Meu Sonho.
J. Norinaldo.
Um lugar de estradas de chão, odaliscas sem véus onde crianças ainda brincam de crianças. Um lugar onde se anda a pé de guarda chuva em punho; um lugar onde os mais velhos conversam sossegados no oitão, enquanto as crianças brincam como crianças sem ouvir o que dizem os mais velhos sossegados no oitão. Um lugar onde o terreiro reserva um lugar ao jardim, e o carteiro ainda traz uma carta a alguém. Um lugar onde moças já feitas, jogam peteca no meio da rua, e a noite brincam de roda sob a luz da lua, cantando cações inocentes que não falam nas partes de outra moça nua. Um lugar onde os namorados passeiam tranqüilos, mãos dadas na praça em volta do coreto. Um lugar em que a poluição é poeira do chão que levanta com o vento. Um lugar em que seus habitantes desejam bom dia a todos que encontram. Um lugar onde uma donzela, por mais que seja bela, pode andar tranqüila. Um lugar onde alguém acha uma corrente de ouro e procura seu dono. Alguém vai dizer, não existe um lugar assim, mas existe sim, se existem os dragões dos sonhos das crianças, este lugar existe aqui dentro de mim. Não durmo uma noite sem com ele sonhar.
Na noite passada em meu sonho encontrei uma jovem tão bela, era branca e negra e havia nela, algo difícil de descrever, esquecer impossível pois não há outro igual, seu olhar. Perguntei-lhe o caminho que devia seguir para chegar ao destino, ela mostrou-me ama estrada
Florida que girava e girava e chegava outra vez aonde ela estava. Que sonho mais lindo, então meu lugar é ali, por que acordei e me encontro aqui? Entre torres de aço, onde não há abraço ou sequer um bom dia, as ruínas são novas e abrigam seus donos por castas e brasões, onde os dragões pisoteiam sem dó e os jardins viram pó que levam a outros sonhos, medonhos, sem volta, sem vida, sem moças sem véus, crianças perdidas, feridas de morte; e a sombra do oitão se foi para sempre, somente existe no meu lindo sonho.
Crianças brincando degolam crianças com vidro e cerol e até seus dragões fogem dos seus sonhos e se escondem no meu. Bem: contei o meu sonho, por que não conta o seu?
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