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segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Minha Homenagem a Linda Cidade de Itaqui, RS.


O MISTÉRIO DOS AZULEJOS
José Norinaldo Tavares

Na cidade de Itaqui no interior gaúcho, vivia a família que originou esta história.
Eram apenas três pessoas: O pai, seu Carlos Aquino Fontoura, sua esposa D. Almerinda Fontoura e o pequeno Michel, com apenas sete anos.
Seu Carlos trabalhava numa fazenda e só vinha em casa nos fins de semana, e nem sempre. D. Almerinda era lavadeira, estava sempre nas pedras do Rio Uruguai com enormes trouxas de roupas. Enquanto isto, Michel brincava na água sempre vigiado pela mãe.
Michel era um garoto muito esperto, muito curioso, estava sempre indagando sobre tudo… iria para escola naquele ano.
Havia nesta cidade uma família muito ilustre. Eram os Ferrantes e Oliveira, moravam numa casa muito grande, uma construção antiga e sem nenhuma beleza. Era um prédio retangular, com portas muito grandes e altas, tendo uma espécie de arco na parte superior.
D. Almerinda lavava para esta família. Sempre que ia buscar a roupa levava consigo o pequeno Michel.
A primeira vez que o garoto entrou naquela casa, ficou encantado com os azulejos da cozinha! Esta era uma peça muito ampla como quase tudo naquela casa, o menino não desgrudava os olhinhos da parede revestida até o teto com um lindo azulejo com cores azuis e amarelo ouro, era realmente muito bonito.
Um dia comentou com sua mãe que achava aquela parede muito bonita, que gostava de ir àquela casa, até porque as pessoas ali o tratavam com muito carinho, sempre ganhava alguma coisa, quando não era um brinquedo, era um pedaço de torta, um biscoito, mas o que o encantava mesmo eram os azulejos.
Às vezes perdiam Michel de vista e iam encontrá-lo sempre olhando para os azulejos da cozinha.
Certo dia D. Almerinda conversava com a patroa, quando lhe falou do interesse do garoto pelos seus azulejos, D. Alonia, pois este era o nome da matriarca da família olhou para Michel e disse:
-Vejo que já tem muito bom gosto meu rapaz, pois este azulejo é realmente muito raro, veio da França, foi desenhado por um verdadeiro artista, e também custou uma fortuna ao meu avô.
Outra coisa que chamava atenção naquela casa, é que não havia jovens ali, só pessoas já com certa idade, médicos, advogados, um juiz e um militar de alta patente. Ninguém ali tinha menos de 50 anos.
O tempo foi passando, Michel continuou freqüentando aquela casa, e cada vez mais se apegava àquelas paredes, sempre que chegava com sua mãe, mesmo antes de lhe servirem um lanche, D Alonia o convidava a ir até a cozinha para admirar suas paredes, ela perguntava rindo:
- E ai senhor, estão limpos seus azulejos? - Ele sorria e ficava ali de olhos grudados na parede.
- Que coisa engraçada! - Dizia ela para a mãe do menino. - Poucas pessoas têm a sensibilidade de chegar aqui e olhar da maneira como esse menino olha esta parede, estranho, não acha?
D. Almerinda acreditava que aquilo se devia ao fato do menino nunca ter visto azulejos em sua casa, quem sabe não é isto?
Mas não era. Isto ficou provado mais tarde. Três anos depois, o pai de Michel recebia uma ótima proposta para trabalhar em Mato Grosso. Aceitou e se mudaram da cidade.
Nesta época Michel estava com 10 anos, quando foram se despedir dos Ferrantes o menino teve que ser puxado da cozinha, pois parecia ser atraído por uma força estranha. Michel queria gravar fundo em sua memória a beleza dos azulejos.
O menino cresceu, seu pai melhorou de situação, ele pôde estudar, se formou, mas nunca esqueceu sua antiga paixão. Depois de adulto achou que não era certo da cabeça por não esquecer uma coisa de criança, mas a verdade é que aquilo virou uma verdadeira obsessão para o jovem. Nunca comentava nada com ninguém, mas estava sempre testando a mente para ver se ainda se lembrava da beleza daquelas peças.
Michel ganhara muito dinheiro junto com o pai plantando soja. Era agora um homem rico, estava com 30 anos e continuava solteiro. Sempre que viajava a grandes cidades como São Paulo, Michel percorria todas as grandes casas de materiais de construção, aquilo era inevitável.
Quando o rapaz tinha um tempo disponível, quase que automaticamente estava à procura desse tipo de comércio, procurava em todas as lojas mas nada de encontrar azulejos iguais, ou pelo menos parecidos. Estaria ficando louco? Pensava. Aquilo não poderia ser normal.
Preocupado, um dia procurou falar com um amigo que era psicanalista, este lhe falou em termos médicos ele quase não entendeu nada, porém ficou mais aliviado quando o amigo lhe disse que não havia nada de errado com sua cabeça.
Um belo dia Michel viu apavorado que já não tinha tanta certeza de como eram seus azulejos, puxou pela memória e nada. Aquilo para ele era terrível. Resolveu então fazer uma viagem ao Rio Grande do Sul. Queria visitar a cidade onde nascera seus pais não quiseram ir com ele de modo que uma semana depois o rapaz pegava a estrada.
Michel chegou a Itaqui de madrugada, conseguiu um hotel e dormiu até tarde do outro dia. Fazia muito frio, quando o rapaz acordou. Viu que caía uma fina chuva.
Uma hora depois ele pedia para que lhe chamassem um táxi, e saia dali dando ao motorista o endereço do solar dos Ferrantes.
Quando o carro parou no local indicado, a primeira decepção quase faz o moço chorar, pois a grande construção agora não passava de uma tapera… até pequenas árvores nasciam dentro da casa! As grandes salas eram ocupadas por alguns mendigos, muito lixo amontoado por todo lado…
O motorista, um homem já bem idoso, perguntou:
- Está certo seu endereço moço?
- Sim! - respondeu o outro - É aqui mesmo. O senhor conheceu a família que morava aqui?
- Bem, aqui morou a Família Ferrantes, mas isto há muito tempo… todos já morreram depois isto virou um empório, e tempos depois foi uma pensão, até que ficou neste estado.
- O senhor sabe a quem pertence agora? - perguntou o jovem.
- Sei! É uma firma de Porto Alegre, só não sei o nome. Ouvi por acaso uma conversa dias atrás no cartório.
- Bem eu vou dar uma olhada ai dentro!
O motorista vendo as roupas do visitante, de terno e um belo, sobretudo azul, disse:
- Moço isto ai está uma verdadeira latrina, como pensa entrar num lugar assim?
E desceu primeiro fazendo uma inspeção rápida, voltou dizendo:
- Não dá mesmo, não vai poder entrar ai.
Michel vira que quatro homens muito mal vestidos bebiam cachaça na sala da casa e pensou: - “Como pode?!” - Lembrava-se que estivera poucas vezes ali.
Via sempre um homem velho, muito branco, usava suspensórios que estava sempre sentado em uma poltrona muito bonita, geralmente lendo um jornal ou um livro, agora o que se via era umidade e mofo por todo lado, além de muita sujeira pelo chão.
- E se eu pagasse a esses homens para fazerem uma limpeza bem feita, será que eles fariam? - perguntou Michel ao motorista.
- Com certeza, quer posso falar com eles, e o senhor volta daqui a algum tempo.
- Quero sim, pode fazer isto?
- Pode deixar comigo. - Antes, porém o homem perguntou intrigado: - O senhor pertence àquela família?
- Não senhor, é uma longa e estranha história, se quiser eu lhe conto enquanto visitamos outros lugares.
- Claro que quero, se o senhor não se incomodar.
E foi falar com os homens que bebiam no gargalho de um litro de pinga, quando voltou disse: - Tudo certo! vão começar imediatamente! farão uma limpeza geral, vamos ter que lhes comprar umas vassouras, um forte desinfetante e mais algumas coisas, aqui perto há um mercado onde podemos fazer isto.
- Foram, compraram tudoe voltaram. A curiosidade de Michel não o deixou esperar. Pediu para que um dos homens desse uma olhada na cozinha para verificar se ainda estavam ali os azulejos, o homem sumiu no meio da sujeira, e o coração do rapaz mudou o compasso. Minutos depois o homem voltava anunciando:
- Ainda tem bastante azulejo moço, muito bonito por sinal.
A alegria voltou ao rosto do homem. Saíram dali e Michel até se assustou por não ter procurado primeiro a casinha onde moravam, deu o endereço e quando lá chegaram nova surpresa, lá estava ela, agora mais bem cuidada, bem pintada, um belo jardim na frente, e do lado um gramado muito bem aparado…
- Era aqui que eu morava, acho que nasci nesta casa! - e antes que o motorista lhe perguntasse por que então o interesse no velho casarão, Michel começou a lhe contar sua história. No final o homem não entendeu nada.
Voltaram ao velho solar três horas depois e os bêbados tinham feito uma bela faxina, estava tudo lavado e até o fedor de fezes havia sumido. Michel pediu para entrar sozinho na cozinha da velha casa, tinha medo de começar a chorar na frente daqueles desconhecidos. E foi o que aconteceu. Com o coração aos pulos ele ultrapassou o umbral da porta da cozinha.
Lá estavam eles, apenas os mais altos restavam, mas estavam intactos, apesar de muito sujos.
Michel viu de repente em sua imaginação, D. Alonia vestindo seu vestido longo, azul muito claro, com uma terrina de porcelana muito fina atravessando aquele local, ela sorria para ele, não conseguiu se conter e começou a chorar. Não sabia quanto tempo ficou ali com seus pensamentos, quando voltou os homens conversavam lá fora, perguntou para os homens quanto lhes devia, eles deram o preço e Michel lhes deu muito mais.
Virou-se para o motorista dizendo: - Vamos ver se descobrimos a quem pertence isto aqui, gostaria de comprar os azulejos que sobraram na cozinha.
- Amigo, poderia até ficar rodando com o senhor por ai, mas não vamos encontrar essa pessoa, portanto se o senhor quiser, posso me encarregar de arranjar alguém que lhe tire esses azulejos, com certeza ninguém vai reclamar por eles, enquanto isto o senhor pode fazer o que bem quiser o que acha?
Após recomendar o maior carinho com o trabalho, Michel concordou com o homem que disse se chamar Romeu, e pediu que o deixasse num restaurante. Como era muito cedo para o almoço, mandou que o motorista encomendasse o trabalho e voltasse ali para almoçar com ele.
Michel ficou muito feliz mesmo foi quando o homem contratado por Romeu se apresentou com uma caixa lhe trazendo 296 azulejos intactos, já limpos parecendo novos. O motorista do táxi notou a emoção daquele homem quando este segurou uma das peças, novamente lágrimas lhes desciam pela face.
Antes de regressar a sua cidade, Michel foi ao cemitério da cidade e conseguiu encontrar o túmulo daquela nobre família, viu as fotos amareladas. D. Alonia estava sorrindo! Era bem mais nova ali… como era bela!... mais uma vez não segurou as lágrimas.
Michel deixou Itaqui com seu tesouro, deixando para trás uma história que era contada pelo taxista a todos que encontrava, era incrível aquela história. Que estava apenas começando.
De posse dos azulejos, Michel começou uma verdadeira pesquisa para descobrir tudo sobre eles, agora sabia que não era louco, algo muito forte o atraía naquelas pequenas peças, não era só a beleza dos mesmos. Ele não sabia o que era, mas iria descobrir.
Numa viagem a São Paulo, levou um dos tais azulejos, colheu todas as informações possíveis, terminou num antiquário. Este, um homem muito idoso, examinou a peça e depois de um pesado silencio levantou os olhos e disse:
- Muito antigo moço, deve ter sido fabricado no século 18, o senhor já verificou se não há nenhuma inscrição atrás, sempre tem alguma coisa, muitas vezes a olho nu não se nota, mas um exame mais apurado nos revela até quem os fabricou.
Michel não havia pensado nisto, procurou saber quem poderia fazer isto e lhe indicaram o laboratório de uma grande faculdade.
Ele não perdeu tempo, e conseguiu o que queria, duas horas depois tinha o resultado da pesquisa: - Marselha, França 1834 e ainda o nome da empresa fabricante.
Michel não ficava o tempo todo procurando pistas sobre seus azulejos, porém vale dizer que qualquer tempo que tinha disponível, ou qualquer assunto que se relacionasse com o assunto, ele ia até o fim.
Através da internet começou mais uma procura, entrava em sites da França à procura da tal fábrica de azulejos, mas nada! Tempos depois conheceu um amigo virtual que prometeu ajudá-lo.
Consultou um pesquisador e descobriu um museu em Paris onde talvez o amigo elucidasse suas dúvidas. Michel, mais uma vez, não teve dúvidas. Assim que terminasse a colheita iria fazer uma viagem a Europa, aliás, um antigo sonho seu.
Meses depois o rapaz embarcava para a França, fizera um curso intensivo de francês. Chegou e ficou maravilhado com a cidade luz. Dois dias depois, após visitar o Louvre e enfim ver de perto outro sonho seu a “Mona Lisa” começou novamente sua penitência… à procura que já durava anos.
Procurou o tal museu que seu amigo informara e o encontrou. Milhares de azulejos… inclusive o seu!
Foi para uma biblioteca e ali descobriu quase tudo o que queria.
O artista que desenhara aquela peça era também o proprietário da fabrica, ali dizia inclusive que faliu por não modernizar seu produto, que por muitos anos produziu em sua fábrica praticamente aquele azulejo. Parecia uma paixão.
Descobriu também que havia pessoas daquela família que residiam em Marselha. Foi mais uma longa viagem, mas ele não se abateu, três dias depois voava para a cidade tão antiga.
Ai sua procura foi mais fácil, a família era muito conhecida na cidade, Michel não teve problemas para encontrá-la, era a família Girard Gospin.
Parte dessa família morava em uma quinta fora da cidade, porém não muito longe.
Michel alugou um carro e foi pedindo informações até que encontrou o local, muito bonito por sinal, na margem de um rio. Havia ali vários bosques muito verdes e muitas plantações que ele desconhecia, depois ficou sabendo que eram beterrabas, nunca vira tantas.
Chegou à casa indicada. Era muito grande, praticamente toda de pedras, uma espécie de chácara em nossa terra porém muito bonita. Digna de um cartão postal.
Não parecia haver alguém em casa, Michel bateu palmas, chamou e nada, ficou por ali admirando a beleza do lugar e esperando. Um cachorro muito grande latiu e apareceu… ainda bem que não era bravo.
Enquanto não aparecia ninguém, tentava fazer amizade com o animal tentando lhe descobrir a raça, no final achou que era vira-lata francês.
Menos de meia hora viu um carro que se aproximava pela estrada por onde viera, veio direto até a casa, parou e dele desceu uma moça, muito bonita: Alta, cabelos longos, vestia uma roupa grossa, pois fazia muito frio, usava luvas e botas de cano alto.
- Bom dia! - cumprimentou sorridente - Em que posso ajudá-lo? espero que não esteja esperando há muito tempo. - disse ela com bastante simpatia.
O rapaz respondeu o cumprimentou e também sorrindo lhe disse que tinha vindo de muito longe, para reclamar por esperar alguns minutos. E ainda fizera amizade com o cachorro.
- De onde veio? - perguntou ela sorrindo e mostrando uma perfeita dentadura, além de um belo sorriso.
- Do Brasil - respondeu o rapaz. A moça que se apresentou com o nome de Anne Marie fez um gesto de espanto, e depois perguntou o que fazia tão longe do seu país.
Convidou Michel a entrar, dizendo que logo seus parentes estariam ali.
Michel entrou e sentou-se, a sala era ampla e muito bem decorada, mas o que mais lhe chamou a atenção foram os retratos na parede, a maioria óleos antigos e muito bem pintados.
A moça sentou-se a sua frente e começaram a conversar, Michel foi direto ao assunto que o levara até ali. Contou toda história desde o tempo de menino, sua paixão à primeira vista pelos azulejos, depois que aquilo jamais lhe saíra da mente. A moça ouvia a tudo com muita atenção.
Depois Michel retirou de uma pasta um exemplar e passou as mãos dela, esta olhou carinhosamente para ela e disse sorrindo:
- É! isto aqui foi desenhado e fabricado pelo meu bisavô, temos aqui um verdadeiro museu dessa história, minha família já não fabrica mais nada há muito tempo, hoje não somos mais ricos, eu sou professora e moro com meu pai, minha mãe e uma tia, mas não nos queixamos de nada.
Depois de ouvir a história Anne se levantou e apontando um grande quadro pintado a óleo, disse:
- Eis aqui quem o senhor procura! - Michel deu um salto da poltrona, e nem diante da Mona Lisa se emocionou tanto. Ficou um tempão ali parado sem dizer nada, olhos fixos naquele homem… parecia conhecê-lo, mas não sabia de onde, e é claro que nunca o tinha visto, mas tinha essa nítida impressão.
- Como era seu nome?
- Jean Pierre Gospin! - o nome sim, esse não lhe representou nenhum sentimento.
Duas horas de conversa e Anne estava realmente espantada com a história do rapaz, pois segundo ele mesmo, não teria nenhum lucro com todo aquele trabalho, sua única intenção era descobrir a atração que tinha por tudo aquilo.
Chegaram às outras pessoas da casa, Michel foi apresentado, a moça contou aos parentes de onde ele tinha vindo e com que interesse como estava na hora do almoço foi convidado a almoçar com a família, não pôde recusar e após o almoço, a moça o levou a uma espécie de sótão que havia na casa, com muitas prateleiras e velhos baús.
Começava a nascer entre os dois uma gostosa intimidade, Michel começou a se sentir muito bem ao lado daquela linda moça.
Começaram suas pesquisas, velhos papéis, esboços, desenhos, anotações, e foi justamente quando a moça lhe mostrou um velho e amarelado papel escrito pelo bisavô que Michel deu um verdadeiro grito: Em português ele disse: - Meu Deus!!!! - a moça se assustou e sem entender nada perguntou – O que foi? você está bem?
O rapaz muito pálido, não conseguia falar. A moça então gritou para a mãe que subisse e levasse um copo com água, pois pelo jeito o rapaz não se sentia bem.
D. Catherine correu assustada, com a água, assim que ele a tomou, ainda levou alguns segundos para recuperar parecendo em estado de choque, o pai da moça também correu ao local, falavam todos ao mesmo tempo tentando chamar a atenção do rapaz.
Minutos depois o rapaz ainda muito pálido e tremulo conseguiu dizer: - Não pode ser! Eu estou ficando louco, agora sim, acredito nisto! não pode ser!!!
Mas não dizia o que é que não podia ser! Os outros, apreensivos, insistiam: - O que não pode ser amigo? O quê???
Com uma expressão totalmente estranha no rosto Michel apontou o papel em cima da mesa e gritou:
- Esta é a minha rubrica, tenho certeza disto, quando voltarmos ao Brasil eu lhe mostro, todos os papéis rubricados por mim. Não pode ser verdade! Não pode!!
A moça mais espantada ainda franziu a testa perguntando: - O senhor disse “quando voltarmos” ao Brasil? E olhava para mim… não vou para o Brasil amigo, apesar de ter muita vontade de conhecer seu país.
- Não sei por que disse isto, desculpe, mas saiu sem eu querer.
Viram que tinham que tirar o rapaz dali precisava se acalmar. Se necessário até chamar um médico
O que aquela família não sabia, é que tudo mudaria dali para frente, pois como Michel não tinha data para voltar a sua terra, foi ficando e sempre junto da moça, o certo é que nasceu entre eles algo muito bom, que logo descobriram que o nome era amor.
Pode parecer fantasia, mas dois meses depois Anne Marie embarcava para o Brasil para conhecer os pais do seu namorado, adorou o Brasil e os pais do rapaz. Assim que chegaram a sua casa, e como o rapaz fizera questão de trazer o papel que quase o matara de susto, ai foi a vez da bela francesa ficar sem fala por longo período, quando viu as duas rubricas lado a lado. Não havia dúvidas era a mesma.
Michel e Anne Marie se casavam nove meses depois, tinham certeza que se amavam. Para surpresa do rapaz, sua esposa lhe deu uma agradável surpresa ao pedir para passar a lua de mel em Itaqui, origem de tudo, se apaixonou pela cidade e ali quis morar.
Michel comprou o velho solar, o reformou e os azulejos voltaram ao seu antigo lugar para sua total felicidade.
Para as famílias ficou uma história de amor muito linda e para o rapaz o prémio pela sua persistência em resolver aquele dilema.
Fica-nos uma dúvida: Apenas uma grande coincidência, ou algo mais profundo por trás de tudo isto?
Depois do casamento acabou-se a obsessão do rapaz pelos azulejos, continuava agora apenas os achando muito bonitos, o que era totalmente normal.
Tempos depois dormia tranqüilamente quando teve um sonho: Era um garoto novamente e brincava com outro menino, este usava uma boina muito grande e caída para um lado. Brincavam animadamente em um belo jardim, quando ouviu a mãe do colega gritar:
- Vallery onde está você? Tudo isto em francês, e o garoto respondeu:
- Estou aqui no jardim mamãe, brincando com Jean Pierre Gospin.
Para Michel, isto elucidava tudo.

4 comentários:

daniel disse...

Meu Deus, como fechou com a questão que mais se discute, ou melhor, que mais se "deveria" discutir aqui que é sobre o Patrimônio Histórico. E, pior, ou melhor, no hotel BIASI existe uma parede com inumeros azulejos que são cobiçados por hóspedes, com carinho semelhante ao menino. Meu escritor preferido, dentro, dentro, maravilha, maravilha, vamos levar em frente esse trabalho, abraços e MUITÍSSIMOS PARABÉNS.

Lina Braga CNO disse...

Eu estava procurando fotos de itaqui!
Dai me venho o interrese de ver esta!
Eu vi que tinha um história longa, mas resolvi ler.
Gostei muito desta historia ela e bem emocionalnte!

Eu morro em itaqui!
so quero saber qual e a grande casa, e quando que aconteceu esta historia, e se exite ainda Michel?

Estevam disse...

Estive em Itaqui a dois meses e fiquei apaixonado pela cidade.Adorei o casarão do Mercado, e outras construções.
E garanto que volto...logo.
ESTEVAM

Mônica disse...

Que bela história!Impressionante e emocionante!Também gostaria de saber onde fica o casarão. Morei em Itaqui de 1976 a 1983.Tenho belas lembranças dos anos vividos em Itaqui.Colégio Santa Tereza, Clube Náutico Ipiranga, CTG, Bel-Forma, Caxeral, Club-
Caça e Pesca, nadar no Rio Uruguai! Castelão,Chimarrão no Porto vendo o pôr-do-sol mais lindo que existe Guardei no coração lindas amizades. Que delícia! Muito carinho por essa terra. Ahhh! O sotaque! Esse nunca perdi! Quem sabe um dia também vou matar a saudade...