Sentado a beira de um abismo muito profundo, quase da altura
do mundo, vendo as nuvens bem abaixo dos meus pés que as vezes demonstram
alguma alegria ao se balançarem como numa triste dança de despedida, da vida,
que vida? De longe o vento traz o som de uma triste
melodia, a reconheço,” El condor Passa”, que se alterna ao sabor do vento, quem
naquela imensa solidão vem tocar sua flauta com tanta maestria, a paisagem uma
verdadeira poesia, altura, ar puro, frio e vazio; um enorme vazio; quando as
nuvens abaixo dos meus pés que ainda dançam, ou simplesmente se balançam se
dissipam, posso ver a altura, a alvura das nuvens que passam e que se vão, para onde não sei. De repente avisto
ao longe uma mancha escura que se meche entre as nuvens brancas, prendo minha
atenção aquilo que parece crescer, e cresce e aparece, é um belo condor que
passa, como se ouvisse a flauta distante, naquele instante eu me lembro porque
estou ali, e penso, quantos gostaria de um dia poder ver o que agora vejo e o meu
único desejo é num pequeno impulso me
atirar daqui. Estará feliz o flautista, ou também balança as pés pensando em
seguir o condor que canta, mas sabendo que sem asas não haverá controle e o
destino será o meu. E de repente me vem a cabeça o motivo de tanta amargura
onde estará neste momento? Quem sambe rido ou dançando de verdade, em plena
felicidade enquanto eu aqui triste pensando em dar fim a uma vida, que poderia
muito bem ser bem vivida com outra toda essa beleza namorando. Isto mesmo, não
me matarei a esmo, descerei a montanha agora mesmo, procurarei quem tão bem
executa esta canção, trarei aqui alguém que escolher meu coração e viveremos
estes momentos mais felizes, agradecendo Adeus por permiti-lo, por pintar uma
tela tão suprema, como as estrofes do mais belo poema que um poeta na terra
escreveu. Consegui encontrar a flautista cancioneira, que continuava a
tocar a mesma cancão do início, sentada também a beira do precipício, tocava e chorava
ao mesmo tempo, enquanto balançava os pés e tudo tornou-se a mais bela poesia, pois descobrimos neste exato momento o que Deus quis dizer com altruísmo,
era por ela que eu chorava de um lado do penhasco e por mim que logo ela do outro lado se
atiraria no abismo.
1 comentário:
Magnifico, parabéns.....uma reflexão....suave....quase sem sentir.
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