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sábado, 16 de maio de 2015

  DA VEZ PRIMEIRA
Mário Quintana

(Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada....
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!)
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O que eu Penso.
J. Norinaldo.
Eu diria que este toco de vela de sebo amarelada
Não se pagará jamais em tem algum, sabe por que?
Porque sempre há de haver alguma mão avarenta e adunca
A escrever num quarto frio de alguma pensão sem categoria;
Um verso, um poema uma poesia, para ser depois aqui lembrado.
E depois da tua última partida, com o teu cadáver mais desnudo,
Ganhares um palácio com candelabros de ouro e tudo
quando já não precisas mais mais e o toco no pires ainda preso
continuará para sempre aceso a outros cadáveres que virão
Com outras velas amareladas com um toco chorão escrever novas poesias
Já devias andar morto uma vez, que te vi com um sobretudo surrado,
Com teu toco de vela apagado, por botecos a perambular
E eu esqueci de perguntar, pelas fãs das tuas poesias
Se com a mão adunca e avarenta ainda escrevias e para que?
Sei responder,irias que dizer que minhas palavras eram heresias
Ah! se visse agora tua pensão, juro que não acreditarias
Mesmo sendo os poetas tão amáveis e tolerantes
Que a tua pensão hoje é um palácio, onde se reunia a elite antes
Casa da cultura Mário Quintana, em fim o príncipe da poesia.
Oh! Porto alegre que Ironia! Quanta hipocrisia

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