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quinta-feira, 29 de julho de 2010


Mãe e mãe.
J. Norinaldo

Eu andei afastado de tudo, depressivo, uma verdadeira crise existencial. Não lia meu jornal, apenas o apanhava no pátio e o jogava em qualquer canto, também não assistia TV,não escrevia, na verdade não tinha vontade de nada. De repente me dei conta que estava me apagando, e resolvi voltar a ativa, li as colunas que me agradam e a noite resolvi assistir o Jornal Nacional. Acredito na Lei de Murphy sim, na Lei de Jagger nos estádios, veja só a notícia que vejo os apresentadores darem: Uma mulher francesa, confessa ter matado oito filhos recém nascidos. Pensei: Não tinha nada que voltar a ver noticia. E me veio à cabeça uma cadela que conheci há muito tempo. Era eu um jovem, que vivi na casa de um casal, cuidava do jardim, da faxina em geral. Nessa casa havia uma cadela que se chamava inglesa, tinha um pelo muito bonito e uma cor que parecia prateada. Desde muito pequeno sempre amei muito os animais, mas odiava essa cadela por uma razão muito simples. Ela dava cria e comia seus filhotes. Tempos depois, alguém me disse: ela faz isto não por ser má, mas por que sabe que sua cria não sobreviveria por isto, alivia o seu sofrimento. Passei a gostar da inglesa. Ainda falando em noticias, vejo logo a seguir, que um cãozinho vira lata caminhou 60 km para voltar ao seu antigo lar, tinha sido doado a outra família.
Não tenho filhos, tenho quatro cães da raça Poodle, que dormem na cama comigo, uma cadelinha que nasceu deficiente, já está com 12 anos e tem um tumor mamário maligno, sempre que me vê ela deita de barriga para cima para que eu lhe acaricie, o que para mim agora está sendo um castigo, pois fico vendo aquela coisa horrível que fatalmente matará minha cadelinha. Talvez por covardia, evito chegar perto dela, já fiz o que pude, agora é esperar a hora da dor maior.
Eu estou falando de uma cadelinha, e neste momento que aqui escrevo, meus olhos estão marejados, pois sei que ao me dirigir ao quarto, ela virá me oferecer a barriga para coçar. São exatamente 0254hs agora, tenho medo de dormir e sonhar que sou humano, que enquanto uma cadela adota uma leopardos, uma mulher mata seus oito filhos recém nascidos. Será que alguém vai me dizer: Ela não fez isto por ser má, é que sabendo o monstro que essas crianças teriam como mãe, teve a certeza que a morte seria muito melhor para elas.
Louca? Duvido, pois para fazê-los, deveria se deliciar. Quanto mais eu conheço o ser humano, mais admiro os cães, e coitados, são os melhores amigos dos homens. Que coisa lamentável que estou aqui falando de uma mãe, um ser a quem Deus deu a divina missão de trazer a vida ao mundo. Mas, não se compadeça de todos os velhinhos, por que os canalhas também envelhecem. Existem Mães e mães, algumas não valem as pulgas dos Cães.

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