Meninas e Espelhos.
J. Norinaldo.
O que aqui narro não é fantasia, conto ou poesia é realidade,
de um mundo que parece ser só crueldade, mas que na verdade é uma maravilha,
cada um tem o seu pincel e uma aquarela, com bastante tinta um cavalete e um
banco e na vida uma grande tela em branco; algum talento, nem todos no entanto serão virtuosos, os mais caprichosos e que
além da pintura saibam seus valores, e não se deixem levar por falsos elogios e que sigam
como rios sabendo onde chegar.
Depois de ser mar ai se torna grande, mas grande
é o mar assim como o deserto, onde um grão de areia na imensidão, somente aos
milhões poderá ser visto e reconhecido, como parte de algo belo e fenomenal. O
Mar é imenso e com certeza a maior paisagem que existe na terra, fotografado
por inteiro somente de fora dela, mas se analisarmos apenas uma gota de
orvalho, pintada com talento vira uma linda e rara tela. Assim são meninas que
não tem espelhos, que se tornam posse de quem pode tê-las, às vezes felizes
enquanto são belas, outras como as telas de quem não tem talento e já jogou
fora a sua aquarela, como mariposas lutam contra o tempo.
Algumas encontram
guarida na noite, em casas de luxo como joias raras, enquanto são caras e
agradam ao patrão terminam nas ruas em plena sarjeta, e um enterro de caridade
no final da vida, que não foi vivida foi só ilusão. Meninas da noite que ornam
as esquinas, que desaparecem sem rastros deixar, muitas nem tem nomes de tantos
nomes de guerra que já tiveram, que o verdadeiro nem conseguem lembrar. E assim como grãos de areia do
deserto, desertam da vida ainda muito cedo, por falta de um espelho e de algum
conselho, ou por puro medo da solidão que só
vão se dar conta já tarde demais.
Frustram a si mesmas quando de repente
lembram-se da família que se orgulhava tanto, de tanta beleza que não existe
mais, muitas vão vivas para a sepultura, maldizendo a vida, que continua bela,
para quem soube usar o pincel e a sua aquarela, e viu num espelho o que era
ela. A vida é uma estrada cheia de atalhos, cheia de escolhas e de decisões
assim como caros são diamantes, mas são encontrados entre simples cascalhos,
muitas vezes o que um espelho avisa, olha bem aqui o que te revelo, não como
fez Narciso ao ver-se no lago algumas se valorizam e se prezam, outras são apenas os olhos que servem de espelho para
que lago veja o quanto é belo.
Espelho, espelho meu, existe alguém mais idiota que eu, que
até evito contigo um confronto, pois sei que de belo nada tenho eu, mas com
algo alguns brilhos que separei do cascalho, posso ter nos braços, corpos
perfeitos rostos angelicais, com olhos azuis e lábios vermelhos, que encantaram
espelhos, mas não encantam mais. São seres comuns de pouco valor, quem vendem o
amor que pensam ser eterno, aos poucos descobrem que o luxo e o glamour, nada
mais são que o caminho para o inferno.
Antes de empreenderes a viagem da vida, te olha no espelho e te faz um favor, o
espelho não mente e nem tem ciúme, te mostra o que vê sem nenhum perfume, cabe
a ti colher as rosas do caminho e te perfumar, e cuidar com carinho da beleza
que o Pai te deu para desfrutar.
Não precisa tanto ser como fez Narciso que se
apaixonou pela sua imagem, é outra bobagem a soberba e a ilusão da eternidade,
na verdade a felicidade está mesmo de
verdade, onde não houver orgulho e vaidade, se és escravo da beleza, jamais
saberás o que é liberdade. Portanto é preciso ter sabedoria, usar o espelho sem
ser seu escravo, ou sua beleza não vale um centavo. Não! Não é para ti que
estou falando ou me referindo a um alguém qualquer, isto vale tanto pra você
como para qualquer homem ou qualquer mulher.
O espelho é útil, mas também destrói, quando se odeia o
ele reflete e sem refletir ao Criador se
remete, blasfêmia e insultos que nunca mereceu. Enquanto outros que se deliciam
com aquilo que veem, e que muitos creem pra sempre será, desdenham da vida e só
pensam em ser belas, até que o cinzel do tempo risca o rosto delas, uma
estranha escrita como fundas valas e não lhes dará chance nem tempo sequer... Para
decifra-las.
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