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domingo, 30 de novembro de 2008

GOTAS DE CHUVA
J. Norinaldo.


Uma gota de chuva na vidraça.
Escorre como uma lágrima dorida.
Escondido da chuva e de mim mesmo
Choro atrás da embaçada vidraça da vida.

Existem lágrimas de felicidade.
Dizem, pois na verdade eu não sei.
Ora. Por que chorar por amor.
De dor sim, foi por que sempre chorei.

Minhas lágrimas formaram um grande lago.
Onde um cisne negro solitário vem nadar.
Este lago não para mais de crescer.
Por que o cisne pousa ali pra chorar.

Se Narciso se olhasse nesse lago.
Não veria a beleza que viu em outras águas.
Talvez ali deixasse suas lágrimas.
Em vez de lago já seria um mar de mágoas.









O olhar de uma Criança.


Veja eu sou essa linda criança.
E para Deus é que eu olho com certeza.
Um olhar tão lindo desprovido de maldade.
A inocência capaz de ver tanta beleza
No presente que nos dá a natureza,
Essa simples borboleta em liberdade.

Você também já teve um olhar assim
Também foi criança ou esqueceu?
Arquivou este olhar dentro de si
Ele está só esquecido não morreu
Procure-o com cuidado e encontrará,
E verás Deus novamente como eu..


sábado, 29 de novembro de 2008


A FELICIDADE
José Norinaldo Tavares

A felicidade está na linha do horizonte.
Cada passo que dou em sua direção.
Ela fica de mim um passo mais distante.
Os meus passos cada vez ficam mais curtos.
E esta linha cada vez mais caminhante.

Levo a vida nessa busca angustiante.
Que um dia o horizonte vai parar.
Como se fosse o final de uma estrada.
A luz do fim do túnel tão falada.
E a felicidade ali está a me esperar.

Nunca é tarde pra que alguém seja feliz.
Aprendi isto desde de muito pequenino.
Continuarei em busca do horizonte.
Como o sedento em busca de uma fonte.
Não acredito que alguém mentiu a um menino.

Minha esperança não morrerá no caminho.
Não estou sozinho nessa louca empreitada.
Só será triste se chegar no fim da vida.
Por recompensa somente chagas nos pés.
Moisés também não entrou na terra prometida.

Mesmo tendo uma pedra como trono.
E um castelo construído de loucura.
Já sem forças para gritar triunfante.
Que descobri ao alcançar o horizonte.
Que a felicidade está no ser, não na procura.


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Espelho



O Espelho
J.Norinaldo

Narciso inventou o espelho
Ao ver seu rosto num lago.
Não tinha idéia do estrago
Que traria tal invenção.
Narciso era perfeito.
Deu um sorriso e partiu.
Nascia ali com certeza,
A história da beleza,
Da fada e da bruxa vil.

Alguém se olha no espelho
Com o que vê se apavora.
Reclama, lamenta e chora,
Maldiz a beleza alheia.
E não vê que muito mais feia
Se torna naquela hora.

Pois desconhece a beleza
Que o espelho não revela.
Essa é a beleza mais bela.
A nossa beleza interna.
Que habita uma caverna
Pulsante como um vulcão.
Do lado esquerdo do peito
É o nosso coração.



O pavão como Narciso
É o mais belo animal.
Tem elegância e leveza,
Sua única rival...
Talvez a cobra coral.
Que nos atrai com a beleza.
E nos mata com seu veneno letal.

Ave Maria dos Desprezados.


Ave Maria dos Desprezados.
J. Norinaldo.

Tanto já se cantou a Maria, tanta Ave Maria.
Ave Maria do amor, do morro, dos namorados.
Nunca alguém lembrou de cantar,
Uma Ave Maria aos desprezados.

Criaturas que passam ou passaram pela vida.
De pegadas deixando apenas um par.
Lembradas, por que continuam nos caminhos,
Pois, nem o vento fez questão de apagar.

É triste chegar ao fim da estrada
Olhar para trás e não vê nada.
Ninguém para amar ou chorar juntos,
Ou apenas um par de pegadas.

Salve rainha, ó mãe divina.
Rogai por nós e nos daí tua bênção.
Para aqueles a quem o mundo deu as costas,
E que ninguém jamais estendeu a mão.


Persegues-me em todas as ruas
que cruzam o meu caminho.
Estás em todos os sóis que vejo,
em todas as luas que eu queria tocar...
Na névoa dos meus sentidos
e no crepúsculo do acordar,
estás tu!

Persegues-me nos becos e vielas da minha vida
Persegues-me na última lágrima que deito......
no único sorriso que dou!
Persegues-me no mundo das fadas da minha fantasia,
e nas terras geladas das princesas adormecidas
por beijos incompletos.

Persegues-me de uma forma, que,
quando te encontro
assalta-me o desejo sublime de mergulhar na tua sonhada luz
e finalmente adormecer em paz.

Por: S. L. Lima

Um Planeta Beligerante e sem Deus.


Um Mundo Beligerante e sem Deus
J. Norinaldo.

Nas últimas décadas temos acompanhado uma mudança radical no planeta, uma profunda crise mundial cujas facetas atingem a todos os setores da nossa vida. Deus está sendo preterido, em seu lugar o homem colocou o lucro, a ganância, o poder, mesmo por que é notório que o mundo que Ele criou segundo nos foi ensinado, o homem tem hoje o poder estocado que pode destruí-lo várias vezes. Em 1978, quando os Estados Unidos e A União Soviética completavam a segunda rodada sobre os tratados de Limitação de Armas Nucleares, o Pentágono lançou um plano ambicioso que dois anos depois culminou com um orçamento destinado a defesa de apenas um trilhão de dólares.
O preço dessa loucura é realmente assustador, em 1978 antes da recente escalada de custos militares, os gastos mundiais ultrapassavam um bilhão de dólares dia. Países como o nosso, seguindo a premissa de que para se obter a paz temos que está muito bem preparado para a guerra, com certeza gasta muito mais com esse propósito, que com educação e saúde.
Nos dias de hoje, qualquer um que queira, pode discutir a vontade sobre se Jesus foi casado, teve filhos, se realmente existiu, a literatura não busca mais trazer o conhecimento e o entretenimento, mas sim o lucro, pesquisando antes de se lançar qualquer obra no mercado, o que as pessoas querem ler, seja verdade ou mentira. A mídia que teria o papel de coibir esse procedimento, é sua mais forte aliada, no Brasil o programa de maior audiência com certeza são as novelas, que mesmo com o aforismo que a arte imita a vida, destrói os pilares de sustentação de uma nação, que é a família.
Quando Jorge Bush lançou-se contra o Iraque, alegando que aquele país detinha armas de destruição em massa, logo depois os jornais afirmavam que nada fora encontrado que justificasse tal ataque, eu escrevi na minha coluna num semanário pobre em minha cidade, que poderia mostrar onde estava a arma de destruição em massa naquele país. A fome imposta pelo boicote da ONU, que matou mais de 500 mil pessoas, a maioria crianças inocentes que fingimos defender com tanto empenho. A fome é a pior arma, pois antes de matar, humilha e enlouquece.
Quando morei em Duque de Caxias RJ, minha casa ficava na rota dos aviões que pousavam no Aeroporto do Galeão, certa vez recebi a visita de uma amiga médica, que me perguntou como suportava aquele barulho. Respondi-lhe que já estava acostumado. E ela então me disse: _ Ledo engano amigo, você está ficando surdo. Assim é com o mundo atual, dizem os cientistas que quando um problema se torna de impossível solução, perde totalmente o interesse, é isto, estamos ficando surdos e cegos, mesmo ouvindo e enxergando. Acostumando-nos a corrupção, a violência e a falta de Deus em nossos corações. O homem passou a ver Deus não como salvação da sua alma, mas, como meio de vida, profissão, um meio de lesar seu semelhante menos esclarecido, subir na vida sem se importar com as conseqüências por que deixou de acreditar.
Nações com metade da população vivendo abaixo da linha da miséria, carentes de tudo, cada vez mais se tornam miseráveis, doando o pouco que tem em busca de Deus, este mesmo Deus que tornam os espertos milionários vendendo seu nome, justamente por não temê-lo mais, por não acreditar Nele.
Que Deus nos ajude.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008


SORRIAM
J. Norinaldo

Por trás de uma máscara de felicidade.
Há um rosto mascarado ao natural.
Um rascunho, um projeto mal concebido.
Com rabiscos que o tempo fez por mal.

Existe quem nasce palhaço.
Existe aquele que escolheu.
Dentre os palhaços dessa vida.
Ninguém é mais palhaço do que eu.

Olhe bem esse palhaço e avalie.
Quanto nessa vida já sofri.
Nesse picadeiro desgraçado.
Já chorei tentando fazer você ri

Quantas vezes chorei por ver você sorrir.
Quando deveria ser feliz por vê-la sorrir assim.
Ah! Quanta diferença existe em sorrir para alguém.
E quanta dor me causa vê-la sorrindo de mim.

Me mandem carinhas de palhaços.
Com carinho vou guardando um por um.
Os mais tristes terão minha preferência.
Nessa existência temos muito em comum.

Esse palhaço tão triste ai sou eu.
Fui eu mesmo quem pintou meu rosto.
Com as tintas fabricadas de tristeza.
Com a borra da vala do desgosto.

Palhaços são sinônimos de alegria.
Nem todo palhaço é assim.
Não falo em nome dos palhaços.
Somente do palhaço que há em mim.






A Fonte da Perfeição.


A FONTE DA PERFEIÇÃO
J. Norinaldo. Conto.

Abel era um homem inconformado com a vida. Achava-se feio e pouco inteligente, por isso gastava a maior parte do seu tempo pensando porque tantas pessoas se sobressaiam pela sua beleza, outros, não tão belos, pela sua inteligência, e porque ele nascera tão comum. Como gostaria de ser perfeito. Quando passava pela rua somente as poucas pessoas que o conheciam o cumprimentavam, e ele sabia que aquilo era um gesto mecânico, não havia satisfação, empolgação ao faze-lo. Enquanto que, por outro lado, existiam pessoas que viviam a milhares de quilômetros da sua cidade, que jamais viriam até ali e, no entanto, eram conhecidas e admiradas por todos.
Assim vivia Abel, sempre pensando na perfeição, na beleza, na fama. Em riqueza não pensava muito, mesmo porque sabia que, se fosse perfeito, esta acabaria sendo incluída.
Tinha 30 anos, não era pobre, mas também não era rico, enfim, não podia se queixar. Continuava solteiro, talvez esperando encontrar a perfeição para depois decidir casar. Não era bonito, mas também nunca assustara ninguém, e por muitas vezes notou que havia garotas na sua cidade interessadas nele, porém ele não lhes dava chance. Sonhava com a perfeição.
Tinha poucos amigos, pois ninguém agüentava por muito tempo suas lamentações por não ser bonito e perfeito.
Um dia Abel saiu de sua casa e resolveu caminhar até onde pudesse. Pegou uma estrada de chão e foi, perdido em seus pensamentos (que quase sempre eram os mesmos), seguindo com um alforge com algum suprimento para sua viagem.
Caminhou por três dias, até que chegou a um lugar muito bonito, onde tudo era verde e grandes plantações se perdiam no horizonte. Ele admirava tudo e pensava: isto sim é perfeito! A natureza é perfeita! Tudo é perfeito, menos eu.
Estava cansado e com muito sono. Parecia dormir andando.
Numa curva da estrada, Abel viu uma frondosa árvore e que junto a ela havia alguém sentado. Apressou o passo, pois já estava há muito na estrada sem ter com quem conversar.
Foi se aproximando e quando pode distinguir bem de quem se tratava, viu que era um velho, muito velho, cabelos totalmente brancos e com uma longa barba também muito branca. Que fazia um homem naquela idade sozinho pela estrada? - pensou. Chegou mais perto e o saudou com um "boa tarde" (falou bem alto, pois pensou já dever ser surdo). O homem levantou os olhos, olhou para ele e respondeu com voz firme:
- Boa tarde, não quer sentar-se e descansar um pouco, à sombra? Aqui está uma delicia.
Abel sentou-se em uma pedra e começaram a conversar. O homem velho perguntou qual era o destino do rapaz, e este lhe respondeu que não tinha destino certo, que estava apenas caminhando sem rumo.
- Mas, sempre estamos buscando algo na vida. O que, na verdade, você procura meu jovem?
Abel teve então a chance de falar do seu assunto favorito. Disse ao homem que não se considerava bonito nem inteligente, que nunca se sobressaíra em nada e que, portanto, não era perfeito. Isto era o que buscava, encontrar a perfeição.
- Então, meu caro jovem, o destino guiou seus passos ao lugar certo. Posso ajudá-lo. Conheço o que você está procurando.
- Como assim? - surpreendeu-se Abel - o senhor sabe como eu posso encontrar a perfeição?
- Exatamente. Posso lhe indicar o caminho, onde você pode se tornar perfeito, como sempre sonhou. Mas, tem uma condição.
Abel olhou incrédulo para o velho e pensou: _ Ora, se soubesse realmente onde buscar a perfeição, seria ele um velho já no fim da vida?
Não acreditava numa só palavra do velho, mas mesmo assim prosseguiu com a conversa.
- E qual seria essa condição? - perguntou, fingindo interesse.
- Terá que ensinar depois esse caminho a todas as pessoas que realmente precisam da perfeição.
- Tudo bem. Eu aceito. Ensine-me o caminho e diga o que terei que fazer. Fica muito longe daqui? - perguntou.
- Não fica muito longe. Existem grandes atalhos por onde você logo chegará.
Abel pensou consigo mesmo: estou caminhando sem rumo, não me custa nada seguir a loucura desse velho, que deve ser caduco.
O velho lhe indicou o caminho a seguir, lhe deu algumas referencias e se despediu do rapaz, seguindo seu caminho. Abel se espantou com a firmeza dos seus passos.
Partiu, então, em busca da tão desejada perfeição e, em menos de seis horas de caminhada, encontrou a primeira referência dada pelo velho. Animado, prosseguiu sem sentir cansaço mais algumas léguas e chegou ao local indicado. Havia um grande portão de pedras (muito estranho àquela construção). Ao lado viu uma pequena guarita e um homem que parecia montar guarda ali.
Aproximou-se, deu boa tarde e explicou o que procurava. O homem, calmamente, lhe respondeu:
- Está no lugar certo amigo. Entre e logo à frente o receberão.
Completamente atônito, o rapaz seguiu por um estreito caminho, avistou uma casa de pedra e para lá se dirigiu; foi recebido por um senhor muito simpático, que o convidou a entrar e, após sentar, Abel contou como chegara até ali.
Foi informado que não precisava pagar absolutamente nada, teria apenas que ter fé e se banhar numa fonte ali existente.
Achou tudo muito fácil para ser verdade, mas se não cobravam nada, não podia ser mais um caso de charlatanice.
O homem, que se apresentou com o nome de João ao recebê-lo, bateu palmas e apareceu uma jovem a quem chamava de Raquel.
- Leve o visitante até a fonte - ordenou.
A mulher, sem dizer nada, apontou o caminho a ser seguido e saiu na frente.
Abel a seguiu com o coração aos pulos. Ele não cabia de felicidade, pois pelo jeito o velho estava certo e em fim, ele iria ser uma pessoa perfeita, conhecida e admirada por todos.
Caminharam alguns minutos por uma estradinha muito estreita, atravessaram um pequeno e lindo bosque, cheio de flores e pássaros, mas Abel não via nada, sua preocupação era outra.
Chegaram finalmente à fonte e Raquel se virou para ele dizendo:
- Pronto, chegamos. O que tem que fazer agora é entrar na fila e aguardar sua vez. Não tem mistério, quando chegar sua vez é só parar embaixo da fonte e, enquanto se banhar, o senhor deve pedir para ficar perfeito, pela Graça de Deus.
Dizendo isto a mulher voltou pelo mesmo caminho.
Abel então viu que uma grande fila se formava até a fonte, que era muito bonita, de água que jorrava de uma grande pedra escura formava a figura de espectro que não conseguiu identificar. Quando viu as pessoas que formavam aquela fila tomou o maior susto. Uma mulher tinha nos braços uma criança com a cabeça bem maior que o corpo. Que coisa horrível! Seguindo a fila, ele viu um homem com uma ferida que já lhe comera a metade do rosto e só tinha um olho. Mais na frente, uma moça não tinha braços nem pernas.
A cada passo que Abel dava mais apavorado ficava. Viu uma moça que, olhando por trás parecia perfeito, um corpo muito bonito, porém quando chegou a sua frente, quase caiu de costas: a moça só tinha um olho e um buraco no lugar do nariz. Algumas pessoas choravam muito ou gemiam alto.
Abel pegou o caminho de volta e se dirigiu novamente para a casa da trilha e lá encontrou João e Raquel, que atendiam mais pessoas sofredoras. Ele aguardou e quando estes puderem falar, João perguntou:
- Mas, foi tão rápido, o que houve?
Abel então olhou para o homem e disse:
- Meu amigo, eu não preciso daquela fonte. Fui egoísta o tempo todo comigo mesmo, pois nunca me preocupei com os problemas do meu próximo; a minha vaidade e egoísmo nunca me deixaram ver que existem pessoas com problemas bem maiores e que se não fosse meu egoísmo, eu poderia me sobressair como sempre sonhei ajudando essas pessoas - disse revoltado, continuando em seguida - Não me banhei na fonte, porque descobri que sou perfeito. Eu sempre fui fisicamente perfeito, minha mente é que estava atrofiada - constatou - mas foi muito boa minha visita aqui, pois agora que realmente consegui ver a imperfeição e que sou e sempre fui perfeito, já sei muito bem o que fazer.
- E podemos saber o que o amigo resolveu fazer a partir de agora - perguntou João.
- Claro! Primeiro pedir perdão a Deus pelas minhas blasfêmias, perder a mania de querer me sobressair e recuperar o tempo que perdi dizendo bobagens sobre perfeição, pois era a única coisa que fazia. E a partir de hoje, vou sair pregando esta lição que aqui aprendi, e tentar ajudar aqueles que realmente precisam de ajuda. Agora eu sei que nunca fui capaz de olhar para trás e que sofria tanto com o sucesso dos outros que me tornei incapaz de construir o meu próprio. Agora não quero mais tomar seu tempo, amigo, sei que é uma pessoa muito ocupada. Muito obrigado e adeus.
Abel acordou assustado. Estava sentado sob aquela árvore. Olhou em volta para ver se encontrava o velho, mas tudo fora um sonho, mesmo que não lembrasse de ter dormido. Sonho ou não, estava muito real em sua mente e cumpriria a promessa que fizera, pois sabia que aquelas pessoas que vira na fila da fonte eram apenas parte de um sonho, mas que nosso mundo estava cheio delas e que precisavam de ajuda.
Abel voltou a sua cidade. Uma semana passou e ninguém o reconhecia. Tempos depois ele era visto com uma multidão a sua volta enquanto ele pregava a Palavra de Deus, sem "ter igreja" nem cobrava nada, pelo contrário, ajudava no que podia as pessoas necessitadas. Nunca esqueceu o velho do sonho (não tinha certeza, mas achava que sabia quem era).

terça-feira, 25 de novembro de 2008


AMOR A NATUREZA

Em uma pequena cidade do rio Grande do Sul, a margem do Rio Uruguai, vivia a humilde família do sr. Rosendo. Pescador e lenhador. Tinha mulher e 3 filhos, passava a maior parte do tempo no rio, pescando e juntando lenha, que trazia com dois dos seus filhos para vender na cidade. O outro filho era ainda muito pequeno e ficava em casa com D. Neuza sua esposa..
_ Seu Rosendo era um homem pacífico e nunca ninguém o vira se lamentando da vida. Trabalhava duro e ganhava muito pouco, porém sua honestidade era por todos reconhecida e respeitada.
_ Amava a natureza e só pegava a lenha que só servia para tal, nunca derrubara uma árvore verde. Sempre que encontrava algum animal ferido, tratava do bichinho até que este estivesse pronto para voltar a floresta e era o que ensinava aos filhos.
Um certo dia, andando pelo bosque com os filhos, encontraram um velho angico já sem folhas e que lhes renderia bastante achas de lenha; os meninos ficaram muito faceiros e já preparavam os machados para derrubar a velha árvore, quando seu Rosendo descobriu um pequeno broto de um lado. Mandou que parassem imediatamente a ação; os rapazes vendo o que ele descobrira, disseram: Pai, este angico não tem mais salvação, veja é o único sinal de vida, o resto está todo morto. Não vai sobreviver.
_ Pode ser disse o homem, mas também não vai nos fugir se não conseguir sobreviver. Portanto nós podemos muito bem esperar. Ninguém disse mais nada e continuaram sua busca, deixando para trás o velho angico com seu brotinho num galho já quase todo seco..
_Assim era seu Rosendo. Em casa os meninos contaram a história para a mãe e esta não se conformava com a bondade do seu marido para com bichos e mato.
_Ora, às vezes não temos um pedaço de carne para comer, ele encontra algum animal ferido e o trata como se fosse gente. Depois o solta novamente na floresta. Não sei o que espera ganhar com isto. Sinceramente não entendo.
D. Neuza ao contrário do seu Rosendo, vivia a reclamar da vida que levavam, principalmente quando a pesca era fraca e quase ninguém lhes comprava a lenha. Muitas vezes D. Neuza quando ia lavar as roupas do marido, enfiava as mãos nos bolsos a procura de alguma moeda ali esquecida, e o que encontrava geralmente, eram sementes que ele trazia para fazer mudas e depois replanta-las na floresta.
Uma noite de inverno. Fazia muito frio. Os filhos cansados da lida se recolheram cedo para dormir logo após o jantar. Seu Rosendo pegou algumas achas de lenha e alimentou seu velho fogão. Pegando sua cadeira, sentou-se ao lado da mulher e ficaram ali conversando. A pequena cozinha estava bem aquecida.
Ele pegou a chaleira de ferro e colocando água colocou-a para esquentar e foi preparar a cuia para o mate. Quando voltou já com a cuia pronta, Viu que D. Neuza colocara mais lenha no fogo. Quando seu Rosendo foi se sentar em sua cadeira, viu apavorado um grande número de formigas grandes e pretas, que corriam desesperadas para escapar das labaredas; ele não pensou duas vezes, pegou o tição e saiu correndo em direção a uma vasilha com água, apagou imediatamente o fogo depois colocou a madeira no chão para que as formigas pudessem ir embora.
A mulher não acreditava no que via, seu marido caducara de vez. Não era possível que alguém com a cabeça perfeita agir daquela maneira
_ Posso saber por que fez isto perguntou a mulher.
_Claro, respondeu o marido. Você por acaso não viu que aquele pau estava cheio de formigas, que seriam todas devoradas pelo fogo?
_Ora faça-me o favor, não acha que está indo longe demais com essa sua loucura perguntou a mulher. E ainda por cima é o que ensina aos nossos filhos. Francamente.
Homem de Deus, devemos nos preocupar com os seres humanos, formigas não servem pra nada e ainda te mordem quando procuras lenha. Será que estas ai que acabastes de salvar do fogo vão te reconhecer quando te encontrarem no bosque? Será que é isto que esperas? Se for, agora sei que és louco mesmo.
_ Não é isto que espero minha querida, elas não pensam, se nos mordem não é porque são cruéis. É justamente porque não pensam, portanto não posso esperar delas nenhum reconhecimento. Não devemos fazer o bem sempre esperando uma recompensa e sim porque nos sentimos bem com isto. Todas as criaturas são filhas de Deus, assim como nós. Você acredita que ele criaria algo com vida que não prestasse pra nada? As formigas são seres vivos, sentem dor acredito eu e com certeza não ganharia nada as vendo morrendo queimadas. O que não queremos para nós, não devemos querer para nenhuma criatura. Sempre que puder salvar uma formiga, uma aranha, um pássaro ou mesmo qualquer inseto, eu o farei, sem esperar nenhum recompensa por isto. Isto me causa enorme prazer.
A mulher irritou-se com a conversa. Deixou seu Rosendo tomando mate sozinho e se recolheu ao seu quarto resmungando.
O velho ainda ficou por ali. Sempre que levava uma acha de lenha ao fogo, a examinava cuidadosamente para se certificar que não havia nenhuma formiga. De tão aborrecida D. Neuza se esqueceu até de dar boa noite ao marido, deitou-se e dormiu.
D. Neuza teve um sonho nesta noite. Em seu sonho ela vivia com seu marido e filhos em um reino muito bonito. Seu marido tinha um alto cargo na corte, seus filhos desfilavam com roupas muito alinhadas em cavalos brancos e com arreios de prata e ouro. Ela fazia parte da alta sociedade, eram verdadeiros fidalgos.
Porém de repente uma tragédia se abatera sobre a família. Seu Rosendo acusado de um grande crime, havia sido declarado culpado e condenado pelo Rei a pena de morte.
Nestes casos, o condenado tendo o corpo todo untado com mel, seria amarrado sobre um grande formigueiro. Todos seriam obrigados a assistir ao seu martírio inclusive a família.
D. Neuza suava em seu delírio. Chegado o momento, os soldados trouxeram seu Rosendo seminu, jogaram mel sobre o seu corpo e com fortes tiras de couro cru o amarraram pelos pulsos e tornozelos sobre o grande formigueiro; Outros soldados se encarregavam de assanhar as enormes formigas pretas.
O povo se aglomerava para assistir o sacrifício. O rei em seu trono a tudo assistia passivamente. As pessoas riam muito, pareciam se deliciar com o sofrimento daquela pobre família. D. Neuza viu apavorada milhões de formigas, grandes vorazes, logo não se via mais nada em volta do seu marido a não ser formigas. Ela sofria muito, chorava, se desesperava, porém sabia que nada podia fazer para impedir o sofrimento do marido.
Foi então que se lembrou das formigas da madeira que ela colocara no fogo. Pensou: está vendo, se estivessem queimadas não estariam aí para te matar.
De repente algo chamou a atenção da mulher. Surgiu entre as formigas um estranho cortejo. Vinha a frente uma enorme formiga preta, trazendo na cabeça uma linda coroa, de ouro cravejada de brilhantes; seguida por um grande numero de vassalos vestidos com simplicidade. Devia ser a rainha pensou.
O grande exército só aguardava um sinal dela para começar o banquete. Porém outro detalhe chamou mais uma vez a atenção de D. Neuza. O manto da rainha destoava e muito do luxo da coroa e das outras paramentas, o manto tinha uma parte chamuscado pelo fogo.
A rainha tomou posição, todas as outras formigas assumiram uma posição de respeito. A um sinal desta o exército avançou furioso em direção ao condenado.
Ouviu-se a ovação da platéia, D. Neuza fechou os olhos, não podia ver aquilo. Não era justo. Mas de repente alguém lhe disse: Abra os olhos, o rei quer que todos assistam, para que sirva de exemplo.. Ela abriu os olhos apavorada, e mais uma vez não acreditou no que viu. As formigas haviam se dividido em quatro grandes grupos, e agora comiam furiosamente as correias que prendiam seu Rosendo. Em poucos segundos, ele estava livre.
Mais uma vez a grande rainha fez um gesto, e seu exército desapareceu pelo mesmo caminho de onde surgira. Ficando só a rainha. Foi ai que D. Neuza descobriu porque o manto da rainha estava queimado. Claro ela era uma das formigas que ela colocara no fogo aquela noite, e que seu marido conseguira salvar.
A rainha e seu cortejo, após falar algo ao seu Rosendo também se retirou. O Rei mandou chamar seu Rosendo, lhe devolveu todos os cargos depois de abraça-lo emocionado.
D. Neuza acordou neste momento. Molhada de suor, levantou-se ao notar que seu velho marido ainda não viera dormir. Foi até a cozinha onde o encontrou dormindo em sua cadeira. O fogo já quase apagado; d. Neuza o chamou carinhosamente e foram dormir.
No outro dia bem cedo, durante o café. D. Neuza fez questão de contar seu sonho ao marido e aos filhos, com a maior riqueza de detalhes, prometendo que a partir daquele dia teria uma atitude bem diferente., não só com o marido, mas com tudo que fizesse parte da natureza.
E assim foi, quando seu Rosendo trazia algum animal ferido, D. Neuza fazia questão de trata-lo e conversava com todos os animais carinhosamente, e com isto não se julgava uma louca. Pedia sempre que o marido e os filhos lhes trouxessem sementes, fez um pequeno canteiro onde cultivava mudas e depois ela mesma ia planta-las. Descobriu que podia ser muito feliz com o que chamava a loucura do marido. Hoje é uma mulher bem diferente, por ter descoberto que amar a natureza é amar a nós mesmos.

Meu Sonho.

MEU SONHO.
J. Nori Tavares.


Na solidão e na calma. Montei o potro da alma. Da minha mente selvagem. Cavalguei pelo deserto. A mercê de uma miragem. Vi dois pássaros em fuga. Perseguidos bem de perto. Por uma seta brilhante. O mais belo diamante. Iluminando o deserto. Não decifrei o meu sonho. No próprio sonho sonhei. Que acordei espavorido. Pois, ali bem ao meu lado. Um dos pássaros abatido. No olhar do outro pássaro. Diante da dor atroz. Encanto e passividade. Perdão e amor ao algozCausador da sua infelicidade

Voei sonhando acordado
Nas asas do pensamento
Enfim decifrei meu sonho
Deus é o pássaro abatido
Diante do esquecimento



Meus Medos
J. Norinaldo

E foram felizes para sempre.
Para sempre é muito tempo é infinito.
Felicidade nunca foi uma constante.
É momento, são migalhas, de um instante.
Tu que começa tem um fim.
A não ser a sentença ilusória da surdez.
Pelo dedo que acusa e que condena.
No incoerente tribunal da insensatez.

Meu juiz é a minha consciência.
O escudo que protege a covardia.
De chorar escondido de mim mesmo.
De não ter discernimento e ousadia.
De enfrentar os meus traumas, os meus medos.
Mas ter coragem de dizer na poesia.

Tenho medo de cavalgar a tua fúria.
Tenho medo de cair, de me ferir.
Tenho medo de olhar pra qualquer lado.
Tenho medo de saber que estou certo.
Tenho medo quando sei que estou errado.
Tenho tanto medo de ter medo.
Tenho medo de saber que sou amado.

Tenho tanto medo de te ter.
Tenho medo de te perder.
Tenho a certeza que não se perde.
Aquilo que não se pode ter.
Tenho tantas ânsias de te amar.
Tenho, porém muito medo de você.

Recorda-te

De alguém Para Mim.
recorda-te de mim quando leres as linhas que para ti tracei quando a outra beijares como nunca te beijei,quando ao anoitecer, numa canção ouvires falar de amor.Quando a vida te sorrir como o abrir de uma nova flor.recorda-te de mim no dia dos teus anos que te desejo toda a felicidade que a vida não te traga desenganos nem conheças a tristeza da saudade.recorda-te de mim quando alguém te jurar amor eterno num banco solitário de jardim...fecha os olhos, e então num instante, num momento deixa voar o pensamento e recorda-te, amor...recorda-te de mim!

Nudez Inocente


NUDEZ.
J. Norinaldo.
A minha nudez não ofende e nem excita.
Sou apenas alguém ao natural.
Para muito uma silvícola, uma selvagem.
Que bobagem se excitar com o que é normal.

Já visitei a sua aldeia, bem diferente da minha.
Não andam nus, mas fazem tanta bobagem.
Que só posso agradecer o que aprendi.
Fiquei muito feliz por ser selvagem.

Pagam para ver uma mulher nua.
Não na rua, mas em lugares escondidos.
Privilégio de quem tem o tal dinheiro.
Aqui na ladeia andamos todos despidos.

Venha conhecer a minha aldeia.
Venha admirar minha beleza.
E vai ver como vestida é tão feia.
Uma inversão de valores com certeza.

Não me olhe como uma mulher nua.
Não sou, sou uma índia selvagem.
Minha nudez é diferente da sua.
Na sua selva dá dinheiro ficar nua.



ELA.


Ela

Interessante, nunca tinha reparado como aquela casa era bonita,
Mas parecia um cartão postal, tudo nela era romântico.
Agora ali sentado no meio fio, bem na esquina daquela rua.
Que também nunca me chamara a atenção,
Olhava para aquela casa como se nada mais existisse além dela.
Uma casinha, com uma porta e 3 janelas,
Pintada de um marrom claro e alguns detalhes em azul e branco.
A frente uma centenária árvore, caída para um lado.
Como se fizesse a apresentação daquela casa tão linda.
De um lado uma trepadeira cheia de flores coloridas.
Viajei no tempo, agora sabia por que via tanta beleza naquela casinha tão simples,
Lembrava-me ela, igualzinha a casinha onde nascera,
Onde crescera, onde se tornara bela,
Sim, tão bela que meu coração até agora dispara só em pensar nela.
Encontrei tantas mulheres nessa vida, nenhuma bela como ela,
Quantas vezes a vi em outras mulheres, quantas vezes ébrio de amor.
Corri pelas ruas pensando te-la encontrado, quantas vezes as chamei pelo seu nome,
E quantas decepções ao se virarem.
Uma vida inteira nessa procura, agora com esperanças bem rotas,
E as pernas que já não conseguem caminhar por longos caminhos,
Minha procura continua, sem rumo, sem informação, sem nexo sem esperança.
Aliás, esperança ainda tenho, caso contrário que valor teria pra mim a vida,
Essa eterna procura foi sempre a minha razão de ser,
Cheguei a temer encontra-la e assim perder a única razão que tive em toda minha vida.
Como estaria ela hoje, se a encontrasse qual seria sua reação?
E foi justamente, olhando aquela casinha, vendo somente aquela casinha.
como se fosse a única coisa a ser vista no universo, que enfim me caiu a ficha.
Por que com tantas mulheres no mundo, fui-me apaixonar justamente por ela.
Ela, ela quem????

Um Romance de Amor


O céu estava salpicado de nuvens. Parecia que um anjo se havia divertido a polvilhá-lo com pequeninos flocos de neve.
Eram nuvens rendilhadas, quais rendas de Veneza brilhantes, como fios de prata tecidos pelos raios de lua que espreita no horizonte.
Duas delas destacam-se das outras...
Uma, não muito grande, flutuava como um corcel alado na direcção da outra, mais pequenina, que corria também, fazendo esvoaçar a espuma do seu vestido.
Parecia um vestido de noivado.
Aproximaram-se cada vez mais...pararam um pouco, como que observando-se mutuamente.
Depois fundiram-se num terno abraço que durou breves instantes, pois o seu destino, como todos os destinos, era caprichoso e divertiu-se separando-as para sempre.
E lá foram, correndo...afastando-se mais e mais, mas deixando à sua passagem um rasto de espuma, como se tivessem alma e a estivessem perdendo pelo caminho...
Ou talvez, quem sabe, aquela separação tivesse causado as lágrimas que iam ficando espalhadas no azul-cinza do firmamento.
Deixo de observá-las mas não se pensar nelas...é por isso que ponho a mim própria esta pergunta:
-Terão também as nuvens o seu romance de amor?

Por: S. L. Lima

Pensamentos



Não sei o que é "dizer"!
Só sei o que é "pensar"!

Pensamento expresso, comunicado e representado
será palavra escrita, ou dita?
Terão as palavras um sentido em si mesmas?

Porque é que, quando penso, as palavras não chegam
e atraiçoam aquilo que deviam representar?

Se os sentimentos têm de ter uma expressão,
com certeza não será através de palavras que melhor se transmitirão...

As palavras imperfeitas só representarão a verdade dos sentimentos
quando se disser:

Lua...Sol...
...Noite...Luz...
...Rosa...Concha...
...Mar....Estrada..
....e......Silêncio!!!

De: S. L. Lima
O TEMPO

Confesso que somente agora comecei a me preocupar com o “tempo”. Tive uma infância pobre, porém divertida, uma juventude também pobre da mesma forma divertida, ou seja, ao meu modo me diverti. Tive um bom emprego, cheio de aventuras e sonhos sem nunca me preocupar com o fator tempo. Fiz muitas viagens, conheci novas culturas, formei uma família, sempre sem me preocupar com o tempo. Há não ser o tempo que faltava para me aposentar e poder aproveitar melhor o tempo.
Em fim chegou aquele dia sonhado. Alguém te bate nas costas e diz: _ Muito bem. Podes descansar agora, chegou o grande dia. Cruzei um portão com o mesmo formato do Arco do Triunfo guarnecido por dois imponentes Fuzileiros Navais que me prestavam continência pela última vez, tentei não olhar para trás. Foi a partir dali, que comecei pensar no tempo. Aquele portão monumental e belo era bem velho, tinha uma história a contar, porém pelo menos nos últimos 31 anos eu fazia parte dela. Chegara com 18 anos de idade, a cabeça cheia de sonhos e um corpo cheio de energias, jurei defender minha Pátria com o sacrifício da própria vida, e nesse momento, lembro que os dedos ficaram roxos de tanto apertar a coronha de um fuzil, sinal que não estava blefando. Saia agora sem tanta certeza.
Agora sem navios, sem capacete ou fuzil, teria que trilhar uma nova estrada, e como antes falava na vida militar, por conseguinte agora uma nova vida. Tentar esquecer o oceano e suas vagas, enfrentar as tempestades em terra firme, sendo meu próprio Almirante, a frente de um exército de um homem só.. Pensei que seria fácil, agora sem tanta responsabilidade, sem tantos chefes e sem ser chefe de nada e com todos os oceanos a minha disposição. Porém surgia a minha frente uma batalha terrível: o Tempo. Agora que tinha tempo de sobra, teria tempo também para pensar no tempo.
Descobri que a única coisa que tinha era tempo, porém não descobri como fazer para preencher meu tempo, a energia da chegada, ficara para trás no dia em que cruzei pela última vez aquele portal do qual me orgulhara de cruzar em outra época, e no final de cada dia de ócio, uma noite cheia de pesadelos, todos voltados para o interior daquele portão que antes significava felicidade, talvez.
Outro dia, conheci uma moça. Ela se aproximou de mim, começamos uma conversa, e no final ela pegou meu telefone e colocou o numero do dela, disse-me que me ligaria para marcarmos uma nova entrevista, sempre me tratando por você. Novamente esqueci do tempo e fiquei novamente empolgado como naquele dia em que não sentia os dedos segurando meu fuzil. Encontramos-nos mais algumas vezes, tivemos conversas de adolescentes, ela na dela e eu simplesmente ridiculamente esquecido do tempo, até que em uma noite em que me sentia realmente no paraíso, pois aquela menina também demonstrava que não se preocupava com o tempo. Jantávamos e conversávamos esquecidos de quase tudo, quando de repente surge um amigo meu e pergunta se ela é minha neta.
Essa moça tem minha idade ao contrário, ela tem 16 anos. Por que não prestei a devida atenção ao tempo, se assim tivesse feito, não sentiria o que senti naquela noite. O mesmo que estivesse perdidamente apaixonada por ela, e de repente parada em uma esquina de grande movimento, ela pegasse a minha mão e dissesse: _ Vamos, vou ajudá-lo a atravessar, pode vir que dá tempo. E bem no meio da avenida, eu parar e dizer: Vá você, vá viver viva cada momento como se fosse o último, o tempo é muito importante, pena que só descobri isto tardiamente, vá está perdendo seu tempo. O sinal está verde novamente. Uma hora ficará vermelho, e não muda mais, não esqueça. Pra você ainda há tempo.

Fui a tua casa.

Fui a tua Casa
Fui visitar-te, perdoa-me a falta de discernimento.Pensei encontrar-te novamente em uma ruela escura.Porém, o monumento que tive a minha frente,Ofuscou-me a vista e me faz tão diminuto, e sem ação.Meu velho, sobretudo e meu paletó surrados,Chamariam a atenção neste salão iluminado,Pelas tuas obras que nasceram no frio da pensão.Lembrei-me da Gare de Astapovo, sentei-me e chorei,Imaginei aquela velha estação, até o velho banco.Nem imaginas os móveis da tua nova residência.Aqui falar em bancos é até uma blasfêmia.Desculpa, não, não vou entrar, fico aqui fora.Lendo o meu jornal, mesmo que nada tenha de ti. Às vezes publicam uma ou outra poesia tua. Ah! Quanta saudade, da Rua dos Cataventos.Quem sabe até das pensões donde foste despejado.Aqui tudo é limpo e bem cuidado, por isto mesmo.Fico aqui, quem sabe me vejas e venhas prosear comigo.Afinal, conheces bem a sarjeta, meu aspecto não te assusta amigo.Quem sabe também fujas da tua casa, assim como fez Tolstoi.Não importa a idade que se tem, não importa de onde vem o trem.A única coisa que realmente para nós tem importânciaÉ realizar aquele velho sonho, Ah! Meu grande velho.Aquele velho sonho, que acalentamos da mais tenra infância.
por José Norinaldo Tavares

Começo.



Começo.
J. Norinaldo.

No começo foi apenas um começo.
Como tudo que começa e tem um fim.
Um olhar, um se chegar uma troca de endereço.
Um celular, o Orkut e coisa assim.

Depois esse começo se fez grande.
Como a nascente de um rio caudaloso.
O primeiro toque, um abraço cauteloso.
E de repente esse rio se fez mar.

Mar, ilha tempestade e ventania.
Pois até mesmo o oceano tem humor.
Um barco velho, velas rotas pelo tempo.
Não suporta grandes vagas em furor.

Consciente da minha fragilidade.
Navego a brisa da maré calma.
Orientado pelo farol da experiência.
No rumo certo que indica minha alma.

O Troféu.



O TROFÉU
J. Norinaldo

Guerra corpo a corpo não há regras.
Há rendição, há explosão há entregas,
Lanças, espadas punhais.
Não há bandeiras nem hinos,
Só o explodir de canhões,
E o badalar de sinos.

E os teus gemidos teus ais.
É tão profundo o teu prazer.
Que só consegues dizer,
Mais, mais e mais.

Entre duas colunas divinais.
O átrio em forma de lábios verticais.
Não teme o aríete que avança.
Aconchega a enorme lança com ardor.
Que recua e avança sem pudor.

Até que num grito lancinante.
A fortaleza radiante anuncia a rendição.
Há um reboliço em todo teatro de guerra.
Que põe por terra toda sua ebulição.
É a lava incandescente do amor.

Incendeiam-se mil archotes de paixão.
Ah! Enfim a guerra é vencida.
E como de um cavalo de tróia.
Milhões de guerreiros dão partida.
Na mais desenfreada corrida
Em busca do troféu que é a vida.





EMBATE.




EMBATE
J. Norinaldo.


Nas ondas revoltas desse corpo em chama.
De fêmea no cio que grita e que urra ferida.
No lodo macio das tuas entranhas busco refúgio.
Enquanto te abres, submissa, rendida.
A brancura dos teus olhos em si revela.
O prazer que te abrasa a fonte da vida.

Enquanto a espada transpassa teu corpo.
Ferida de vida você pede mais.
Teu grito abafado por um louco beijo.
Revela o desejo do teu corpo em arco.
Depois de regar teu jardim com meu mel.
Como dois guerreiros rolando no charco.

Entre os teus seios repouso cansado.
Mas não saciado nem pronto a partir.
Ainda ouves os canhões e os sinos tocar.
O suor que escorre faz teu corpo tremer.
E o guerreiro de espada em riste.
Não resiste ao convite pra recomeçar.

Num embate de feras que foge a ciência.
Sem nenhuma decência se mordem se comem.
São seres insanos, são feras no cio.
Um lago de lavas surge por encanto.
E neste momento o fogo é tanto.
Que em comparação o inferno é frio.










O Amor e a Neve.



Amor e Neve
J. Norinaldo


A neve que enfeitas as montanhas.
Quando derretida vira lama.
Só o amor não se transforma.
Mantém sempre acesa a eterna chama.

Quem ama e é amado é feliz.
Infeliz daquele que nunca amou.
A felicidade nunca faz aniversário.
Vem e vai embora sem pudor.

Quem é que já viu a felicidade.
Quem é que pode dizer eu sou feliz.
Nem sempre o que aparenta é a verdade.
Nem sempre a verdade é o que se diz.

Ah! Essa eterna procura.
Amor, felicidade e fantasia.
Quantas vezes já ouvi alguém dizer.
Ah! Eu era feliz e não sabia.


segunda-feira, 24 de novembro de 2008







ADSSUMUS
J. Norinaldo Tavares

Quando Deus criou o mundo.
Ordenou aos seus profetas.
Façam um jardim bem florido.
Com minhas rosas prediletas.
Quero no centro erigido.
Um templo para os poetas.

Construam tudo com brilhantes.
Usem os mais belos vitrais.
Façam os muros de esmeraldas.
Com guaritas de cristais.
E para guardiões do templo.
Os Fuzileiros Navais.


Conflitos.





CONFLITOS.
José N. Tavares.

Cá entre eu e eu mesmo.
Há um terreno baldio.
Há duas nações em guerra.
Há uma fera no cio.
Há um céu que pega fogo.
Há um inferno que é frio.

Há alguém que me consola.
Há alguém que me atormenta.
Há uma voz que aconselha.
Há outra voz que me tenta.
Há uma alma serena.
Há outra alma sedenta.

Há numa parte mim amor.
Há outra que amor não quer.
Há uma que quer ser homem.
Há outra que quer ser mulher.
Há uma que quer ter Deus.
Há outra que já não quer.

Há dentro de mim duas feras.
Há uma luta constante.
Há uma que é mais feroz.
Há outra que quer ter paz.
Há uma que sempre vence.
Aquela que eu alimento mais.








Palhaço Triste.


Palhaço Triste.
J. Norinaldo


Quando cerram-se as cortinas do teatro.
Quando a platéia extasiada vai embora.
Quando o picadeiro enfim está vazio.
Quando o eco das risadas já vai longe.
Um palhaço sozinho senta e chora.

Perdido num mar de sofrimentos.
Por trás da sua máscara risonha.
De si mesmo não consegue esconder.
Tem que fazer alguém feliz para viver.
Só uma palhaça aliviaria a dor medonha.

Oh! Como é lindo o sorriso da criança.
Um lenimento que até o faz esquecer.
Que mesmo em criança não sorria.
Quem sabe ainda possa lhe acontecer.
Encontrar sua palhaça, quem sabe um dia.

O tempo do palhaço vem de longe.
Seu céu é uma lona remendada.
Quantas vezes enquanto lhe divertia.
Com minhas palhaçadas você sorria.
Sonhei está com você na arquibancada.

Nem sempre é feliz quem está no palco.
Nem sempre é pura a água do riacho.
Lembrem da platéia na Roma antiga.
Lépidos, sorriam sacudindo a barriga.
Saudando a morte com o polegar para baixo.

Hoje também sou um gladiador.
Minha luta é pra te ver feliz assim.
Minha vitória é esse teu sorriso.
Por ele faço o que for preciso.
Enquanto eu mesmo baixo o polegar pra mim.



Saudades da minha rua
J. Norinaldo Tavares

Oh! Que saudade que sinto.
Da minha estreita rua.
Saudade da meninada.
Que brincava a luz da lua.
Por que a saudade é tão triste.
Por que a tristeza é tão crua.

Meninas brincando de roda.
Os meninos brincando na areia.
As meninas passavam o anel.
Meninos com bola de meia.
Por que a saudade é tão triste.
Por que a tristeza é tão feia.

Lembro que quando chovia.
Fazíamos barragens na rua
Uma simples lata de sardinhas.
Barco que até hoje em minha mente flutua.
Por que a saudade é tão fria.
Para onde levou as crianças e a minha rua.

Para onde foram os meninos.
Que alegre brincavam na rua.
Onde estão as meninas.
Que cantavam a luz da lua.
Por que a tristeza é tão triste.
Por que a saúdade é tão crua.


O TREM
J. Norinaldo Tavares.

A saudade é uma luz que não se apaga.
A saudade é uma dor que não tem fim.
Será que existe alguém no mundo.
Que não sinta esta dor que dói em mim.

Lá vem o trem, olha, lá vem o trem.
O mesmo trem que levou o meu amor.
Hoje traz o amor de outra pessoa.
Outro que de saudade já chorou.

Lá vai o trem, está novamente partindo.
Com certeza levando o amor de alguém.
Atrás do trem vai um rastro de saudade.
Esta serpente não tem pena de ninguém.

O trem é de ferro nada sente.
Vai e vem levando o amor da gente.
Deixando apenas mensagens de fumaça.
Como queria entender essa serpente.

O trem apitou está partindo.
Na partida sempre deixa alguém chorando
Olha! O trem está chegando, está chegando.
Chora alguém não veio quem está esperando.

Opa! Olha lá o trem chegou,
Por que será que hoje ninguém chorou
Mas, vai chorar, pois este é o trem de carga.
E sua carga é de saudade e muita dor.







O QUADRO E A PAREDE
J. Norinaldo Tavares.


Oh! Que lindo este quadro na parede.
Que primoroso artista o pintou.
Que maravilha de paisagem, que talento.
E a parede quem será que levantou?

Ah! A parede com a tinta corroída pelo tempo.
Já não brilha como há muito aconteceu.
Ninguém mais lembra do pedreiro caprichoso.
Que com as mãos calejadas a ergueu.


Quem seria o mais feliz dentre os dois?
Quem fez o quadro ou quem fez a parede?
Um pra deleite, para fama e orgulho.
Outro pra matar a fome e a sede.

Felicidade será que existe mesmo?
O artista também sente fome e sede
É feliz em sua colcha de cetim,
Assim como o pedreiro em sua rede?

O pedreiro não entende a pintura.
O artista não entende o pedreiro.
Ele pinta é chamado de pintor.
E o outro não se chama tijoleiro.

E você, entende o quadro ou a parede?
Queria ser o pintor ou o pedreiro?
O que entende você de fome e sede?
Será o segundo amigo do primeiro?

E o tijolo quem será o seu feitor?
Cada vez vai ficando mais profundo.
Será que seguindo este caminho?
Eu vou chegar a quem construiu do mundo?



A Paz Universal.


A PAZ UNIVERSAL.
J.Norinaldo Tavares


Ainda tenho a esperança que um dia.
Vou ouvir todo planeta declamar uma poesia.
Uma só voz ecoar por todo canto da terra.
Uma mensagem de amor e fraternidade.
Abominando pra sempre a triste guerra.
Todos os seres se abraçando num rito de felicidade.

Quero abraçar e beijar meu inimigo.
E convida-lo para ser meu grande amigo.
Com o coração transbordando de alegria.
Jogar bem longe a máscara da hipocrisia.
Se alguém acha que está longe esse dia.
É acreditar que Deus estará comigo.

Assim teremos um planeta mais florido.
Até o homem de coração empedernido.
Perdoará seu desafeto consternado.
Reconhecendo que o amor é o fluído.
Todo homem entenderá bem o recado.
Que há dois mil anos por Ele foi transmitido.

Ele disse que um dia voltaria aqui na terra.
Será que já voltou e sequer lhe demos atenção.
Preocupados como sempre como uma guerra.
Ou estressados por causa da inflação.
Um atentado, outra guerra em Seu nome.
Perdemos a chance de segurar sua mão.

Desta vez ele virá buscar os seus.
Aqueles que seguiram os ensinamentos.
Parece que a escolha já foi feita.
Não mudará independente de seita.
De riquezas e tesouros acumulados.
Arrependimento vai valer, sem fingimentos.

Você acredita que seu nome está na lista.
O que fez pra merecer tal privilégio.
Nunca usou o seu santo nome em vão.
Jamais foi capaz de cometer um sacrilégio.
Amou seu semelhante, coisa que Ele enfatizou.
Ou acumulou tesouros e jamais dividiu um pão?


O Rio a Estrada e a Vida.




O Rio a Estrada e a Vida.
José Norinaldo Tavares.




O Rio é uma estrada que caminha.
Enquanto eu caminho na estrada.
O Rio caminha para o mar.
Enquanto eu caminho para o nada.

Os pés feridos pelas pedras do caminho.
Sandálias rotas tristes marcas pelo chão.
Na tristeza até a dor é solidária.
Os gemidos afastam a solidão.

O Rio a estrada e o ruído dos meus passos.
Quando não houver mais marcas na estrada.
Foi o vento que apagou minhas pegadas.
A solidão não me carregou nos braços.

No fim deste caminho de tormentos.
Enfim a solidão me deixa só.
E como o rio que deixa de ser rio e vira mar.
Eu deixarei de caminhar pra virar pó.