coube a vida a missão de escolher,
Se devo perguntar ou responder...
Será que algum dia fui feliz.

Dúvidas, perguntas e respostas,
Todas postas em um prato da balança,
No outro, sonhos, perdas e encontros,
Desencontros, sofrimento e esperança,
A alma ensina, mas a vida não entende...
Aquele prato para onde o fiel pende.

Os caminhos são tantos a escolher,
Percorrer o escolhido cabe a mim,
Sem esquecer a resposta que procuro,
Se felicidade está naquilo que não fiz,
Terei vivido num labirinto sem luz,
Se descobrir que fui feliz só lá no fim.

Onde? Em que parte do caminho?
Se sozinho caminhei a vida inteira,
Deixando apenas as pegadas na poeira,
Assim como a água ao azeite não se junta,
Toda pergunta teria sua resposta...
Se fosse posta na balança verdadeira.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010


Tortura Nunca Mais.
J. Norinaldo.

Um nome escrito nas paredes do inferno,
Da tortura, do degredo e da humilhação,
Ressurge agora para ser bordado a ouro,
Pra comandar o Brasil e o seu tesouro,
Para constar nos destinos da nação.

E quem levou este nome pra caverna,
Quem usou a tortura por vingança,
Quem escreveu na parede aquele nome,
Tinha fome de justiça e liberdade...
Hoje é para o Brasil a esperança.

Uma estrela que tentou ser apagada,
Ofuscada por estrelas de metal,
Hoje volta a brilhar no nosso céu,
A liberdade tão sonhada e sem véu,
Ostentando a faixa presidencial.

Não foi em vão tua luta, teu sofrer,
A parede está lá pra quem quer ver,
Nem por isto deverá ser esquecida,
Pois quem esquece o passado está fadado...
A conhecer a história repetida.