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quinta-feira, 12 de maio de 2011



Tem Espelho que é Cego.
J. Norinaldo.

Atrás do espelho a cama recém desfeita, nos lençóis ainda o sinete de suor, enquanto ajeita o nó da gravata e os cabelos revoltos, tenta entender o significado do ato recente; dos beijos ardentes, dos lábios macios, de feras no cio que se dão sem amor, ignoram o pudor e a honestidade, usando o talento que o espelho esconde. Nem sabe se o nome que disse em delírio é mesmo o de alguém que também delirava, se o delírio valeu a pena o cansaço e se alma entendeu e perdoa este ato. Não foi a primeira e nem será a última cama desfeita, ânsia satisfeita por alguns minutos, a cumplicidade silente do espelho, que olha nos olhos na hora da fuga.
Depois a rotina o pedido da conta, enquanto ela se apronta retocando o batom, não demonstra langor, simplesmente fadiga, que desaparece ao primeiro drinque. Tão bela, tão jovem, de onde será que vem? Na rua em que mora o que devem pensar? A esta hora seus pais onde pensam que está? Vai-se a beleza ao estender a mão, o brilho nos olhos ao ver o seu prêmio, até onde vai nessa profissão?
De volta pra casa, a porta lhe espera, uma deusa antiga já sem muita beleza, que o chama querido e a beija por tabela, a outra tão bela, como foi no passado, lhe diz com carinho, deve estar cansado, precisa pensar um pouco em você, vou preparar um drinque enquanto se troca, fiz aquela panqueca que você adora.
Onde está nossa filha pergunta de chofre, como se temesse o mesmo destino, saindo de um quarto com cama desfeita, porém satisfeita com o premio que tem. Não! Isto jamais, sempre fomos bons pais, e lhe dei bom exemplo, minha casa é um templo de felicidade, diferente daquela, tão jovem tão bela, cujos olhos brilham ao estender a mão.
De volta ao espelho, agora em seu quarto, já tão conhecido que nem vê a cama, olhos nos olhos, apagada a chama, só deseja um sono sereno de justo.

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